origem da palavra vírus
Língua Portuguesa: qual a origem da palavra vírus?
A palavra «vírus», que infectou as nossas notícias e as nossas preocupações de há umas semanas para cá, tem uma história curiosa: vem do velhinho latim, mas, para chegar aos dias de hoje, passou pela cabeça dum holandês. Ah, e ainda andou nas mãos de Eça…
origem da palavra vírus
Marco Neves
Às vezes, uma resposta verdadeira esconde tanta coisa que quase parece mentira. É o que acontece quando dizemos que a palavrinha «vírus» tem origem latina. É verdade que tem — mas há muito mais a dizer. Afinal, não se pode dizer que tenha vindo, direitinha, do latim até ao português como, por exemplo, a palavra «lua». A «luna» latina veio pelos séculos fora, perdendo o «n» a certa altura, chegando aos nossos lábios sem grandes sobressaltos — o que se compreende, pois a Lua, essa, continuou, todas as noites, a acompanhar-nos as vidas. Ora, não aconteceu nada de semelhante com a palavra «vírus». Não veio diretamente do latim ao português. Teve uma história bem mais agitada.
Por alturas do Império Romano, «vírus» designava um veneno ou um líquido fétido de origem animal. Teria ainda outros significados, mas não estariam muito distantes dessas pouco recomendáveis acepções.



A palavra existia em latim — língua que se veio a desfazer em muitas outras línguas, uma das quais o nosso belo português. Herdámos muitas palavrinhas, bem trucidadas pelos falantes ao longo dos séculos, como sempre aconteceu e sempre acontecerá, mas deixámos para trás muitas outras, enquanto inventávamos, importávamos, misturávamos e recuperávamos outras quantas. Uma das palavras que se tornaram raríssimas até desaparecerem da boca dos falantes, com a exceção daqueles que aprendiam o velho latim clássico, foi mesmo o tal «vírus» enquanto veneno.
Entretanto, a História da Humanidade continuou a pular e a avançar. Já o latim se tinha transformado noutras línguas havia uns bons séculos, quando descobrimos, por fim, que muitas doenças eram provocadas por germes. Hoje, é difícil imaginar um tempo em que não se sabia tal coisa — mas a descoberta não é assim tão antiga (data do século XIX).