Aliança Cristã Evangélica publica "Manifesto" sobre o momento político do país
Há, em setores de nossa sociedade e inclusive de nossas igrejas, uma expectativa de que, com a eleição de uma pessoa e sua instalação como presidente da República no início de janeiro de 2019, toda a situação de um país inteiro mudará a partir daí. De um lado, profetiza-se que se determinado candidato vencer uma catástrofe apocalíptica se instalará. De outro, se preconiza que com a vitória do seu eleito uma espécie de paraíso se instalará na nação. A corrupção será extirpada, a segurança será ampla, a moralidade restaurada e a justiça e a paz serão estabelecidas. É, de fato, uma grande ilusão pressupor que a vitória de A ou B fará os profundos e gigantescos problemas da nação desaparecerem.
Devemos lembrar, por exemplo, que a corrupção é um problema endêmico em nossa nação e não está localizada apenas em Brasília. Os nossos problemas estruturais são profundos e carecem de uma profunda reforma; e levarão anos para serem vencidos e superados. Nenhum presidente poderá, isoladamente, resolver todas essas questões, e nem será através de decretos e medidas provisórias que isso acontecerá. O jogo político, no seu melhor sentido democrático, exige diálogo entre os diferentes poderes, e deve ser capaz de captar e incorporar os anseios legítimos de toda uma sociedade. Além disso, é necessária a criação de uma cultura de paz, de diálogo, de fraternidade, de solidariedade; e para isso cremos que a fé cristã oferece experiências e propostas fundamentais rumo à construção de um país mais justo, mais igualitário, mais verdadeiro e mais cuidadoso com os seus cidadãos.
O envolvimento que se observa nas redes sociais, o empenho quase fanatizado que se manifesta, precisa ser transformado em ações práticas de conciliação e encontro; e para isso não podemos esperar o dia 28 de outubro, que é o dia da eleição em segundo turno. É preciso começar já. É preciso mergulhar na construção desta experiência de respeito ao outro, cuidado com a veracidade dos fatos e busca de informações seguras. Nenhuma estratégia eleitoral justifica a propagação de mentiras e boatos e a instalação da cultura do medo. Cidadania responsável não pode ficar à mercê de notícias rápidas, rasteiras e agressivas veiculadas nas redes sociais. Não podemos esperar mudanças significativas se o nosso ardor cívico desejar a aniquilação do outro e a instalação de uma convivência bruta que não respeita o fato de que, como seres humanos, somos todos criados à imagem e semelhança de Deus.
Seja qual for o seu candidato, não podemos esquecer que não há, para o cristão, lealdades absolutas e irrestritas aqui entre nós. Fidelidade absoluta e inquestionável se rende somente a Cristo, nosso único Senhor, e ao seu Reino. As demais lealdades serão sempre provisórias e criticáveis ante os acontecimentos dos fatos no desenrolar da história. As nossas lealdades estão sempre sujeitas ao crivo dos valores do Reino expressos na Palavra. Qualquer coisa além disso é idolatria.
Como Aliança Cristã Evangélica Brasileira, convocamos os brasileiros que se chamam cristãos a:
- Orar pela nossa nação, para que o Senhor tenha misericórdia e nos ilumine a todos quanto à gravidade dessa hora e a sensibilidade da nossa própria experiência democrática;
- Ter em conta a nossa dupla cidadania, compreendendo a responsabilidade do exercício cívico e cidadão, por ocasião do exercício do voto democrático, sem perder de vista a cidadania do Reino de Deus, que nos é dada pela sua graça;
- Lembrar que os desafios continuam após 28 de outubro e que a igreja de Jesus tem um papel importante para o fortalecimento de uma cultura de paz, de entendimento e de diálogos voltados à construção de um Brasil mais justo, menos desigual e menos violento, assim como de respeito ao outro e de valorização da vida do próximo.
“Busquem a prosperidade da cidade e orem ao Senhor em favor dela, porque a prosperidade de vocês depende da prosperidade dela.” (Jeremias 29.7)
Brasil, 16 de outubro de 2018
• Aliança Cristã Evangélica Brasileira, através do seu Conselho Coordenador
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