domingo, 11 de novembro de 2018

NADA JUSTIFICA!

por Giulliana Bianconi*
| Atualizado:

As questões de gênero não são “menores”, como defenderam alguns críticos da pergunta que abordou o Pajubá, dialeto consolidado pela comunidade LGBTQ+, no primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano (realizado no dia 4 de novembro; no domingo 11 ocorre o segundo dia de provas). As questões de gênero são cotidianas e urgentes para discutir diversidade e direitos civis num país em que casamentos homoafetivos cresceram 45% em quatro anos, de acordo com as Estatísticas do Registro Civil do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esse ritmo de crescimento tende a aumentar diante do temor de que um governo conservador iminente possa vir a defender retrocessos em decisões recentes da Justiça que legitimam esse direito.
As questões de gênero também são fundamentais no debate público num país em que as mortes violentas de pessoas LGBTQ+ alcançaram número recorde em 2017 (foram 445 ocorrências, segundo o Grupo Gay da Bahia, organização que realiza esse levantamento – de forma independente – há mais de três decadas).
Dar visibilidade ao debate sobre gênero a partir do contexto de violações de direitos constatado diariamente em relatos e em evidências estatísticas é papel das instituições democráticas – incluindo aí, por que não, autarquias como o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep). Porém, inevitavelmente tratar da linguagem "específica" de uma minoria política ainda tão marginalizada como as travestis para abordar um dialeto na prova do Enem seria polêmico neste quase inenarrável 2018.
Por quê? Vamos lá: não somos uma nação que discute dialetos na fila do pão. Tampouco linguagens LGBTQ+ são atualmente consideradas em conteúdos didáticos com naturalidade. A abordagem do Pajubá na prova do Enem 2018, por mais que seja uma forma legítima de tratar a diversidade cultural, linguística e de gênero, é também uma imensa brecha para o discurso conservador bradar que a “ideologia de gênero” está se enraizando nas instituições de ensino. Pensar que neste momento pudesse ser diferente até beira a inocência.
No mais, como diretora de uma organização de mídia que tem gênero no nome, pondero ainda que o debate sobre direitos LGBT e sobre diversidade, a partir de diferentes abordagens, inclusive a partir da cultura, é necessário e urgente. Mas, uma vez que esse é um debate político antes de tudo, é imprescindível sensibilidade das instituições para evitar fatos que tirem o foco das questões centrais, que no momento ainda passam pela naturalização das violências física e institucional contra LGBTQs. Por muito menos, por um “kit gay” que jamais existiu, o discurso que venceu a eleição presidencial deste ano no Brasil conseguiu convencer muita gente – leia-se "eleitores(as)" – de que a Educação Básica caminhava para “doutrinar” estudantes. Uma questão sobre o dialeto travesti na maior avaliação educacional do país em 2018 flerta com o terreno mais que adubado da desinformação e gera “leituras equivocadas”, como definiu a presidente do Inep, Maria Ines Fini, ao lamentar a repercussão negativa da questão. O argumento de “defesa” do Inep diante da polêmica, de que a questão não é sobre o Pajubá, mas sobre dialeto no conceito mais amplo, é coerente. Mas o momento pede bem mais que coerência. Pede sensibilidade exacerbada.
*Giulliana Bianconi é jornalista e codiretora da Gênero e Número

  • NADA JUSTIFICA. NÃO FAZ PARTE DO CURRÍCULO.
  • PRECISAMOS APRIMORAR NOSSO IDIOMA.
  • CRIAR UM DIALETO. SOMOS VÁRIOS BRASIS.
  • COM A INCORPORAÇÃO DOS IMIGRANTES.
  • NÃO EXISTE DESCULPAS. PREJUDICOU OS ALUNOS
  • QUE JÁ LUTAM 03 ANOS NO COLEGIAL.
  •  IREMOS TAMBÉM INCORPORAR OS TREJEITOS?

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