terça-feira, 18 de abril de 2023

A ESCRAVIDÃO...

 

 


A ESCRAVIDÃO E O ILAMISMO
Dionê Leony Machado
7ª. Parte
Março de 2023





01-ESCRAVIDÃO E O ISLAMISMO


A partir do ano de 1500, época do descobrimento do Brasil, ocorreu a chegada dos islâmicos no País. Em um primeiro momento, esse grupo foi formado por navegadores árabes que chegaram a terras brasileiras por meio das expedições de Pedro Álvares Cabral. Com o trabalho escravo na colônia portuguesa, diversos negros seguidores do Islã foram traficados ao Brasil, processo que ampliou a quantidade de islâmicos na nação.
Um dos feitos mais marcantes dos muçulmanos no Brasil foi a Rebelião de Libertação, na qual foi iniciada uma batalha para defender o Quilombo dos Palmares entre os anos de 1693 a 1694. Além disso, foram de extrema importância na Revolta dos Muçulmanos Haussás (1807) e, em 1835, na Revolta dos Malês, movimento de escravos de origem muçulmana com propostas radicais referentes à libertação dos demais servos africanos que também fossem muçulmanos.
Outro fator importante para o crescimento do Islã no Brasil foi a imigração de libaneses e sírios durante a realização da Primeira Guerra Mundial. Com isso, no ano de 1927, foi criada a Sociedade de Bem-Estar Palestina Muçulmana, na cidade de São Paulo. A partir de 1929, com novos adeptos do Islã chegando ao País, o nome da instituição foi alterado para Sociedade do Bem-Estar Muçulmano.
Entre outros aspectos, um fator que endossou o aumento da quantidade de muçulmanos no Brasil foram traduções confiáveis do Alcorão para o idioma português brasileiro, além da imensa quantidade de informações na internet. De acordo com informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de seguidores da religião no País é 27.000. Entre os anos de 2001 e 2011, o número de convertidos ao Islã teve crescimento de 25% na nação.
Apesar disso, algumas entidades não concordam com o número publicado pelo IBGE. Um exemplo é a Federação Islâmica Brasileira, que aponta a existência de 1,5 milhão de seguidores do Islã no Brasil. Em todo o País, estima-se que existam oitenta centros de Islã e cerca de 50 mesquitas.
As cidades de Foz do Iguaçu, Curitiba, Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo abrigam as mais populosas comunidades de muçulmanos no Brasil. Notavelmente, na já citada Foz do Iguaçu, encontra-se o maior número de adeptos da religião. Além da presença de salas destinadas à oração e templos por quase todos os outros Estados que compõe a nação, em São Paulo há aproximadamente 10 mesquitas, sendo que a mais antiga é a Mesquita Brasil, fundada no continente latino-americano a partir do ano de 1929.

Qual a influência do Islamismo no Brasil?
Embora pouca gente saiba pimenta, noz-moscada, cravo e canela que ressaltam o sabor na culinária brasileira, o uso do azeite no lugar da banha de porco e até o sagrado cafezinho são marcas da cultura árabe, uma influência que vai muito além das esfihas e quibes, totalmente incorporadas em nossa mesa.


