PSICOLOGIA
Lev Vigotsky: a biografia de um dos maiores pensadores da
psicologia da história
Conheça um pouco mais sobre o pensamento do psicólogo que
ajudou a formatar a educação até os dias de hoje
Se você tem familiaridade com psicologia e pedagogia,
provavelmente já ouviu falar de Lev Vigotsky, um dos mais importantes
pensadores da educação na história.
Seu pensamento é influente até os dias de hoje na educação,
servindo como base para milhares de pesquisadores na última década e sendo uma
figura central para o desenvolvimento educacional da União Soviética, país que
saiu de uma condição de analfabetismo na casa dos 70% nos anos 1920 para
marginais 1% na década de 1950.
Quem foi Lev Vigotsky?
Lev Semionovitch Vigotsky (1896–1934) foi um psicólogo
bielorrusso-soviético cujas ideias revolucionaram a pedagogia e a psicologia do
desenvolvimento.
Nascido em Orsha, no então Império Russo, formou-se em
Direito pela Universidade de Moscou em 1918, mas seu interesse pela psicologia,
arte e educação o levou a se tornar um dos principais teóricos da psicologia
histórico-cultural.
Sua obra enfatizou o papel das interações sociais e do
contexto cultural no desenvolvimento intelectual, contrariando visões individualistas
predominantes em sua época.
Vigotsky viveu durante a Revolução Russa de 1917, período
que influenciou sua integração do materialismo histórico de Karl Marx em suas
teorias.
Apesar de sua morte prematura aos 37 anos, vítima de
tuberculose, deixou um legado extenso, incluindo obras como Pensamento e
Linguagem e A Formação Social da Mente.
Sua importância para a pedagogia hoje
Vigotsky é uma referência central na educação contemporânea,
principalmente por conceitos como a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) e a
mediação simbólica.
A ZDP define a distância entre o que uma criança consegue
realizar sozinha (nível real) e o que ela pode alcançar com orientação de um
adulto ou colega mais experiente (nível potencial). Esse princípio fundamenta metodologias
como a aprendizagem colaborativa e o ensino por pares, amplamente adotados em
salas de aula.
Outro pilar de sua teoria é a linguagem como ferramenta
cognitiva. Para Vigotsky, a internalização da linguagem permite a organização
do pensamento e o desenvolvimento de funções psicológicas superiores, como
memória e atenção. Isso explica a ênfase atual no diálogo em sala de aula e no
uso de narrativas para construção de conhecimento.
Além disso, a noção de mediação por instrumentos e signos
reforça a importância de recursos pedagógicos (como livros, tecnologias e
símbolos culturais) na transformação da aprendizagem. Escolas hoje utilizam
jogos, arte e plataformas digitais como mediadores, alinhados à visão de que a
cultura molda a cognição.
Importância na pedagogia soviética
Na União Soviética, Vigotsky integrou projetos educacionais
alinhados aos ideais socialistas. Sua atuação no Instituto de Deficiências de
Moscou e no Narkompros (Comissariado do Povo para a Educação) focou na inclusão
de crianças com deficiências e na democratização do acesso ao conhecimento.
Ele defendia que a educação deveria ser coletiva e
transformadora, preparando indivíduos para atuar na construção de uma sociedade
igualitária.
Seus estudos em defectologia (área dedicada a distúrbios de
aprendizagem) foram pioneiros. Vigotsky argumentava que deficiências não eram
limitações fixas, mas desafios superáveis através de intervenções culturais e
pedagógicas. Essa perspectiva influenciou políticas públicas soviéticas, como a
criação de escolas especiais e programas de reabilitação.
Como era a pedagogia na União Soviética
A pedagogia soviética, pós-Revolução de 1917, priorizava a
formação do "homem novo" — um cidadão consciente de seu papel na
coletividade.
Projetos como fazendas coletivas, brigadas de trabalho e
cursos de alfabetização em massa visavam erradicar o analfabetismo e integrar
grupos marginalizados, como camponeses e nômades da Ásia Central.
Vigotsky contribuiu com pesquisas em regiões remotas,
analisando como a exposição a novas tecnologias e práticas sociais alterava
processos cognitivos. Apesar de inicialmente questionado, seu trabalho
posteriormente ganharia farto reconhecimento dentro e fora da União Soviética.
Seu trabalho com Alexander Luria na Ásia Central foi
decisivo para a compreensão do impacto da alfabetização nas formas de
comunicação daquelas populações.
Influência em outros pensadores
Vigotsky inspirou gerações de teóricos, dentro e fora da
URSS. Seus colaboradores diretos, como Alexander Luria (neuropsicologia) e
Alexei Leontiev (teoria da atividade), expandiram suas ideias para áreas como
neurologia e educação especial. No Ocidente, Jerome Bruner adaptou a ZDP para o
conceito de andaimento (scaffolding), base de metodologias ativas.
Na psicologia educacional, sua obra dialoga e contrasta com
a de Jean Piaget. Enquanto Piaget via o desenvolvimento como pré-condição para
a aprendizagem, Vigotsky invertia essa lógica, afirmando que a aprendizagem
impulsiona o desenvolvimento. Essa divergência ancora debates contemporâneos
sobre currículos e avaliações.
Críticos como Noam Chomsky e Steven Pinker questionaram
aspectos de suas teorias, especialmente a ênfase excessiva no ambiente.
Chomsky, por exemplo, defendeu a existência de estruturas linguísticas inatas,
opondo-se à visão vigotskiana da linguagem como produto cultural. Ainda assim,
sua relevância persiste, com aplicações em psicologia social, neurociência e
até inteligência artificial.
Legado e desafios atuais
Apesar de sua morte precoce, Vigotsky deixou um legado que
transcende fronteiras. Suas obras, traduzidas para dezenas de idiomas, são
pilares em cursos de pedagogia e psicologia.
Para muitos educadores, Vigotsky permanece um farol. Sua
defesa de uma educação mediada, socialmente contextualizada e transformadora
ecoa em práticas como a educação inclusiva e o uso de tecnologias digitais. Em
um mundo cada vez mais interconectado, suas ideias reforçam que o aprendizado
não é um ato solitário, mas uma jornada coletiva moldada pela cultura e pela
história.
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