Remédios
preciosos contra as estratégias de Satanás
Por
Theo Pemberton
Cada
dia, antes mesmo de abrir os olhos, o cristão já desperta num campo de batalha
invisível. Thomas Brooks, pastor puritano do século XVII, escreveu uma das
obras mais práticas e pastorais sobre guerra espiritual: Remédios preciosos
contra as estratégias de Satanás. Seu objetivo era simples e profundo:
desmascarar as artimanhas do inimigo e oferecer, para cada cilada, um remédio
fundamentado nas Escrituras. Brooks nos lembra que Satanás é persistente em
atacar o povo de Deus, mas que Cristo e sua Palavra são mais do que suficientes
para sustentar e fortalecer os crentes em sua caminhada.
1.
Artimanhas para atrair ao pecado
Satanás
apresenta o pecado como isca, escondendo o anzol e as consequências reais do
pecado (Tg 1:14–15; Gn 3:4–6). Ele pinta o mal em virtude, chama trevas de luz
(Is 5:20; 2Co 11:14), e minimiza sua gravidade, como se fosse algo pequeno e
inofensivo (Ec 8:11; Gn 19:14). Mostra a prosperidade dos ímpios para seduzir à
descrença no juízo (Sl 73:3–5; Jó 21:7–9) e sussurra a procrastinação: “haverá
tempo para se arrepender depois” (2Co 6:2; Lc 12:19–20).
Remédio:
considerar o fim do pecado, cujo salário é a morte (Rm 6:23); deixar que a
Palavra ilumine o caminho (Sl 119:105) e fixar os olhos em Cristo, cuja cruz
revela tanto a gravidade do pecado quanto a suficiência da graça (Ef 2:8).
2.
Artimanhas para impedir deveres santos
Outra
tática do inimigo é afastar o crente da oração, do culto e da vida devocional.
Ele enche a mente de preocupações, diz que a vida de piedade é difícil e
exagerada (Mt 11:28–30; Fp 4:13), ou usa a hipocrisia alheia como desculpa para
esfriar a própria fé (Rm 14:12; Jo 21:21–22). Tenta induzir a confiar em
rituais vazios no lugar de devoção sincera (Mt 15:8–9; Jo 4:24).
Remédio:
olhar para Cristo, que torna nosso jugo suave (Mt 11:30); lembrar que Sua graça
basta (2Co 12:9) e perseverar em oração e adoração verdadeiras (1Ts 5:17–19).
3.
Artimanhas para lançar dúvidas e tristeza
O diabo
tenta enfraquecer a fé pelo desânimo e dúvidas. Ele exagera pecados passados,
levando ao desespero, como se não houvesse perdão (Sl 32:1–2; 1Jo 1:9).
Distorce as definições de fé e graça, confundindo fé com ausência de dúvidas ou
graça com sentimentos constantes (Hb 11:1; Rm 8:16). Tenta transformar a
disciplina em sinal de rejeição, quando a Escritura afirma que “o Senhor
corrige a quem ama” (Hb 12:6; Ap 3:19). Questiona a providência divina porque
nossas circunstâncias ferem nossos desejos, mas não anulam o bem eterno que
Deus opera (Rm 8:28). Ele adapta tentações ao perfil de cada crente , promessas
aos ricos, murmuração aos pobres, medo aos tímidos, presunção aos ousados,
orgulho aos instruídos, indiferença aos ignorantes (Pv 30:8–9; Is 41:10; 1Co
8:1).
Remédio:
contemplar a cruz onde Cristo disse “Está consumado” (Jo 19:30); descansar nas
promessas imutáveis de Deus (Jo 10:28–29; Rm 8:38–39); interpretar a correção
como prova de filiação (Hb 12:6) e crer que Cristo está sempre pronto a perdoar
(1Tm 1:15–16).
4.
Artimanhas para dividir os cristãos
O
inimigo semeia inveja, orgulho e mal-entendidos (Pv 6:19), ampliando diferenças
menores até que irmãos se enfrentem, e o testemunho da igreja enfraqueça (1Co
1:10).
Remédio:
cultivar humildade, estender perdão e promover amor prático; preservar a
unidade do Espírito pelo vínculo da paz (Ef 4:2–6; Cl 3:12–14; Fp 2:2).
5.
Artimanhas para promover confiança na justiça própria
Sutilmente,
Satanás nos leva a confiar em nossas obras, disciplinas ou formas externas de
culto, em vez de descansar na justiça de Cristo (Is 64:6; Lc 18:11–14). Ele inflama
o orgulho espiritual e promove comparações destrutivas, desviando o olhar da
suficiência da cruz.
Remédio:
reconhecer que toda justiça está somente em Cristo (Fp 3:9), e adorar a Deus em
espírito e em verdade (Jo 4:24).
A
relevância para hoje
Séculos
depois, as artimanhas persistem, adaptadas à nossa cultura que relativiza a
verdade e celebra a autonomia. Ainda assim, a Palavra aponta outro caminho:
Cristo é suficiente; Sua graça, abundante; Sua vitória, definitiva. Precisamos
de vigilância (1Pe 5:8–9), dependência diária do Espírito (Gl 5:16) e confiança
naquele que já venceu o maligno (1Jo 3:8; 5:4–5). Brooks conclui lembrando que
Satanás é real e ativo, mas também derrotado. O cristão deve caminhar em paz,
esperança e discernimento, certo de que em Cristo há perdão, força e vitória
final. Como Paulo nos lembra: “Graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de
nosso Senhor Jesus Cristo” (1Co 15.57).
Theo
Pemberton é administrador de empresas e economista, recentemente terminou seu
mestrado em divindade no Reformed Theological Seminary em Orlando. É membro da
Igreja Presbiteriana de Pinheiros onde serve em ministérios educacionais.
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