    
Escravidão no mundo muçulmano
A escravidão no mundo muçulmano era uma prática inerente à cultura desse povo. Seus escravos provinham das diversas regiões conquistadas pelo islamismo.
A escravidão existia entre os povos árabes desde antes da ascensão de Maomé como profeta e da propagação do islamismo como religião e modelo de civilização. Entretanto, foi a partir do momento em que os árabes tornaram-se islâmicos, quando foram convertidos por Maomé, no século VII, e passaram a expandir seus domínios pela Península Arábica, Leste Europeu, Península Ibérica e o norte da África que a prática da escravidão tornou-se mais ampla e notória no mundo muçulmano.
A prática da escravidão entre os povos árabes se dava, inicialmente, por meio do mecanismo que era comum desde a antiguidade: os povos vencidos em guerras, que tinham suas propriedades pilhadas, eram tomados como escravos. Aos poucos, a escravidão passou a ser justificada pelos fundamentos do islamismo. Cristãos, caucasianos, francos, negros da região subsaariana da África e diversos outros povos eram feitos de escravos por não partilharem da crença muçulmana, sendo considerados ou idólatras (adoradores de ídolos) ou infiéis (como eram considerados os cristãos).
Os homens escravizados serviam como força de trabalho em diversas áreas. Trabalhavam tanto no campo (manejando culturas agrícolas e pastagem de animais) quanto na cidade (em locais como oficinas de artesanato, nas ruas, nos palácios e haréns e nas residências). Os serviços urbanos iam dos mais humilhantes até os postos de altos funcionários, como o cargo de vizir (aquele a quem era delegado o poder político sobre determinada região a mando de um soberano muçulmano).
Os meninos e os jovens adultos eram raptados nas guerras e recebiam treinamento militar, sendo incorporados ao exército. Dependendo de sua origem e de sua disposição de converter-se ao islamismo, eram alforriados, tornando-se clientes de seus antigos donos. Os únicos que não partilhavam dessa possibilidade de ascensão eram os escravos negros da África subsaariana, que alimentavam o tráfico de escravos empreendido também pelos berberes.
As mulheres e meninas também eram raptadas, porém com a finalidade de aprenderem a dançar, tocar instrumentos musicais e desenvolverem as habilidades necessárias para viver nos haréns dos sultões. Havia também os homens castrados, que eram comprados para servir como eunucos (auxiliares das mulheres nos haréns). Como a castração era proibida entre os muçulmanos, estes se dispunham a pagar altos preços pelos eunucos, que eram vendidos por outros povos que capturavam e castravam homens, sobretudo no Leste Europeu.
Um exemplo famoso de europeu cristão feito escravo pelos muçulmanos foi Miguel de Cervantes, autor da obra Dom Quixote, que foi preso na Batalha de Lepanto, em 1570. Especula-se que, ao longo da existência dos impérios muçulmanos, mais de 15 milhões de pessoas tenham sido escravizadas.

Por Me. Cláudio Fernandes
O legado de muçulmanos que se rebelaram na Bahia antes do fim da escravidão
Passados mais de 180 anos, antropólogos e historiadores apontam as principais heranças deixadas por negros muçulmanos nas religiões de matriz africana.

