Carta ao Sr. Barroso
Carta aberta do Instituto Lexum
*Fique, Barroso. Tenha a coragem de assistir ao fim do que
você começou.*
De todas as estratégias possíveis, a mais covarde é a fuga
disfarçada de cansaço. A história está repleta de engenheiros de ruínas que, ao
verem o castelo desmoronar, saem pela porta dos fundos, de fininho, como se
nada tivessem a ver com os escombros. Mas não, ministro Barroso — o senhor não
vai sair assim.
Sabe por quê? Porque cada rachadura no prestígio da Suprema
Corte brasileira carrega sua digital. Cada voto em que o juiz se fez
legislador, cada frase em que a moral pessoal se travestiu de princípio constitucional,
cada vez que a toga pesou mais do que o texto — tudo isso tem sua assinatura
intelectual, moldada lá nos tempos de UERJ, quando o senhor, encantado com a
living constitution, decidiu ensinar ao país que a Constituição era um romance
em construção, escrito por intérpretes iluminados. De uma linha de pensamento
ativista, porém respeitável, da tradição jurídica norte-americana, passamos a
conviver com um neoconstitucionalismo tupiniquim, com uma demão de verniz
acadêmico, mas que bem poderia ser batizado de doutrina do ‘perdeu, Mané, não
amola’.
A prometida ‘recivilização’ do país, por um autodeclarado
iluminista, se concretizou em autoritarismo galopante.
Pois bem, o romance virou panfleto. A Corte virou
trincheira. A Constituição, peça de ocasião. E agora, quando o país finalmente
percebe o que aconteceu, o senhor cogita ir embora?
Não, Barroso. Isso não seria prudente. Seria simbólico. E o
símbolo que se formaria seria implacável: o autor de uma doutrina que prometeu
redenção, mas entregou autoritarismo revestido de empáfia, agora tenta escapar
do veredito histórico.
Não como um magistrado que se despede após o serviço
cumprido — mas como quem abandona o navio ao ouvir o estalo da madeira.
Roberto Campos, ao comentar a correção monetária, confessou
ter criado um carneiro que virou um bode. Ele não se esquivou. Ele olhou para a
distorção de sua ideia original e assumiu a paternidade do monstro. Já o
senhor, quer sair de cena sem sequer reconhecer que o bode constitucional que
nos coube nos últimos anos tem os traços exatos do seu neoconstitucionalismo
messiânico.
Portanto, ministro, fique. Fique para ver a extensão da
obra. Fique para explicar a erosão da legitimidade. Fique para ouvir a crítica
dos que ainda acreditam que juízes devem julgar, não governar. Fique para
entender que o Supremo não é palanque nem púlpito.
Ou então saia.
Mas saiba: sua saída não será apenas uma aposentadoria
precoce.
“Será uma confissão.”
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