PEREGRINO ENCONTRA CAPITÃO NO ALVORADA. BOLSONARO NÃO É MITO
A trajetória de Jair Messias
Bolsonaro rumo à presidência da República possui todos os ingredientes
de uma odisséia alucinante. Esfaqueamento, execração pública e
vasculhamento da sua privacidade, uma das maiores blitz midiáticas da
história nacional para detê-lo e outros tantos reveses. Uma cruzada que,
sem a menor sombra de dúvida, garantiu ao candidato do PSL um lugar de
destaque na democracia brasileira, mesmo antes de assumir o poder.
Maior, no entanto, do que a toxina dos algozes foi o amor inabalável dos
seus eleitores por sua personalidade inegavelmente controversa. As
batalhas das redes sociais, a militância dos movimentos em torno da
candidatura Jair Bolsonaro, revelaram uma solidariedade destemida, capaz
de até mesmo chegar às vias de fato para defender uma espécie de
justiceiro do Brasil.
Todos esses fatos não fazem de Bolsonaro
um mito. Tampouco as suas respostas espirituosas que deixavam perplexos
entrevistadores desavisados. Na opinião de Werner Jaeger, ao analisar a
Odisséia de Homero, o grande poeta evocava os mitos da Hélade, tendo em
mira assinalar em Ulisses, a idéia de uma conduta universal presente em
cada ato daquele herói. O mito e os seus princípios perenes serviam para
identificar a nobreza e não o contrário, isto é, o herói não se
mitifica, mas o mito faz o herói. Ulisses como Bolsonaro são homens
cheios de nuances e pecados, cercados de complexidade, nada retilíneos,
asperezas e rudezas intercalam-se às suas doçuras e bravuras. Não são
assim os homens? Apenas a mente sitiada por ideais infantis não é capaz
de compreender a natureza humana para além da caricatura mordaz, seja
ela positiva ou negativa. E por esta razão, as análises de muitos
partidários e adversários de Bolsonaro são tão reducionistas, rasas a
respeito de um dos maiores fenômenos eleitorais da história recente das
democracias modernas. Não é exagero. Acompanhe o restante do artigo e
tire as suas conclusões pois é justamente o fato de Bolsonaro não ser
mito que se pode entender a tsunami em torno da sua candidatura.
Alguns atribuem mais ao antipetismo a
vitória de Jair Bolsonaro do que aos seus méritos propriamente. Há quem
diga inclusive, no afã de explicar o fenômeno da ascensão do
“ultra-conservadorismo” brasileiro, que foi o PT que criou o “coiso”. Em
outras palavras, a pilhagem petista ao Estado gerou o antipetismo na
população que, por seu turno, como por geração espontânea, deu à luz o
bufão fluminense. No entanto, Bolsonaro também gerou o antipetismo e deu
voz a milhares que como ele se decepcionaram com a gestão do partido de
Lula. Esses processos se retroalimentaram vezes sem conta ante as
barbas dos vermelhos.
Comparam o caminho percorrido por
Bolsonaro ao charlatanismo de Fernando Collor de Mello, ao populismo de
Donald Trump, à revolta de Hitler e ao voluntarismo de Mussolini.
Compará-lo a Collor pretere-se o fato de que o caçador de marajás é
filho das elites brasileiras, sócio e amigo da grande imprensa que o
promoveu a todo instante. Bolsonaro não. A Globo, Veja, Folha de São
Paulo, Estado de São Paulo, enfim toda a grande mídia se juntou contra
ele para eleger o candidato de cujo partido sempre acusou a imprensa
nacional de boicotar a esquerda. Quanto a Trump, Bolsonaro jamais contou
com a história e o aparato impressionante de um Partido Republicano e a
sagacidade de jogador de cassino daquele político americano. Bolsonaro
não é eloquente. Tem a língua presa, raciocínio curto e queimou mais do
que podia os seus cacifes antes e durante a campanha com falas e
estratégias equívocas. Se tivesse 5% da fala eletrizante de Mussolini
teria ganho as eleições com mais de 70%. Hitler arrebatou com seu
discurso sindicatos, igrejas e os empresários, em um jogo midiático sob a
liderança de Goebbels. Bolsonaro contou com um equipamento tosco,
caseiro, uma piada feita de gambiarras sujas de manteiga e de leite
condensado. Ele não é mito, mas no seu coração palpitava o mito. Eis a
força de uma bomba de nêutrons, subestimada por todos, até por
Bolsonaro.
O dado concreto é que Bolsonaro se fez
como um modesto parlamentar, à margem do Congresso brasileiro. Sem a
menor instrução política e preparo se viu cercado por um covil de
cobras. Restou-lhe as bravatas. Tornou-se figura quixotesca lutando não
contra moinhos de vento mas contra engrenagens imperiais de poder.
Desconhecendo as táticas da esquerda, usou sua voz moralista
anti-institucional para pavimentar o caminho do Lulopetismo. Sim,
assista logo abaixo à entrevista na íntegra de 1999, que Haddad usou
parte dela para atacá-lo, mas que o rude Bolsonaro declara seu apoio e
admiração a Lula, a quem chama de sincero e honesto. Era um empolgado
estatista contra as políticas de abertura econômica de Fernando Henrique
Cardoso e ainda aplaudiu a ascensão militar de Hugo Chávez na
Venezuela. Quanta canelada de um inepto político.
Os anos se passaram no Congresso.