Pintura 'Negra Quitandeira', de Antonio Ferrigno; indumentária malê teria dado origem ao turbante branco usado no candomblé e na umbanda —
Salvador, 25 de janeiro de 1835. Foi num sobrado de dois andares, na Ladeira da Praça, que teve início o maior e mais importante levante urbano de africanos escravizados já registrado no Brasil. Era por volta de 1h da madrugada quando um grupo de 50 africanos, das mais diferentes etnias, ocupou as ruas da capital baiana. O levante entrou para a história como a Revolta dos Malês.
É um episódio que evidencia a importância política que os africanos de religião muçulmana tiveram na história do Brasil - com um legado pouco conhecido que perdura até hoje.
"Na Bahia de 1835, os negros que pertenciam a um dos grupos étnicos mais islamizados da África Ocidental eram conhecidos como malês", explica o historiador João José Reis, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). "O termo malê deriva de imale, que significa muçulmano, na língua iorubá", decifra o autor do livro Rebelião Escrava no Brasil - A História do Levante dos Malês em 1835.
Do velho sobrado, os rebeldes partiram em várias direções. Um grupo avançou para a Praça do Palácio, onde ficava a cadeia da cidade. Lá, os revoltosos  planejavam tomar as armas dos guardas e libertar Pacífico Licutan, o Bilal, líder malê que estava preso para pagar as dívidas de seu senhor. Os demais rebeldes enveredaram por ruas, becos e vielas, batendo nas portas e janelas das casas e convocando pessoas escravizadas e também libertas a se unirem a eles em combate. Cerca de 600 revoltosos, muçulmanos e não muçulmanos, responderam ao chamado e participaram do levante.
O plano de libertar Pacífico Licutan, porém, fracassou. Munidos de lanças, espadas e porretes, os amotinados se viram obrigados a recuar diante de policiais armados com pistolas e baionetas. Desnorteados, fugiram da cidade e pediram ajuda aos escravos do Recôncavo, o coração do escravismo baiano.
Não apenas ficaram sem o apoio como foram encurralados em Água de Meninos, local do Quartel da Cavalaria. Foi ali que se deu a batalha final. Antes do nascer do sol, 73 rebeldes já tinham tombado mortos e mais de 500 presos, explica a antropóloga Lídice Meyer Pinto Ribeiro, da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), autora do artigo Negros Islâmicos no Brasil Escravocrata.
Até os africanos que não participaram do levante de 1835 sofreram perseguição policial.
Um decreto assinado pelo chefe da Polícia, Gonçalves Martins, autorizava qualquer cidadão a dar voz de prisão a escravos, muçulmanos ou não, que estivessem reunidos em número de quatro ou mais. Reunir gente em casa, por exemplo, passou a ser terminantemente proibido.
Outra medida obrigava os senhores a "converter" seus escravos ao catolicismo. Se não o fizesse em seis meses, seriam multados. Por medo de retaliações, os muçulmanos passaram a renegar sua religião. Mais do que isso: quando não era praticada às escondidas, a religião sofria aculturação com práticas católicas. Tudo isso explica a ausência de descendentes de escravos seguidores do islã.
Muçulmanos: inimigos na África, aliados no Brasil...
"A vitória vem de Alá!", dizia o fragmento em árabe encontrado dentro de um amuleto malê confiscado pela polícia. No entanto, a tão esperada vitória não chegou. Os corpos dos 73 rebeldes mortos foram jogados em valas comuns de um cemitério local. Os mais de 500 presos foram interrogados, julgados e punidos.
As penas variavam de açoites para os escravos à deportação para os libertos. Quatro deles receberam a pena máxima: enforcamento. As autoridades mandaram construir forcas novas no Campo da Pólvora, em Salvador. Mas se esqueceram de contratar um carrasco para fazer o serviço. Na falta de um, os condenados foram mesmo fuzilados, em praça pública, por um pelotão improvisado.
Ao longo da primeira metade do século 19, muitos dos africanos muçulmanos traficados para a Bahia - em sua maioria haussás, etnia que prevalece na região hoje equivalente ao norte da Nigéria - eram soldados capturados durante um jihad, ou “guerra santa” em árabe.

Negro Muçulmano, quadro do século 19; escravos islâmicos tiveram grande relevância política na história do Brasil —
"Eles se diferenciavam dos demais por serem alfabetizados em árabe e por terem conhecimentos de matemática", explica Ribeiro.
Na África Ocidental, diversos reinos viviam em guerra no Califado de Sokoto, um Estado muçulmano fundado em 1809 pelo califa Usman dan Fodio e que ocupou um vasto território no norte da atual Nigéria. Inimigos em sua terra natal, os "prisioneiros de guerra" viraram aliados em solo baiano.
"Como eles pertenciam a diferentes etnias, o islã proporcionou a esses muçulmanos um sentimento de fraternidade. Tornou-se, portanto, um elemento civilizatório que transformou heterogeneidade étnica em homogeneidade religiosa", explica o antropólogo Juarez Caesar Malta Sobreira, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Corão
A religião islâmica foi determinante até na escolha do dia 25 de janeiro para o início do levante. Para os católicos, a data é dedicada a Nossa Senhora da Guia e faz parte da festa do Senhor do Bonfim, uma das mais tradicionais da Bahia. Mas, para os muçulmanos, naquele ano, era dia de comemorar o Laylat al-Qadr, uma das festas islâmicas que precedem o fim do Ramadã, o mês sagrado para os muçulmanos.
Para se proteger do inimigo, os guerreiros islâmicos confeccionaram amuletos com trechos do Corão escritos em árabe, como "Ajude-nos contra aqueles que rejeitam a fé!" e "Resgatai-nos desta cidade cujo povo é opressor!", em pedacinhos de papel guardados em bolsas de couro costuradas à mão. Cada talismã, acreditavam, "protegia" de uma arma: os laya contra flechas e os maganin karfe contra facas.

