Todos os conflitos do ser
humano explicados em 21 frases de filmes
Tudo está aí, na tela. São frases de filmes
conhecidos que expõem nossos problemas e, às vezes, os solucionam
Yoda, sábio, disse a Luke que quando te falam
“tentarei” é a maior covardia que se pode demonstrar. Em ‘Guerra das Estrelas’
(1977).
O cinema não é um manual da vida, mas um reflexo dela. No
entanto, algumas frases ressoam em nossa cabeça muito depois de sairmos da sala
de projeção. São sentenças aparentemente simples, mas que antes não haviam
ocorrido a ninguém, como as melhores invenções, e por isso funcionam para
qualquer situação da vida. Ao recordá-las, simplificamos (e explicamos) nossos
conflitos e até nos sentimos melhor. Tiradas de seu contexto funcionam como
pílulas de filosofia adequadas para todos os públicos. E, se assim for, façamos
o teste e descobriremos que qualquer adulto pode identificar-se com estas
frases.
1. "Faça ou não faça. Mas não tente", de Guerra
nas Estrelas
Quem diz. Yoda, quando Luke Skywalker lhe
confessa que “tentará” usar A Força.
Que lição
aprendemos. Yoda era
um filósofo cuja lentidão causava certa ansiedade. Parecia estar sempre meio
adormecido, mas quando ficava sério acertava em cheio. Yoda nos mostra com esta
frase que quando alguém diz “eu tentarei” essa é a maior covardia que pode
demonstrar, porque antecipa o fracasso, busca a desculpa precoce e se esconde
atrás do “no caso de”. Yoda tem razão: já que é tão fácil fracassar, a única
forma de evitar é não contemplá-lo como opção.
2. "Éramos jovens e acreditávamos que
encontraríamos outros amores igualmente intensos”, de Antes do Pôr-do-Sol
Quem diz. Céline (Julie Delpy), diante da
pergunta de Jesse (Ethan Hawke): por que nunca procuraram um ao outro depois de
passarem uma noite juntos nove anos antes?
Que lição
aprendemos. O
primeiro amor, esse que faz com que você se considere invencível porque nada
importa para você e, portanto, nada te dá medo. Quando você o deixa, ansioso
por viver novas experiências, está certo de que esse só foi o primeiro de uma
interminável réstia de romances fogosos. Como quando Geri Halliwell deixou as Spice Girls convencida de que ia se
transformar em Madonna. Vinte anos depois, você continua se lembrando daquele
primeiro amor, e aprende a não dar as coisas como certas.
"Não sou má, é que me desenharam assim",
ou a autoafirmação pessoal definitiva. O filme é ‘ Uma Cilada para Roger
Rabbit?' (1988).
3. "Não sou má, é que me desenharam
assim", de Uma Cilada para Roger Rabbit
Quem diz. Jessica Rabbit, em pleno interrogatório.
Que lição
aprendemos. Se for
mal compreendida, esta filosofia pode dar asas a esses trolls que gritam
injúrias com a desculpa de “gosto de dizer as coisas na cara”. Bem assimilada,
a frase de Jessica Rabbit é a autoafirmação pessoal definitiva, como a do
escorpião que mata a rã que o ajudou a cruzar o rio: não posso evitar, é meu
caráter. Não vale utilizá-la para se meter constantemente em confusão, pois
assim perde a graça.
4. "Por que te empenhas em se encaixar quando
você nasceu para se destacar?", de Tudo que uma Garota Quer
Quem diz. O personagem de Ian Wallace,
justo depois de cair do barco com a garota (Amanda Bynes) e justo antes de se
apaixonar por ela definitivamente.
Que lição
aprendemos. Estamos
diante do primeiro grande dilema adulto: relaxar na reconfortante condição
social ou seguir seus instintos e arriscar-se a ser a ovelha negra pelo resto
da vida. Alguns passam anos tentando cruzar para o outro lado, há raros que
fingem entender de futebol somente para poder falar alguma coisa no escritório
e há anódinos que põem memes no Facebook com mensagens como “"gosto
de ser diferente, e daí?" ou "estou tão louco". Mas é inútil
remar contra a corrente: ambos os grupos reconhecem uns aos outros.
