23 traduções para um poema
de Emily Dickinson (1830-1886), por Matheus Mavericco
22/02/2018sergio macielaíla de oliveira gomes, abgar renault, adalberto müller, andré vallias, augusto de campos, emily dickinson, emmanuel santiago, guilherme gontijo
flores, idelma ribeiro faria, ivan eugênio da cunha, josé lino grünewald, josé lira, kleiton muniz, matheus mavericco, nelson ascher, pedro almeida, pedro mohallem, poesia inglesa, rubens enderle, wagner schadeck Deixe um comentário
Com Emily
Dickinson as coisas não funcionavam bem no sentido de sentar pra, digamos,
escrever um livro de poemas ou entupir um com o que se tem à mão. Para quem
publicou em vida só sete dos mais de dois mil que escreveu, é possível que a
graça estivesse noutra coisa que não o amontoado retangular de celulose.
Tomemos o
caso daquele que começa com “A word is dead”. Curiosamente, sua primeira
aparição foi em prosa, na parte final de uma carta enviada em 1872 para Louisa
e Fannie Norcross, duas parentes da autora:
“Thank you for the passage. How long to live the truth is! A word is
dead when it is said, some say. I say it just begins to live that day.”
Thomas H.
Johnson, um dos primeiros a tentar publicar Emily Dickinson mantendo a
radicalidade de sua escrita, diz não saber ao certo se o trecho seria uma
espécie de pós-escrito à carta ou se excerto de alguma outra. Dúvida que talvez
explique o motivo do poema ter sido estampado em prosa quando era prática comum
da autora transcrever poemas seus no corpo das cartas.
Uma
segunda explicação reside, conforme informado por Adalberto Müller (nota
abaixo), no fato de que o manuscrito da carta não existe. É quando entra uma
segunda, escrita de Frances Norcross a Mabel Todd, onde a primeira transcreve o
poema dispondo-o em quatro versos, exatamente como Adalberto traduz. Ora: se
nossa amiga Frances o tratou como poema, e se ela era conhecida de Dickinson,
então maravilha, tratemo-lo como tal.
O que ele
tem a nos dizer? Sua simplicidade e concisão são admiráveis. Se por um lado
tendemos a dizer que a palavra cai morta assim que sai da boca, quase como se a
descartássemos,como
e a expelíssemos, por outro, seguindo o argumento do poema, é precisamente
quando ela é dita que ela passa a viver. Mas que vida é essa a que Dickinson se
refere? Todas as palavras do meu texto são assimiladas pela inteligência do
leitor, passando, agora, a fazer parte de seu repertório. Ou seja: a partir do
momento em que a palavra alcança o outro, a partir do momento em que ela é
dita, ela passa a viver em outras pessoas. Não é o que acontece quando, numa
briga de casal, um dos lados retira das cinzas uma única expressão ou um
simples tom de voz de semanas atrás?Segundo Richard Sewall, um dos seus melhores biógrafos, o métod
undo Richard Sewall, um dos seus melhores biógrafos, o
método dickinsoniano consistia n“a intensificação, ou concentração, de
significados nas palavras até que reluzissem ‘como nenhuma outra safira’ – ou
seja, até que se tornassem, em mútuo suporte e combinação, a Palavra, um poema
que pudesse ‘morar em nós’, vivo, uma fusão corpórea entre o significado e
(como na vida humana) o mistério”. O autor compara o método a quando Emerson,
no ensaio The Poet, diz que “Não há
necessidade que um poema seja longo. Toda palavra já foi um poema.”
Matheus Mavericco* * *
A word is dead
When it is said,
Some say.
I say it just
Begins to live
That day.
F278B / J1212
Quando é dita –
Dir-se-ia –
Pois eu digo
Que ela nasce
Nesse dia
(Trad. Aíla de Olveira Gomes)
§
Uma palavra morreQuando falada
Alguém dizia.
Eu digo que ela nasce
Exatamente
Nesse dia.
(Trad. Idelma Ribeiro Faria)
§
Palavra é morta
Quando está dita,
Dizem uns.
Digo: inicia
A só viver
Em tal dia.
(Trad. José Lino Grünewald)
§
Morre a palavraquando é falada,
dirão.
Digo: – Só então
ela começa a
viver.
(Trad. Abgar Renault)
§
Uma palavra morreao ser pronunciada
é o que se diz
(flor que se cumpre sem pergunta)
Digo que é nesse ………….exato dia
que ela começa ………….a viver
(versão de José Lira)
§
A palavra morreQuando ocorre,
Se dizia.
