C.S. Lewis e as eleições
Por Paulo Ribeiro
C.S. Lewis não escreveu extensivamente sobre eleições ou
política da mesma forma que abordou questões teológicas e morais. No entanto,
por meio de suas várias obras e cartas, ele ofereceu insights sobre democracia,
sistemas políticos e a natureza do governo, o que nos ajuda a entender sua
perspectiva sobre as eleições.
Aqui estão algumas das principais ideias que refletem o
pensamento de Lewis sobre eleições e democracia:
1. Ceticismo em relação ao poder
Lewis era profundamente cético em relação à concentração de
poder em qualquer forma. Ele acreditava que os seres humanos, devido à sua
natureza caída, eram propensos à corrupção quando dotados de autoridade sem
limites. Esse ceticismo se estendia tanto a regimes autoritários quanto a
governos democráticos que extrapolam seu poder. Em seu ensaio
"Igualdade", Lewis argumentou que a democracia, com seu sistema de
eleições e freios e contrapesos, era necessária não porque todos fossem
igualmente capazes, mas porque a natureza humana é inclinada ao egoísmo e à
corrupção. As eleições, em sua visão, são uma maneira de impedir que uma única
pessoa ou grupo adquira poder excessivo.
"Sou um democrata porque acredito na Queda do Homem.
Acho que a maioria das pessoas é democrata pelo motivo oposto. Grande parte do
entusiasmo democrático vem da ideia de que a humanidade é tão sábia e boa que
todos merecem uma parte no governo. A verdadeira razão para a democracia é
exatamente o oposto. A humanidade é tão caída que nenhum homem pode ser
confiado com poder irrestrito sobre seus semelhantes."
Lewis apoiava a democracia não por uma crença idealista na
natureza humana, mas como uma salvaguarda necessária contra a tirania. As
eleições, portanto, eram uma parte essencial desse processo democrático porque
distribuíam o poder e evitavam que uma pessoa ou grupo governasse sem controle.
2. Os limites das soluções políticas
Lewis frequentemente expressava certo nível de desilusão com
a política como meio de resolver os problemas mais profundos da humanidade. Em
Cristianismo Puro e Simples e outras obras, ele argumentou que as questões
morais e espirituais estão no cerne dos conflitos e sofrimentos humanos, e que
nenhum sistema político — seja democrático, autoritário ou outro — poderia
resolver esses problemas fundamentais. Embora eleições e sistemas políticos
sejam importantes para organizar a sociedade, Lewis acreditava que eles nunca
poderiam fornecer soluções definitivas para as falhas humanas.
Ele também advertia contra colocar muita esperança em
líderes políticos ou sistemas, uma vez que os seres humanos são falhos e
suscetíveis a decepções. Lewis via as eleições como parte do processo político,
mas não como a fonte definitiva de salvação ou de melhoria social.
3. O perigo de a política se tornar uma religião
Lewis estava preocupado com a tendência de as pessoas
tratarem a política e as ideologias políticas como questões supremas, quase
como uma religião. Ele via isso como perigoso porque substituía o verdadeiro
objeto de adoração humana — Deus — por um sistema político falível e
temporário. Em A Abolição do Homem e Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, ele
advertiu contra transformar causas políticas em ídolos, o que pode levar as
pessoas a depositarem demasiada fé em líderes políticos, partidos ou
ideologias.
Para Lewis, as eleições faziam parte da mecânica necessária
da governança, mas ele alertava contra vê-las como a fonte de significado ou
moralidade última. Ele acreditava que os cristãos deveriam se engajar na
política com humildade, reconhecendo que nenhum sistema político pode atender
completamente às necessidades mais profundas do coração humano.
4. O papel dos cidadãos em uma democracia
No pensamento político de Lewis, há também uma
responsabilidade implícita colocada sobre os cidadãos. Como a democracia
depende das eleições, também depende do engajamento moral e intelectual de seus
cidadãos. Em seus escritos, Lewis frequentemente enfatizava a importância da
educação moral e da formação de um caráter virtuoso. Para que as eleições e a
democracia funcionem bem, os cidadãos precisam ser informados, moralmente
conscientes e capazes de autogoverno.
Ele não parecia acreditar que as eleições ou a democracia,
por si só, garantissem um bom governo; em vez disso, elas exigiam uma população
virtuosa e engajada. Sem isso, até mesmo sistemas democráticos poderiam se
corromper ou se tornar ineficazes.
5. Liberdade e responsabilidade moral
Lewis valorizava a liberdade, que as eleições em uma
democracia ajudam a preservar, mas acreditava que a liberdade deveria ser usada
de maneira responsável. Em Deus no Banco dos Réus, Lewis argumentou que, embora
a democracia e as eleições forneçam liberdade contra a tirania, elas também
impõem um dever aos indivíduos de agir moralmente e com sabedoria dentro dessa
liberdade.
Ele acreditava que a verdadeira liberdade era encontrada
vivendo de acordo com a vontade de Deus, e que as liberdades políticas (como o
direito ao voto) deveriam ser vistas como oportunidades para buscar justiça e o
bem comum, e não como fins em si mesmas.
Conclusão
As visões de C.S. Lewis sobre eleições podem ser
compreendidas através de suas perspectivas mais amplas sobre democracia, poder
e natureza humana. Ele apoiava as eleições como uma salvaguarda contra a
corrupção que vem com o poder concentrado, mas era cauteloso em colocar
demasiada fé em sistemas políticos ou líderes. Para Lewis, embora as eleições
fossem importantes, eram secundárias em relação às questões morais e
espirituais mais profundas que governam a vida humana. Sua postura cautelosa
sobre a política nos lembra que as eleições e os sistemas políticos são
ferramentas, e não fontes definitivas de esperança ou redenção.
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