quarta-feira, 1 de novembro de 2017

EVA NEGRA...!



Teoria da Eva Negra reforçada
Teresa Firmino
7 de Dezembro de 2000.

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O local e a data do aparecimento do homem moderno constituiu uma das grandes discussões sobre a evolução humana. Cientistas suecos e alemães reforçam agora a teoria de que foi mesmo em África, mas a data do aparecimento continua incerta.
Quem somos? De onde vimos? Duas perguntas tão fundamentais sobre a humanidade, mas que não têm uma resposta nada fácil. Sobre a origem do homem moderno existem duas teorias em confronto: uma defende que a nossa espécie saiu de África, espalhou-se pela Terra e substituiu as outras espécies de hominídeos; a outra que aparecemos em vários locais do mundo, ao mesmo tempo e de forma independente, e que houve mistura com outras espécies. Um estudo genético publicado hoje, na revista "Nature", reforça a hipótese da origem única do homem moderno em África, continente que terá abandonado há cerca de 100 mil anos.A teoria que defende que todos os seres humanos descendem de um antepassado comum saído do continente africano chama-se "Out of Africa" - ou "teoria da Eva Negra", por ser fundamentada em estudos do património genético transmitido apenas pela mãe. A Eva Negra será, portanto, uma criatura abstracta que representa um grupo de homens que está na base de todas as populações humanas actuais. A diáspora da família humana moderna pelo mundo, ainda segundo esta teoria, levou à substituição das outras espécies, nomeadamente os Neandertais, na Europa e no Médio Oriente, e o "Homo erectus" na Ásia.A história científica da Eva Negra remonta a 1987, quando a equipa do falecido Allan Wilson, da Universidade de Berkely (Califórnia, EUA), fez o primeiro estudo de uma parte do património genético humano. Os cientistas analisaram as mutações surgidas ao longo do tempo no material genético (ADN) contido nas células dentro de estruturas que dão pelo nome de mitoncôndrias - as chamadas "baterias" da célula, por converterem os nutrientes em energia usada pela célula. Embora a grande molécula de ADN, aquela que contém a quase totalidade dos nossos genes, se encontre no núcleo das células, as mitocôndrias também têm um pequeno conjunto de genes. E, como as mitocôndrias são transmitidas da mãe para o filho (porque estão dentro do óvulo), o ADN permite traçar um percurso matrilinear e pode funcionar como relógio molecular, capaz de andar para trás no tempo, quando se analisam as suas mutações genéticas.O estudo da evolução do ADN mitocondrial ao longo de gerações permitiu a Allan Wilson identificar uma hipotética mãe universal, oriunda do "continente negro" e que, afirmou na altura, teria pertencido a uma população africana de há 100 mil a 200 mil anos.Mas, muitas vezes, os estudos sobre a evolução humana baseados no ADN mitocondrial defrontam-se com alguns problemas técnicos. Por exemplo, os investigadores só têm podido comparar certas partes desse ADN - as regiões de controlo, que constituem menos de sete por cento do genoma das mitocôndrias. Agora, cientistas suecos (da Universidade de Upssala) e alemães (do Instituto Max Planck para a Evolução Humana, em Leipzig) analisaram o ADN completo das mitocôndrias - e confirmam, num artigo na "Nature", a teoria da Eva Negra. O estudo de 53 indivíduos de diversas origens geográficas e étnicas - africanos e não africanos, como italianos, franceses, alemães, ingleses, holandeses, japoneses ou australianos - permitiu à equipa do sueco Ulf Gyllensten comparar as suas diferenças no ADN mitocondrial. Conclusão: a origem do homem moderno é africana. Blair Hedges, da Universidade Estadual da Pensilvânia, EUA, comenta na mesma edição da "Nature" este trabalho: "O resultado final é uma robusta árvore [evolutiva] com origem em África, que marca a altura do êxodo de África nos últimos 100 mil anos. Com este resultado, o pêndulo balança mais para o argumento de que o homem moderno, o 'Homo sapiens sapiens', é oriundo de África."O berço da nossa espécie parece encontrar-se, assim, na África oriental subsariana. O momento em que aí apareceram os primeiros homens modernos é que já não é tão claro: andará algures entre os 130 mil e os 465 mil anos. Os fósseis mais antigos descobertos até hoje têm 130 mil anos, ao passo que os estudos genéticos têm apontado que a separação do homem moderno de outros homens ocorreu há 465 mil anos. Talvez o homem moderno tenha surgido há uns 200 mil anos, a avaliar pelos registos fósseis.Mas, se não se sabe bem quando surgiu a nossa espécie, o momento em que abandonou África é um pouco mais claro, com base nas diferenças do ADN das mitocôndrias entre africanos e não africanos. O antepassado comum mais recente a todos os seres humanos ainda vivia em África há 171.500 anos (com uma margem de mais ou menos 50 mil anos), segundo os resultados da equipa de Ulf Gyllensten. Esses mesmos resultados indicam que os homens modernos saíram de África há 52 mil anos (com uma margem de mais ou menos 28 mil anos) - a altura estimada pela equipa, em função dos dados genéticos, para a separação entre africanos e não africanos. Mas, se o início do êxodo de África foi há 52 mil anos, isso é demasiado recente, tendo em conta outros estudos genéticos e vestígios arqueológicos do homem moderno encontrados fora de África, sublinha Blair Hedges. O êxodo, dizem esses trabalhos, terá ocorrido há uns 100 mil anos. Do lado oposto da teoria da Eva Negra está a teoria multi-regional para o aparecimento do homem moderno. Diz que surgiu em várias zonas, na Europa, na Ásia e em África, a partir do "Homo erectus" e que os Neandertais também terão contribuído para a sua origem. Considera, assim, que os Neandertais, extintos há cerca de 28 mil anos, estão entre os nossos antepassados. A descoberta do célebre homem de Java - os restos fósseis de um homem primitivo tidos como os mais velhos fósseis africanos - levou muitos cientistas a defender a emergência do homem moderno em sítios diferentes ao mesmo tempo.Não é a opinião de Blair Hedges. Porque, diz, os estudos genéticos têm sugerido que a população de homens modernos em África, muito antes de vaguearem pelo mundo, era pequena. "A maioria das provas genéticas indicam que, muito antes da recente expansão de homens modernos para fora de África, terá havido apenas 10 mil indivíduos. Uma população tão pequena é incompatível com o modelo multi-regional, que requere muitos mais indivíduos para manter o fluxo de genes entre os continentes."
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