Eu digo que ela
Se revela
Nesse dia.
(Trad. Augusto de Campos)
§
Palavra expressa
Extingue e cessa,
Se dizia.
Mas se ela dá-se,
Digo que nasce
Em tal dia.
(Trad. Matheus Mavericco)
Quanto se expresse
— Dizem — perece
Depressa.
Eu — discordando —
Digo — isso é quando
Começa.
(Trad. Nelson Ascher, 1a versão)
22/02/2018sergio macielaíla de oliveira gomes, abgar renault, adalberto müller, andré vallias, augusto de campos, emily dickinson, emmanuel santiago, guilherme gontijo
flores, idelma ribeiro faria, ivan eugênio da cunha, josé lino grünewald, josé lira, kleiton muniz, matheus mavericco, nelson ascher, pedro almeida, pedro mohallem, poesia inglesa, rubens enderle, wagner schadeck Deixe um comentário
A word is dead
When it is said,
Some say.
I say it just
Begins to live
That day.
When it is said,
Some say.
I say it just
Begins to live
That day.
F278B /
J1212
§
Uma
palavra morre
Quando é dita –
Dir-se-ia –
Pois eu digo
Que ela nasce
Nesse dia
Quando é dita –
Dir-se-ia –
Pois eu digo
Que ela nasce
Nesse dia
(Trad.
Aíla de Olveira Gomes)
§
Uma
palavra morre
Quando falada
Alguém dizia.
Eu digo que ela nasce
Exatamente
Nesse dia.
Quando falada
Alguém dizia.
Eu digo que ela nasce
Exatamente
Nesse dia.
(Trad.
Idelma Ribeiro Faria)
§
Palavra é
morta
Quando está dita,
Dizem uns.
Digo: inicia
A só viver
Em tal dia.
Quando está dita,
Dizem uns.
Digo: inicia
A só viver
Em tal dia.
(Trad.
José Lino Grünewald)
§
Morre a
palavra
quando é falada,
dirão.
quando é falada,
dirão.
Digo: –
Só então
ela começa a
viver.
ela começa a
viver.
(Trad.
Abgar Renault)
§
Uma
palavra morre
ao ser pronunciada
é o que se diz
ao ser pronunciada
é o que se diz
(flor
que se cumpre
sem pergunta)
sem pergunta)
Digo que
é nesse
………….exato dia
que ela começa
………….a viver
………….exato dia
que ela começa
………….a viver
(versão
de José Lira)
§
A palavra
morre
Quando ocorre,
Se dizia.
Eu digo que ela
Se revela
Nesse dia.
Quando ocorre,
Se dizia.
Eu digo que ela
Se revela
Nesse dia.
(Trad.
Augusto de Campos)
§
Palavra
expressa
Extingue e cessa,
Se dizia.
Mas se ela dá-se,
Digo que nasce
Em tal dia.
Extingue e cessa,
Se dizia.
Mas se ela dá-se,
Digo que nasce
Em tal dia.
(Trad.
Matheus Mavericco)
§
Quanto se
expresse
— Dizem — perece
Depressa.
Eu — discordando —
Digo — isso é quando
Começa.
— Dizem — perece
Depressa.
Eu — discordando —
Digo — isso é quando
Começa.
(Trad.
Nelson Ascher, 1a versão)
§
Palavra
expressa
dizem que cessa
sem vida.
Dela, porém,
digo: é recém-
-nascida.
dizem que cessa
sem vida.
Dela, porém,
digo: é recém-
-nascida.
(Trad.
Nelson Ascher, 2a versão)
§
Palavra
expressa,
dizem que cessa
depressa.
Eu, discordando,
digo que é quando
começa.
dizem que cessa
depressa.
Eu, discordando,
digo que é quando
começa.
(Trad.
Nelson Ascher, 3a versão)
§
DAS
PALAVRAS
“Morrem
após
calar-se a voz”,
ouvi.
Penso, porém,
que nascem bem
ali.
calar-se a voz”,
ouvi.
Penso, porém,
que nascem bem
ali.
(Trad.
Pedro Mohallem, 1a versão)
§
DA
PALAVRA
“Perece
após
calar-se a voz”,
dizeis.
Digo, porém,
que viva enfim
se fez.
calar-se a voz”,
dizeis.
Digo, porém,
que viva enfim
se fez.
(Trad.
Pedro Mohallem, 2a versão)
§
Palavra
morre
Se lhe ocorre
Ser dita.