fragmento em árabe encontrado dentro de um amuleto malé confiscado pela polícia — Foto: Reprodução
Na Salvador de 1835, a Revolta dos Malês foi protagonizada por pessoas escravizadas que viviam em áreas urbanas, que não cortavam cana em engenhos, nem passavam a noite em senzalas. Muito pelo contrário. Desfrutavam de relativa liberdade, podiam até trabalhar fora e recebiam uma pequena quantia pelos seus serviços. Os "negros de ganho", como eram conhecidos, exerciam os mais variados ofícios: de barbeiro a artesão, de alfaiate a vendedor.
Com o que ganhavam, pagavam uma "cota" diária ao senhor. Com o que sobrava, arcavam com as despesas de comida, moradia e vestuário. "Alguns economizavam para comprar sua carta de alforria. Outros, depois de libertos, chegaram a acumular patrimônio maior que certos brancos", explica Ribeiro.
Para manter viva a crença no profeta Maomé, os malês se reuniam em lugares afastados e a portas fechadas para fazer orações, ler passagens do Corão e celebrar festas do calendário muçulmano. "Assim como o candomblé, o islã não era totalmente livre para ser praticado. Senhores de escravos e chefes de polícia tanto toleravam quanto reprimiam", observa Reis.
O artigo 276 do Código Penal de 1830, aliás, proibia "o culto de outra religião que não seja a do Estado". Mesmo assim, os alufás, nome dado aos dirigentes religiosos e que, em iorubá, significa sacerdote de Ifá, transmitiam seu conhecimento aos mais jovens. "Os adeptos do islã dedicavam as sextas-feiras, dia sagrado para os muçulmanos, à prece e à meditação. Nesse dia, usavam roupas brancas, costume islâmico que se generalizou na Bahia", observa Sobreira.
Legado malê: da religiosidade ao vocabulário e à culinária
No dia do levante de 1835, os malês saíram às ruas vestidos de abadá, espécie de camisolão folgado na cor branca. Nos autos de devassa, as autoridades policiais se referiam à bata islâmica como "vestimenta de guerra". Mas a indumentária malê não estaria completa sem o filá, espécie de gorro que teria dado origem ao turbante branco usado no candomblé e na umbanda.
A influência do povo malê na cultura popular brasileira, porém, vai além do turbante e do abadá. Segundo Reis, traços do islã podem ser notados na cultura, no vocabulário e até na culinária. Difundida no interior de Sergipe e Alagoas, a dança do parafuso ou "dança da assombração", por exemplo, seria de origem malê. Segundo a tradição, na calada da noite, os africanos se disfarçavam de fantasmas e faziam a dança para espantar os capitães do mato.
No vocabulário, o historiador cita o exemplo de "mandinga": "Dicionarizado como feitiço, o termo vem da bolsa de mandinga, amuleto muçulmano que os africanos introduziram no Brasil". Na culinária baiana, outra tradição islâmica também cruzou o Atlântico: o arroz de haussá.
Prato favorito do escritor Jorge Amado, é feito sem sal, óleo ou tempero e cozido com bastante água. Na hora das refeições, os adeptos do islã só consumiam alimentos preparados por mãos muçulmanas, não ingeriam carne de porco e praticavam jejum no Ramadã.
No aspecto religioso, o parentesco entre muçulmanos e candomblecistas também se faz presente. Na mitologia iorubá, Obatalá é o nome dado ao deus supremo, "aquele que fecunda", abaixo apenas de Olorum, o criador do universo. No sincretismo brasileiro, ganhou o nome de Oxalá ou Orixalá, orixá associado à figura de Jesus Cristo.
O historiador José Antônio Teófilo Cairus, da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), aponta outra hipótese para a origem etimológica do nome Oxalá: a expressão árabe Insha'Allah, que significa "se Deus quiser".
A antropóloga Lídice Ribeiro dá outras pistas da associação entre as duas religiões: o símbolo da meia-lua atrelado aos orixás, a substituição do colorido das vestes africanas pelo branco das roupas islâmicas e até a prática ritual de tirar os sapatos antes das reuniões. "Apesar das perseguições, o islã negro continuou presente no Brasil até os dias de hoje", diz.

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