sábado, 12 de abril de 2025

NOTÍCIAS...04

 

Reflexões sobre a parentalidade atípica

 

“Olharei o mundo através das lágrimas. Talvez eu veja coisas que eu não veria com os olhos secos”

 

Por Davi Daniel de Oliveira

 

Confesso que tenho uma certa desconfiança com a sabedoria popular, sobretudo aquela resumida em ditos populares. Um bem famoso de nossos dias é o onipresente “Já deu certo”. O “já deu certo” pode até ser uma frase inspiradora e uma expressão de otimismo, mas está descolada da realidade. Muitas vezes, as coisas não dão certo.

 

A parentalidade atípica tem me ensinado a lidar com meus impulsos e reações quando as coisas não dão certo. “Não dar certo” é parte inerente da nossa jornada, uma jornada que começou imediatamente com o recebimento do diagnóstico autista de meu filho. Afinal, quem “sonha” que seu filho nasça com uma condição que pode vir a limitá-lo por todos os dias de sua vida?

 

A lista de coisas que não deram certo até aqui é extensa: rupturas de tratamento devido a mudanças nas políticas dos convênios; troca de profissionais nos atendimentos (que causam muito dano ao paciente devido aos vínculos criados); dificuldades pedagógicas nas escolas que simplesmente não conseguem construir um PDI (Programa de Desenvolvimento Individual) adequado às limitações cognitivas de meu filho; rombos no orçamento da família por falta de cobertura do convênio e impossibilidade de atendimento via Sistema Único de Saúde (SUS); desencontro de informações entre profissionais que geram confusão e frustração. E por aí vai.

 

>> O que o autismo tem me ensinado <<

 

Lidar com frustrações e tristezas é parte da realidade da parentalidade atípica. Porém, no caso de nossa família, a Graça Divina sempre nos instrui a olhar para essas dificuldades como um caminho para a paz, a enxergar além. Deus, em sua infinita sabedoria, prepara situações para que possamos vê-lo mais de perto e enxergar a realidade com outras lentes. Nas palavras de Nicholas Wolterstorff, em seu livro Lamento – A fé em meio ao sofrimento e à morte: “Olharei o mundo através das lágrimas. Talvez eu veja coisas que eu não veria com os olhos secos”.

 

As aflições são inerentes à jornada de uma família com uma criança com autismo, mas a boa notícia do Evangelho é que Jesus venceu o mundo e, por isso, somos convidados a ter bom ânimo (Jo 16.33). “Ter bom ânimo” não se trata de uma postura blasé e apática diante das situações, como se ingenuamente pudéssemos simplesmente ignorar as dificuldades que nos cercam. Pelo contrário: é encarar os problemas de frente, buscando desfrutar da paz antes de receber a provisão divina. Isso é o exercer genuíno da esperança.

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