O Peregrino, clássico de John Bunyan, ganha versão em cordel
Nossa vida terrena é transitória. Mas só alcançará o céu
quem passar pela terra
Por Ultimatoonline
É inegável o impacto da obra O Peregrino, escrita pelo
inglês John Bunyan no século 17. O livro é uma grande metáfora da vida
espiritual, apresentando um enredo no qual o leitor acompanha a jornada de
Cristão desde a sua terra natal, a Cidade da Destruição, até a Cidade
Celestial. Essa caminhada é marcada por percalços e dilemas, uma alegoria
vívida da existência.
Agora, essa magnífica história – que já foi vertida para
outras linguagens, como o cinema e o teatro – ganha uma versão rimada através
da literatura de cordel. O autor é o poeta Jénerson Alves, que também é
jornalista e professor de língua portuguesa e literatura. Com 172 estrofes, a
adaptação remete aos romances da literatura popular e busca apresentar a
história clássica por intermédio de métricas e rimas.
Segundo Jénerson, o objetivo do cordel é apontar para o livro
que lhe serviu de inspiração e reflexão. “Há obras monumentais que transformam
nossa visão de mundo. O Peregrino é uma delas. Com este cordel, minha intenção
é recontar a narrativa de uma forma lúdica”, declara.
Ultimato conversou com Jénerson a propósito do lançamento: o
relacionamento do autor com a obra, o que o inspirou e quem deve ler o cordel:
Por que o livro O Peregrino? Você tem uma história pessoal
com a obra?
O meu primeiro contato com O Peregrino foi através de um
filme, que foi exibido na igreja em uma programação com os adolescentes.
Naquela época, creio que eu tinha uns 17 anos, e fiquei muito impactado com o
enredo. As metáforas das peripécias da vida cristã lançaram luzes sobre
experiências que eu estava passando naquela fase da existência. Afinal de
contas, a adolescência é um momento repleto de turbulências, sobretudo no mundo
interior do adolescente.
Pois bem, conhecer a obra O Peregrino por meio de uma
adaptação me motivou a, alguns anos depois, debruçar-me sobre o clássico. Após
procurá-lo em muitas livrarias, finalmente o encontrei. Eu já era adulto. A
leitura me abriu os olhos para muitas questões, mas, principalmente, para a
analogia de que nossa vida terrena é transitória. Só alcançará o céu quem
passar pela terra.
Não raramente, revisito O Peregrino (seja em leituras
completas, seja em alguns trechos específicos). Em todas essas visitas, saio
com o coração repleto de esperança.
Acho que isso me motivou a tentar adaptá-lo. Mesmo
reconhecendo que, sobretudo do ponto de vista literário, Bunyan possui
qualidades de excelente magnitude.
Na escrita do cordel, houve uma parte ou personagem que mais
impressionou ou causou impacto em você?
Os personagens que compõem a obra são muito interessantes. O
fato de seus nomes serem analogias de suas personalidades me chama muita
atenção. Ao contrário do que algumas podem pensar à primeira vista, isso não os
reduz, mas os aprofunda. É como se característica e essência se unificassem –
ou, colocando em termos gramaticais, o adjetivo e o substantivo se tornassem
um.
Respondendo de forma mais objetiva, eu diria que Esperançoso
é um dos personagens que mais me impacta. Ele se mantém firme, ao lado de
Cristão, e é quem lhe concede forças e estratégias para seguir rumo à Cidade
Celestial. Não é difícil, na leitura da obra, sentirmo-nos identificados com
Cristão e entendermos Esperançoso como uma representação da esperança, que
precisa estar presente na caminhada cristã. Contudo, acredito que também seja
válido pensar que podemos “ser” Esperançoso, ou seja, podemos dedicar nossa
vida em aconselhar e encorajar outras pessoas a seguir rumo ao céu.
Quem deve ler O Peregrino: adaptação da obra de John Bunyan
em cordel?
Acredito que esta leitura seja válida tanto para quem ainda
não leu a obra clássica quanto para quem já a leu. Permita-me explicar melhor:
quem ainda não leu o livro de Bunyan, poderá sentir-se motivado a mergulhar no
clássico após ‘molhar os pés’ na adaptação. Todavia, quem já conhece a obra do
autor britânico poderá vivenciar outra experiência ao ler o cordel, que possui
um ‘sotaque’ brasileiro, devido às rimas e à metrificação heptassilábica. Neste
cordel, busquei produzir arte, assim como o texto original é artístico. E,
sobretudo, uma arte que aponta para o Pai das Artes, de modo que tenha proveito
para a vida de quem, estando na terra, almeja habitar o céu.
Conheça um trechinho do cordel
"Lancei a mão sobre a pena,
Roguei graças ao Divino,
Para inspirar-me nos versos
Do folheto nordestino
E falar um pouco da história
Progresso do Peregrino.
Livro que serve de hino
Pra glória do Rei dos reis,
Alegoria da vida
Com simbólica lucidez;
O seu autor é John Bunyan,
Que foi literato inglês.
Essa obra, o autor fez
Na cela de uma prisão,
O seu “crime” foi pregar,
Foi preso por ser cristão,
Mas quem prendeu o seu corpo
Não prendeu seu coração.
Em meio à escuridão
De uma cela feia e fria,
A luz do Espírito Santo
Sobre Ele refulgia
Se não pregava falando,
Então, Bunyan escrevia."
O cordel está disponível, na versão e-book, no site da
Amazon. O livreto impresso pode ser adquirido diretamente com o autor, por meio
do perfil no Instagram @jenersonalves.
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