Karra Elejalde, Fernando Guillén Cuervo e Alberto
San Juan em 'Airbag – Uma Viagem de Loucura' (1997), aprendendo a ser maduros,
pois já têm idade para isso.
5. "Vamos nos dar bem, senão vai haver um
monte de porradas aqui", de Airbag – Uma Viagem de Loucura
Quem diz. Pazos (interpretado por Manuel
Manquiña) para iniciar a negociação e esclarecer que “o conceito é o conceito”.
Que lição
aprendemos. Não é
uma ameaça, é uma forma de vida. Por precaução, mais vale ser cordial com todo
o mundo porque você nunca sabe quando pode sair escaldado. A hostilidade pode
acabar se voltando contra você se esse companheiro com quem você faltou ao
respeito gratuitamente acabar subindo.
6. "Se você tivesse inventado o Facebook,
teria inventado o Facebook", de A Rede Social
Quem diz. O criador do Facebook, Mark Zuckerberg (cujo papel é interpretado por
Jesse Eisenberg), aos dois madelmans que o estão processando por ter
lhes roubado a ideia.
Que lição
aprendemos. Depois
de intermináveis sessões de negociação, Mark Zuckerberg fecha a boca desses
sujeitos que o processam por roubar a ideia deles. A lição é: de nada adianta
passar a vida choramingando porque você esteve a ponto de conseguir algo. Não
aconteceu, vire a página. Em Os Simpsons também condensaram essa ideia
com a frase “ninguém ganha o Nobel por tentativa de química”.
Embora diga isso muito zangado e com muitos 'fuck',
Wolf, de 'Pulp Fiction' (ou seja, Harvey Keitel) tinha razão: um trabalho bem
feito não é de fato assim enquanto você não o finalizar.
7. "Não comecemos a chupar ainda", de Pulp
Fiction
Quem diz. Winsont Wolf, o Lobo (Harvey
Keitel), quando os demais otários começam a comemorar terem terminado o
trabalho com sucesso.
Que lição
aprendemos. Wolf fez
um trabalho impecável encobrindo o assassinato acidental perpetrado pelo
gatilho fácil de Vincent Veja (John Travolta). Mas Wolf limpou sangue demais ao
longo de sua carreira para ficar confiante e começar a se cumprimentar: menos
celebração e mais ação para desfazer-se das provas. Lição: um trabalho bem
feito não é assim de fato enquanto você não o finalizar e eliminar qualquer
falha possível.
8. "Sempre haverá alguém mais jovem e
esfomeado descendo as escadas atrás de você", de Showgirls
Quem diz. Crystal, a stripper
veterana, a Nomi, logo depois de Nomi a empurrar escada abaixo para lhe roubar
o trabalho.
Que lição
aprendemos. A frase
é de uma stripper, mas pode ser aplicada a qualquer trabalhador. A
globalização não só importou neologismos como “assertivo”, “resiliência” ou
“sinergia”, mas, além disso, nos contagiou com a competitividade anglo-saxã.
Cuidado com aqueles colegas de trabalho cujo corpo está feito de 70% de água e
30% de pura ambição. Nunca lhes dê as costas, nunca baixe a guarda, nunca ria,
nunca ria de alguma desgraça deles. Ou vão te apunhalar sem que a mão deles
trema.
Melanie Griffith em 'Uma Secretária de Futuro' dá
um conselho universal: trabalhe com mais humildade.
9. "Não me traga um café se você não for tomar
um também", de Uma Secretária de Futuro
Quem diz. A protagonista (Melanie
Griffith) a sua nova secretária, durante seu primeiro dia como chefa.
Que lição
aprendemos. A
camaradagem, o companheirismo e a igualdade entre trabalhadores, embora o
tamanho de suas salas os faça lembrar da hierarquia. A perversidade desta frase
é que a primeira vez que aparece no filme é mentira (a chefa, Sigourney Weaver,
vai enrolar sua secretária, Melanie Griffith), mas a segunda (dita por Melanie
Griffith, quando é promovida a chefa) sabemos que sai do coração. E trabalhar
com mais humanidade é algo de que toda empresa necessita.
