terça-feira, 15 de abril de 2025

GUERRA...

 


O Domingo de Ramos banhado em sangue: entre mísseis e desculpas

“A guerra não deveria ser feita assim, dizem. Mas desde quando a guerra moderna respeita domingos sagrados?” — Paulo Henrique Araújo

 

Na cidade de Sumy, nordeste da Ucrânia, o Domingo de Ramos não foi marcado por ramos de oliveira ou cantos litúrgicos, mas por fogo, carne e escombros. Trinta e duas pessoas mortas. Duas delas, crianças. O número de feridos ultrapassa oitenta. E o mundo, como de praxe, não sabe o que fazer além de publicar notas de repúdio e declarações melancólicas sobre o "direito internacional".

 

A cena é sempre a mesma: uma rua comum, gente indo à igreja, carros passando devagar, crianças voltando da escola... e então o clarão. Mísseis balísticos — russos — caindo sobre uma vida comum. Um massacre sem nome, sem glória, sem propósito que justifique a carnificina. Um crime, no sentido mais cru da palavra.

 

Mas a parte mais perturbadora dessa história não é apenas o ataque em si — é o esforço desesperado de alguns para explicar, relativizar ou simplesmente fingir que não aconteceu.

 

O conservadorismo seletivo e a síndrome de Estocolmo do Ocidente

 

Putin, o "defensor da cristandade" para alguns autointitulados conservadores, ordena o ataque justamente no Domingo de Ramos. E os mesmos que se arrepiam ao ver um crucifixo invertido em filmes da Netflix... silenciam.

 

Há algo profundamente doente nesse culto ao “anti-globalismo” que absolve tudo — até o massacre de civis — desde que venha de Moscou. Um conservadorismo que, para combater a revolução cultural, aceita a barbárie estatal.

Não é conservadorismo. É uma forma disfarçada de idolatria ideológica. Uma nova religião política onde o altar é russo, e o incenso é queimado com vidas humanas.

 

Trump hesita, a Casa Branca apaga o incêndio, e Zelensky continua sendo chamado de “mimado”

 

Dois dias antes do ataque, o enviado de Trump se reuniu com Putin em São Petersburgo. Quando os mísseis caíram, Trump, a bordo do Air Force One, balbuciou que “foi um erro”.

 

 

 

Foi uma declaração precipitada — compreensível no calor político —, mas que não resistiu à realidade dos fatos.

 

A Casa Branca, com prudência, repudiou oficialmente o ataque. A guerra, como se vê, desafia até mesmo os melhores planos.

 

Enquanto isso, Zelensky segue sendo ridicularizado: “mimado”, “comediante”, “garoto mimado dos globalistas”.

 

 

Poucos param para pensar no que é liderar um país invadido, bombardeado, espremido entre potências, com milhões de pessoas sob risco direto — e ainda ser acusado de buscar ajuda demais.

 

Manter uma linha de defesa ativa custa bilhões. E manter a dignidade de uma nação, então?

 

Território não é só terra. É gente. É memória. É promessa.

 

Se amanhã o Espírito Santo ou o Rio Grande do Sul fossem invadidos, quem diria: “deixa pra lá, são só estados”?

O brasileiro médio, talvez. Mas não quem entendeu o que está em jogo.

 

Não, a guerra não é feita com pétalas. Mas também não com covardia moral.

 

O massacre de Sumy não foi o primeiro. Nem o pior. Mas foi simbólico.

Porque foi um dia santo.

Porque foi um ataque gratuito.

E porque foi seguido por justificativas vergonhosas.

 

Putin segue o mesmo roteiro que vimos em Bucha: civis amarrados, queimados, assassinados, estuprados. Tudo em nome de uma “ordem alternativa”. Ou, como dizem seus adoradores mais entusiasmados, um necessário “retorno ao sagrado” — o sagrado segundo Putin e Dugin, onde o ícone ortodoxo se mistura à geopolítica e serve para justificar o açoite sobre inocentes.

 

A cruz, nesse contexto, é usada como estandarte de guerra, não como sinal de redenção.

E o incenso das liturgias orientais se mistura ao cheiro de pólvora, criando a ilusão de uma espiritualidade restauradora — quando tudo o que resta é morte.

 

Geopolítica não é linear. E o conservadorismo, se quiser continuar digno desse nome, não pode se ajoelhar diante de tiranos — nem mesmo quando eles citam os evangelhos enquanto apertam o botão de lançamento.

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