O vício da pretensão
A pretensão surge quando o desejo de ser admirado supera o
desejo de ser honesto
Por Paulo F. Ribeiro
O advento das redes sociais tem intensificado de forma
extraordinária a tentação do vício da pretensão. Alguém disse com razão que a
pretensão é a prima-irmã do orgulho, mas elegantemente vestida.
A pretensão surge quando o desejo de ser admirado supera o
desejo de ser honesto. É o orgulho lapidado, aquele que prefere parecer a ser.
Enquanto o orgulho se deleita na superioridade, a pretensão se encanta com as
aparências: uma importância emprestada, um brilho de segunda mão, uma ascensão
não conquistada, mas fingida.
Ela é tão sedutora porque oferece um atalho à autoestima:
não precisamos nos debruçar sobre o árduo esforço de compreender, se pudermos
simplesmente parecer que compreendemos. Mas ao trocarmos a sinceridade pelo
show, perdemos tanto a verdade quanto a nossa identidade.
Como escreveu C. S. Lewis em Cartas de um Diabo a seu
Aprendiz, até mesmo as virtudes podem ser distorcidas em vícios, se colocadas a
serviço do ego. Alguém pode começar a falar bem com o intuito de se comunicar,
e terminar falando de forma rebuscada apenas para ser admirado. Esse é o
declínio sutil: da integridade ao fingimento.
O antídoto para a pretensão não é pensar menos de si mesmo,
mas pensar menos em si mesmo. Não se trata de falar com mais grandiosidade, mas
com mais honestidade. Não se trata de impressionar, mas de comunicar com
verdade. Não de se destacar, mas de servir ao bem e à clareza. Essencialmente
envolve um esquecimento das nossas habilidades, evitando as armadilhas da
pretensão.
Em um mundo cheio de vozes impressionantes e influenciadores
populares o verdadeiro sinal de conhecimento reside na singeleza sincera,
aquela que fala pouco mas diz muito.
Escrevo essas palavras consciente do perigo de hipocrisia
moral como disse o apóstolo Paulo em 1 Coríntios 10.12: “Aquele, pois, que
pensa estar em pé, veja que não caia".
Sem comentários:
Enviar um comentário