10. "Algumas pessoas só querem ver o mundo
arder", de Batman – o Cavaleiro das Trevas
Quem diz. O sempre sensato mordomo Alfred
(Michael Caine), quando Bruce Wayne (Christian Bale) se angustia ao tentar
compreender as motivações do Coringa (Heath Ledger).
Que lição
aprendemos. A
necessidade do ser humano de racionalizar tudo e buscar uma explicação para a
crueldade dos demais se depara às vezes com um muro de concreto: há os que
simplesmente se sentem em casa quando estão rodeados pelo caos. Às vezes não há
outra explicação para o terror. Se alguma vez você cruzar com alguém assim, o
melhor é mudar de calçada e rezar para não estar perto quando a lixeira
explodir.
11. "Ninguém esquece a verdade, só aprende a
mentir melhor", de Foi Apenas um Sonho
Quem diz. April (Kate Winslet), quando
enfim confronta o marido (Leonardo DiCaprio) sobre sua decepcionante vida
familiar.
Que lição
aprendemos. Há dois
filmes de nossa época que condensam como nos tornamos adultos sem nos dar
conta: Divertida Mente e Foi Apenas um Sonho. Kate Winslet brilha
(ainda mais do que de costume) com uma lúcida reflexão na qual recrimina o
marido, interpretado por Leonardo DiCaprio, de que se ele quer se convencer de
que é feliz e tem a vida que quer, perfeito, mas que pelo menos não seja
dissimulado com ela. Com essa pungente honestidade, o filme nos convida (ou
melhor, nos arrasta) a ser conscientes dessa frustração que acreditamos poder
enterrar se não pensarmos muito nela. Foi dito que Boyhood era “a vida”,
mas Foi Apenas um Sonho é a mais universal alegoria sobre a inevitável
decepção que a vida adulta representa.
12. "As lojas não são amáveis com a gente, são
amáveis com os cartões de crédito", de Uma Linda Mulher
Quem diz. Richard Gere, quando se dispõe a
gastar “uma quantidade obscena de dinheiro” para fazer Julia Roberts feliz.
Que lição
aprendemos. O
capitalismo nunca foi tão sexy nem tão autoconsciente como neste filme. Quem
disse que “o dinheiro não traz felicidade” nunca viu nenhuma das 20
transmissões televisivas de Uma Linda Mulher. Ao terminar, estamos
diante de um círculo vicioso: a cena das compras é um reflexo da sociedade de
1990 ou ficamos tão felizes em comprar por culpa de ter crescido com essa cena?
13. "Estou mais do que cheio e não quero
continuar suportando isso", de Rede de Intrigas
Quem diz. O apresentador Howard Beale
(interpretado por Peter Finch), ao vivo, durante seu programa de notícias
políticas.
Que lição
aprendemos. Esse
protesto, simples na forma, mas subversivo na essência, levava o apresentador
Howard Beale à demissão, não sem conseguir que toda a nação lhe respondesse aos
gritos, de suas sacadas. Como com outras manifestações, talvez não tenham
conseguido nada, mas pelo menos que fique claro que nos demos conta de que
estão zombando de nós.
14. "Continue nadando", de Procurando
Nemo
Quem diz. Dory, cada vez que não tem outra
coisa para dizer.
Que lição
aprendemos. Esta
mensagem simples, bobinha e infalível pode ser aplicada a qualquer situação da
vida. O ser humano está programado para sobreviver e adaptar-se, contra o
coloquial lamento de “não posso mais”. Claro que pode. Continue nadando.
15. "Não preste atenção ao homem atrás da
cortina", de O Mágico de Oz
Quem diz. O ajudante do Mago, quando se
revela que seu poder não tem nada de mágico.
Que lição
aprendemos. Há 70
anos Hollywood já deixou bem claro para nós qual é a única forma de viver em
paz na sociedade: ignorar os que movem seus pauzinhos, os que decidem nosso
destino sem nos conhecer. Dorothy se deu conta e, em vez de envolver-se na
política de Oz e se expor a uma frustração perpétua, preferiu voltar ao Kansas,
tirar um cochilo e provavelmente não votar.
16. "Sempre contei com a bondade dos desconhecidos",
de Um Bonde Chamado Desejo
Quem diz. Blanche Dubois (Vivien Leigh),
ao enfermeiro do manicômio que veio buscá-la.
