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grandes mulheres que transformaram a arquitetura contemporânea
A verdade fora do filme
Eunice Paiva, matriarca de “Ainda Estou Aqui”, financiou o
aborto do próprio neto
Por
Raphaela Ribas
Eunice Paiva ao lado do marido, Rubens Paiva, e os filhos,
entre eles, Marcelo Rubens Paiva, autor do livro “Ainda Estou Aqui”, que virou
filme
Eunice Paiva, a matriarca retratada no filme “Ainda Estou
Aqui”, pagou pelo aborto do próprio neto. A revelação foi feita por Marcelo
Rubens Paiva em seu livro homônimo, que inspirou a obra nos cinemas. Segundo o
autor, sua mãe teve um papel fundamental na decisão de interromper a gravidez
de sua namorada, então com 18 anos.
“Ela nem pensou duas vezes. Não deu lição de moral, uma
dura, não reagiu emocionalmente, usou a razão, como sempre. Deu o dinheiro,
apoio, e ainda exigiu o melhor”, escreveu ele no capítulo que ficou de fora do
filme que rendeu o primeiro Oscar ao Brasil.
Marcelo começa a história tentando justificar sua decisão
afirmando que, em 1979, era um estudante do terceiro ano da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) sem dinheiro, vivendo da mesada da mãe e fazendo
pequenos trabalhos. Conforme relata no livro, “no calor de um fim de semana na
casa de praia de amigos”, eles deram “bobeada” e ela engravidou.
Segundo Marcelo, a família da jovem era “muito conservadora”
e ele pesquisou as opções (o aborto), pois queria o “melhor” para a namorada.
No seu relato, porém, a garota parece não ter voz. Não fica claro se o aborto
foi uma escolha dela ou foi coagida. Para disfarçar o procedimento para retirar
o bebê, disseram à família da namorada que fariam uma viagem.
Marcelo descobriu que havia tipos diferentes de aborto e
queria o “mais seguro”, afirma no livro. O escolhido por ele foi a sucção,
procedimento “caríssimo”, fora de seu alcance financeiro. Foi então que pediu
dinheiro à mãe, Eunice, moradora do Jardim Paulista, bairro nobre de São Paulo.
“Minha mãe era assim: não me deu uma dura por engravidar a
namorada, me deu uma força para resolver o problema”, relata no livro, tratando
o filho em gestação como um “problema”.
Aborto por sucção
Segundo o livro, o aborto foi realizado em uma clínica no
Itaim, indicada pelo ginecologista de sua mãe. “Minha mãe era machista. Topava
as maluquices e irresponsabilidades do filho homem. Não as das meninas”,
acrescenta Marcelo.
O aborto por sucção é um procedimento no qual a mulher é
sedada ou anestesiada, tem o colo do útero aberto e um tubo de vácuo (sucção) é
introduzido no útero para remover o feto.
Dr. Renato Sá, vice-presidente Sociedade de Ginecologia e
Obstetrícia do Rio de Janeiro, explica que geralmente a aspiração é feita de
uma vez, retirando o saco gestacional inteiro.
A sucção também é usada nos casos de aborto espontâneo
retido, quando o bebê morre e fica dentro do útero, ou incompleto, quando parte
dele permanece no corpo da mãe.
“Na aspiração, a mulher é anestesiada e injetado um tipo de
seringa grande, que faz o vácuo, na cavidade uterina. Em geral, é uma única
sugada, mas pode ocorrer mais de uma se precisar. Costuma ser feito até 12
semanas de gestação”, diz a ginecologista e obstetra Beatriz Barbosa.
No Brasil, o aborto só é permitido na legislação em caso de
estupro, quando a mãe corre risco de vida e, quando o bebê é diagnosticado com
anencefalia, que é a ausência parcial ou total do cérebro.
Convicção da Gazeta: Defesa da vida desde a concepção
Marcelo ainda tenta se retratar como um namorado solidário
ao trauma da companheira, escrevendo que “esperou horas num sofá”, “não dormiu”
e ficou “segurando a mãozinha dela”. Ainda de acordo com o livro, a “mãe nunca
mais tocou no assunto”.
O capítulo termina com o autor mencionando outro episódio
emblemático daquele ano. No fim de 1979, Marcelo sofreu um acidente que o
deixaria para sempre usando cadeira de rodas.
“Quando acordei na UTI, eu estava paralisado do pescoço para
baixo. Ela (mãe) ficou do meu lado. Mas aí é outro livro”, escreve em
referência à publicação “Feliz Ano Velho”, de 1982.
O livro autobiográfico narra a história do acidente que o
deixou tetraplégico. Ele bateu com a cabeça em uma pedra quando saltou em um
lago.
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