Bolsonaro e seu positivismo oriundo da formação militar fizeram dele um
defensor da eugenia e de grupos de extermínio. Sua convicção é tamanha
que chegou a se vasectomizar. Sim, isto foi ocultado nas eleições atuais
e por sorte a esquerda não explorou o lado obscuro do candidato do PSL (
assista ao vídeo logo abaixo). Uma perversão execrável travestida de
bondade. No entanto, Bolsonaro foi sempre um pai de família, de uma
integridade acima de qualquer suspeita, atestada por suas esposas e
filhos. Jamais ficou nos cantinhos do Congresso, confabulando o seu
enriquecimento ilícito pois apreciava retornar para casa e mirar em seus
filhos que sempre o viam como herói. Com nervos de aço e estômago de
ferro suportou o assédio da máquina de compra de legendas petista.
Casamentos frustrados, doutrinas escusas, ética escorreita e atuação
parlamentar modesta. Nunca foi mito, todavia a sede da verdade que só o
mito instiga sempre o alfinetou.
Surge diante dos olhos de Bolsonaro a
imponente figura de um filósofo brasileiro que há anos desmacarava o
procedimento revolucionário petista: Olavo de Carvalho. Não é possível
mensurar a intensidade do vendaval de Olavo de Carvalho sobre o castelo
de cartas das esquerdas. O centro de erudição baseado em Richmond
dispersou um dilúvio de bibliografias e análises chocantes sobre o povo
brasileiro. A inteligência mordaz, os palavrões e o jeito punk de Olavo
encantaram Lobão e …Bolsonaro. Conheceu o Foro de São Paulo, o marxismo
cultural, George Soros e o que é de fato o Petismo. O casamento com a
belíssima Michele desfez a vasectomia e lhe deu Laura, a sua paixão.
Evoluiu, pegou em flagrante Haddad com o kit gay e o Capitão deu voz de
prisão àquela festa pagã. Bate-boca, palavrões, processos, e uma
contundência de fazer corar de vergonha católicos e protestantes
intimidados pela imoralidade revolucionária, catapultaram a figura
popular de Jair Messias Bolsonaro. O povo acordou junto com ele, com uma
energia tão descontrolada em 2013 que black-blocs e os movimentos
sociais logo tentaram subverter. O namoro começou com uma tórrida paixão
que colocou Dilma Rousseff para fora e a Lava-Jato guilhotinando um a
um a quadrilha do planalto. O espectro do mito aparecia com sua face
diáfana assustadora e a mídia esnobou, os políticos não levaram a sério.
Mas não era Bolsonaro este mito.
As eleições vieram junto com análises
imbecis. Queimamos todos a língua. Diziam: ele não tem capilaridade, não
tem aparato de mídia, não poderá fazer o presidencialismo de coalisão (
leia-se propinoduto). É rude, despreparado. Direita e esquerda em
abstrações: é o mercado. Não. São as políticas desenvolvimentistas para
combater a desigualdade. Bolsonaro ergueu a sua voz e disse: o povo não
aguenta mais a roubalheira e a insegurança. O que ele quer apenas, seus
idiotas, é que seus filhos voltem para casa são e salvos e que os
políticos, se de direita ou de esquerda, sejam honestos, talquei?
O paulista simplório de Glicério admitiu
sua ignorância, em áreas como economia, sem vangloriar-se por isso como o
apedeuta Lula. Escancarou seus erros e mostrou a evolução do seu
pensamento ao longo dos anos. Soprou sobre a areia do politicamente
correto expondo, sem medo, sem esquemas, as mistificações e hipocrisia
dele e de todos nós brasileiros: odiamos a política mas amamos o Estado
quando nos beneficia. Não tem dó dos encarcerados mas se enfurece pelo
descaso da justiça com as vítimas. Fez chorar pais e filhos marcados por
mais de 70000 homicídios no país. Denunciou como a violência faz parte
do projeto de poder petista que tem como aliado o narcotráfico. Bingo!
Sem jeito, sem doçura, com seu canto torto cortando como faca a carne de
vocês (trecho parafrasedo de Belchior) sua mensagem aglutinou a maior
manifestação popular espontânea que se tem notícia nos últimos anos.
As eleições vieram. Uma facada separou
Laura do papai. Lágrimas escorreram do rosto de Flávio ao ouvir o pai
sussurrar: Se deram mal, estou vivo! Adélio prestou o maior serviço à
democracia brasileira e lançou Bolsonaro em um bunker inexpugnável, o
bunker da Tijuca. Tudo, absolutamente tudo que Haddad fez produzia um
efeito reverso. De lá coordenou a campanha e ironicamente, ao contrário
de Lula que se refugiou em seu bunker em São Bernardo do Campo, não saiu
preso mas vitorioso, rumo ao Alvorada. A campanha contra o ódio se
tornou a mais odiosa. A defesa da democracia por pessoas que reduziram o
Congresso a uma horda de homens vendidos foi expurgada da vida pública.
Novo presidente, novo Congresso. É a força do mito. São valores
abraçados pelo frágil Bolsonaro e por milhões de brasileiros. É a força
da verdade que o capitão reformado tentou expressar, fora de contexto,
ao citar o versículo de João 8.32. Não é um zeitgeist populista que
baixou no país. São pessoas, uma a uma, inclusive Bolsonaro que deram
atenção a valores universais impressos no mundo por Deus, a sua lei
eterna. Bolsonaro não é mito mas a verdade que incendiou o seu coração
de amor pelo país se conectou a muitos outros corações. A fúria da
verdade venceu a esperança hipócrita.
https://www.youtube.com/watch?v=qIDyw9QKIvw Entrevista na íntegra
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