Eu não concordo,
Se desse modo
Se agita.
Se lhe ocorre
Ser dita.
Eu não concordo,
Se desse modo
Se agita.
(Trad.
Emmanuel Santiago, 1a versão)
A word is dead
When it is said,
Some say.
I say it just
Begins to live
That day.
When it is said,
Some say.
I say it just
Begins to live
That day.
F278B /
J1212
§
Uma
palavra morre
Quando é dita –
Dir-se-ia –
Pois eu digo
Que ela nasce
Nesse dia
Quando é dita –
Dir-se-ia –
Pois eu digo
Que ela nasce
Nesse dia
(Trad.
Aíla de Olveira Gomes)
§
Uma
palavra morre
Quando falada
Alguém dizia.
Eu digo que ela nasce
Exatamente
Nesse dia.
Quando falada
Alguém dizia.
Eu digo que ela nasce
Exatamente
Nesse dia.
(Trad.
Idelma Ribeiro Faria)
§
Palavra é
morta
Quando está dita,
Dizem uns.
Digo: inicia
A só viver
Em tal dia.
Quando está dita,
Dizem uns.
Digo: inicia
A só viver
Em tal dia.
(Trad.
José Lino Grünewald)
§
Morre a
palavra
quando é falada,
dirão.
quando é falada,
dirão.
Digo: –
Só então
ela começa a
viver.
ela começa a
viver.
(Trad.
Abgar Renault)
§
Uma
palavra morre
ao ser pronunciada
é o que se diz
ao ser pronunciada
é o que se diz
(flor
que se cumpre
sem pergunta)
sem pergunta)
Digo que
é nesse
………….exato dia
que ela começa
………….a viver
………….exato dia
que ela começa
………….a viver
(versão
de José Lira)
§
A palavra
morre
Quando ocorre,
Se dizia.
Eu digo que ela
Se revela
Nesse dia.
Quando ocorre,
Se dizia.
Eu digo que ela
Se revela
Nesse dia.
(Trad.
Augusto de Campos)
§
Palavra
expressa
Extingue e cessa,
Se dizia.
Mas se ela dá-se,
Digo que nasce
Em tal dia.
Extingue e cessa,
Se dizia.
Mas se ela dá-se,
Digo que nasce
Em tal dia.
(Trad.
Matheus Mavericco)
§
Quanto se
expresse
— Dizem — perece
Depressa.
Eu — discordando —
Digo — isso é quando
Começa.
— Dizem — perece
Depressa.
Eu — discordando —
Digo — isso é quando
Começa.
(Trad.
Nelson Ascher, 1a versão)
§
Palavra
expressa
dizem que cessa
sem vida.
Dela, porém,
digo: é recém-
-nascida.
dizem que cessa
sem vida.
Dela, porém,
digo: é recém-
-nascida.
(Trad.
Nelson Ascher, 2a versão)
§
Palavra
expressa,
dizem que cessa
depressa.
Eu, discordando,
digo que é quando
começa.
dizem que cessa
depressa.
Eu, discordando,
digo que é quando
começa.
(Trad.
Nelson Ascher, 3a versão)
§
DAS
PALAVRAS
“Morrem
após
calar-se a voz”,
ouvi.
Penso, porém,
que nascem bem
ali.
calar-se a voz”,
ouvi.
Penso, porém,
que nascem bem
ali.
(Trad.
Pedro Mohallem, 1a versão)
§
DA
PALAVRA
“Perece
após
calar-se a voz”,
dizeis.
Digo, porém,
que viva enfim
se fez.
calar-se a voz”,
dizeis.
Digo, porém,
que viva enfim
se fez.
(Trad.
Pedro Mohallem, 2a versão)
§
Palavra
morre
Se lhe ocorre
Ser dita.
Eu não concordo,
Se desse modo
Se agita.
Se lhe ocorre
Ser dita.
Eu não concordo,
Se desse modo
Se agita.
(Trad.
Emmanuel Santiago, 1a versão)
§
Palavra
morre
Se, diz-se, ocorre
Ser dita.
Eu já diria
Se, diz-se, ocorre
Ser dita.
Eu já diria
Se agita.
(Trad.
Emmanuel Santiago, 2a versão)
§
Palavra
morre
Se dita, alguém
Dizia.
Mas, para mim,
Só ganha vida
Tal dia.
Se dita, alguém
Dizia.
Mas, para mim,
Só ganha vida
Tal dia.
(Trad.
Emmanuel Santiago, 3a versão)