domingo, 14 de julho de 2024

REFLEXÃO...01

 

Alexandre Garcia: Dengue e covid

"Por que tratamos a dengue com obsequioso recato, depois de termos sido capazes de apavorar as pessoas com o vírus covid-19?", indaga o jornalista

  

Joinville vai começar a usar bactéria wolbachia no combate à dengue -  (crédito: EBC)

Joinville vai começar a usar bactéria wolbachia no combate à dengue - (crédito: EBC)

Por que a dengue não tem o ibope da covid? Em dezembro de 2021, 172 milhões de brasileiros, segundo o Ministério da Saúde, já haviam recebido duas doses da vacina experimental — 80% da população. Agora temos a dengue, uma dolorosa doença que já matou 4 mil brasileiros, no mínimo, e fez sofrer 6 milhões. Ainda podem ser atribuídas à dengue mais 3 mil mortes, elevando a perda a 7 mil vidas.

 

 

Os números atuais são recordistas na história da dengue no Brasil. No entanto, ao que se sabe, importamos apenas 6 milhões de doses, o que dá para 3 milhões de brasileiros, ou menos de 1,5% da população. Enquanto a dengue é nossa velha conhecida, a covid chegou envolta em mistério e foi fácil gerar pânico. A dengue, de prevenção relativamente óbvia, e com vacina testada e pronta, parece não receber a atenção daqueles que já usaram de todos os meios para apavorar a população contra o vírus que seria proveniente de morcego.

 

O morcego assustou mais que o mosquito. O bom e velho fumacê expulsa o mosquito da dengue, mas se evaporou. As equipes de saúde que combatiam a febre amarela de casa em casa sumiram. Campanhas sobre água parada em lixo, nos quintais e vasos de apartamento foram esquecidas. E a vacina foi comprada em quantidade insuficiente.

 

A cada ano fica pior. Basta olhar o gráfico de mortes, que vem subindo, inclusive no Distrito Federal, que é o campeão, vindo depois estados como Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Goiás, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. E diz o Índice de Progresso Social que Brasília é o melhor lugar do Brasil. Pelo jeito, também para o mosquito. Que progresso social é esse em que somos incapazes de impedir a perigosíssima dengue hemorrágica?

 

Sem procura

O pior é que a pouca vacina que está disponível não tem sido procurada, depois da frustração do experimento da Pfizer, que além de não ser eficaz na imunização e contágio, ainda vem com consequências que assustam. A vacina do Instituto Butantan contra a dengue, que está na última fase de teste, se mostra eficaz e segura, em dose única. Mas precisa completar neste mês os cinco anos de testes com 17 mil voluntários. Depois, esperar pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela produção em massa. Só no ano que vem. Por enquanto, temos uma tetravalente aprovada na Indonésia, na União Europeia e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em duas doses.

 

Então, cabe a pergunta: por que tratamos a dengue com obsequioso recato, depois de termos sido capazes de apavorar as pessoas com o vírus covid-19? Ao se comparar a campanha no governo Bolsonaro e a discrição dengosa no governo Lula, parece evidente que, também nas epidemias, aplicam-se as diferenças de tratamento que temos observado no Judiciário. Não se trata de uma enfermidade desimportante.

 

Os que tiveram dengue, nos fazem relatos terríveis — a dengue hemorrágica é ainda pior. Mas não é justo para a população que ela seja usada. por motivos políticos, em campanhas e em omissão de campanhas, que dependem de quem está no governo.

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