Que lição
aprendemos. No mundo
desconfiado em que vivemos, algumas pessoas são desalmadas só porque isso é o
que o mundo espera delas. E se, ao contrário, experimentarmos assumir que todo
o mundo é automaticamente bom? Já dizia Mary Poppins que com um pouco de açúcar
tudo tem um gosto melhor. Por mais ingênuo que possa parecer há algo disso
quando nosso companheiro de BlaBlaCar nos conta sua vida com a mão no coração e
sentimos um incontrolável desejo de fazer o mesmo. Porque se algo dá segurança
em um desconhecido é que não vai te julgar, e tanto faz o que você lhe contar
porque você nunca vai voltar a vê-lo.
17. "A maior trapaça do diabo foi convencer o
mundo de que não existe", de Os Suspeitos
Quem diz. Kevin Spacey, para explicar por
que todo mundo deveria temer Keyser Sozer.
Que lição
aprendemos. Se
depois de tudo isso acabamos nas portas do inferno, o diabo terá todo o direito
de reivindicar nossa alma por toda a eternidade. Em nossa defesa, só poderemos
argumentar que os sete pecados capitais foram terrivelmente mal escolhidos: representavam
tudo o que nos torna felizes na Terra. Além disso, os católicos têm a vantagem
de se arrepender bem depressa no último momento. É uma jogada perfeita.
18. "A única coisa que depende de nós é
decidir o que fazer com a época que coube a nós", de O Senhor dos Anéis
Quem diz. Gandalf, quando Frodo lamenta
que o Um Anel tenha caído em suas mãos.
Que lição
aprendemos. Pode ser
que essa frase seja desanimadora, levando em conta os tempos que couberam a
nós. Mas, como dizia nossa mãe, “não tem mas nem menos, tem que fazer e
pronto”. Nem sempre é fácil, mas todos os dias deveríamos ser capazes de tomar
uma decisão que represente uma minúscula contribuição a fazer com que o mundo
seja um lugar melhor. Se todos pensássemos do mesmo jeito e agíssemos ao mesmo
tempo, poderíamos ser invencíveis.
19. "Continuo sendo grande, são os filmes que
ficaram pequenos", de O Crepúsculo dos Deuses
Quem
disse. Norma
Desmond (interpretada por Gloria Swanson), uma velha estrela do cinema em plena
decadência, quando alguém insinua que está acabada
Que lição
aprendemos. Porque
nos obstinamos tanto em ser os melhores (profissionais, pais, amantes, amigos)
que não nos damos conta de que, por mais talento que tenhamos, às vezes de onde
não há não se pode tirar. Norma Desmond estava perturbada, mas tinha toda a
razão.
Kurt Russell esperando que o acaso desempenhe um
papel-chave em sua vida. O Filme? 'O Enigma de Outro Mundo’ (1982).
20. "Por que não ficamos aqui um pouco e vemos
o que acontece", de O Enigma de Outro Mundo
Quem diz. R.J. MacReady (Kurt Russell),
quando já não pode fazer nada para derrotar o monstro.
Que lição
aprendemos. Porque
às vezes nos empenhamos tanto em ser “proativos” e exercer “liderança” que
esquecemos que o acaso joga um papel-chave na vida. Quando o futuro não depende
de nós, a única opção é ficar parado e esperar que as peças se ajeitem
sozinhas. Logo chegará o momento de voltar a assumir as rédeas e fazer o melhor
jogo possível com as cartas que nos couberam, mas esses momentos de passividade
nos tiram a pressão de cima de nós. Há poucas sensações mais agradáveis do que
sentar-se para ver a vida passar.
Quem diz. O protagonista lê essa frase no
quarto onde passa 18 anos sequestrado, e acaba convertendo-a em seu mantra.
Que lição
aprendemos. Já
alertavam os Bee Gees em I Started the Joke. Depois de um dia ruim, quem
não se sentiu abandonado por essa mesma turma que na noite anterior, em plena
exaltação etílica, prometia que sempre iria estar aí para apoiá-lo? Pelo menos
chegar ao fundo do poço serve para fazer uma seleção eficaz das amizades.
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