NZINGA 01
No século XVII, o lucrativo comércio de escravos
praticado pelos portugueses sofreu um duro revés. A oposição mais forte que
enfrentaram veio da rainha Nzinga, uma obstinada líder política e militar que,
por quarenta anos, impediu que os portugueses penetrassem no continente
africano. Conheça a história dessa mulher africana extraordinária. Seu nome é
grafado de diferentes maneiras: Nzinga, Ginga, Jinga, Singa, Zhinga e outros
nomes da família linguística Banto (ou Bantu). É também conhecida pelos nomes
portugueses de Ana de Souza, rainha Dona Ana e pelas formas híbridas como
rainha Ana Nzinga. Nzinga Mbandi Ngola Kiluanji, nasceu em 1582, no Ndongo,
filha do ngola com uma escrava ambundo. Ainda criança, começou a ser treinada
para o combate e o uso de armas. Com oito anos de idade, acompanhou o séquito
do pai, em uma batalha, como parte dos exercícios de guerra. Com a morte do
pai, em 1617, seu irmão Mbandi tornou-se ngola ascendendo ao trono de Ndongo.
Por essa época, os portugueses já estavam estabelecidos na ilha de Luanda onde
fundaram a vila de São Paulo de Luanda, construíram igreja, casas e
fortificações. Enfrentaram a resistência dos chefes angolanos e as doenças
tropicais que impuseram pesadas perdas aos portugueses. Calcula-se que, entre
1575 e 1590, dos 1700 europeus falecidos em Angola, só 400 perderam a vida na
guerra; os demais, quase 80%, morreram de maleita e outras febres. No lugar de
prata, escravos O interesse inicial dos portugueses, em Angola, não era o
tráfico de escravos mas as riquezas do país, suas jazidas de prata, cobre e
sal. Além disso, o domínio de Angola abriria caminho para chegar, por terra,
até as fabulosas minas de Monomotapa (atual Zimbábue). Acreditando que Angola
seria um novo Peru, o rei de Portugal e Espanha (era o início da União Ibérica)
enviou soldados, armas e canhões para derrotar os angolanos. Foram 24 anos de
combates até os portugueses finalmente atingirem, em 1603, às supostas minas de
prata de Cambambe, ao sul de Luanda. Mas o contentamento durou pouco: as
amostras colhidas revelaram-se de chumbo. Não havia prata em Cambambe.
Decepcionado, o rei Felipe III mandou suspender a conquista e limitar-se ao
tráfico de escravos. O porto de Luanda tornou-se o local de embarque de
milhares de escravos. Por volta de 1600, a média anual era de 5.600 escravos
provindos de diversas partes da África e embarcados para a América. Em Luanda
chegavam vinhos portugueses, artigos de ferro e latão, mantas do Alentejo, lãs
e linhos de Flandres, contas de vidro de Veneza, algodão e musselina da Índia a
ainda produtos brasileiros como a farinha de mandioca. Como moeda usam-se os
panos fabricados no Congo que recebiam um carimbo com o emblema real e eram
usados para a aquisição de escravos. Conforme relata Costa e Silva, esses
tecidos, em geral, não eram usados como roupas; passavam de mão em mão até se
desgastarem e puírem, perdendo progressivamente parte de seu valor. O comércio
de escravos Os portugueses tinham pouco controle sobre a captura de escravos. A
apreensão e o comércio em território de Angola eram fortemente centralizados
pelo ngola Mbandi, o rei ambundo, irmão de Nzinga. Ele cobrava dos portugueses
tributos e taxas e proibia-lhes o acesso ao interior do reino e a compra direta
de escravos. As vendas de escravos eram fiscalizadas e só podiam ser feitas por
lote, não permitindo ao traficante escolher as “peças” que lhe interessavam. O
ngola mandava incluir, no lote, negros idosos, doentes ou com defeitos físicos
de difícil colocação no mercado escravo de Luanda. Os que desrespeitavam as
regras e os costumes locais eram punidos com o confisco da mercadoria, prisão,
expulsão, açoites e até morte. As restrições ao livre trânsito dos mercadores e
as sanções aplicadas pelo ngola aos infratores causaram indignação entre os
portugueses de Luanda. Afinal, para eles, aquelas terras eram de Portugal. As
tensões levaram a uma nova guerra contra o ngola Mbandi que, como ocorrera
outras vezes, ficou inconclusa. Entra em cena a princesa Nzinga Em 1621, chegou
a Luanda o novo governador português que se apressou a buscar a paz com o ngola
Mbandi. Para negociá-la, o rei ambundo enviou a Luanda uma embaixadora – sua
irmã Nzinga, então com 39 anos de idade. Neste encontro, ocorreu um episódio
curioso que revela a altivez da princesa ambundu. Como o governador a recebeu
sentado e não lhe ofereceu cadeira, Nzinga fez um sinal para uma de suas
acompanhantes que se colocou de quatro no chão para a princesa sentar-se sobre
ela. Ao sair, deixou a moça na sala, na mesma posição, como se fosse um banco.
O governador avisou-a para levar a moça e Nzinga respondeu-lhe que não sentaria
novamente naquele banco pois tinha muitos outros e não o queria mais. Rainha
Nzinga Nzinga sentou-se sobre sua acompanhante colocando-se em posição de
igualdade com o governador português. Manuscrito de Cavazzi, missionário
capuchinho, 1687 A princesa, inteligente e decidida, deixou claro que o rei
ambundo não era e nem seria vassalo do rei ibérico. Estava ali como
representante de um estado soberano e exigia tratamento de igual para igual.
Para surpresa de todos, Nzinga falou em português fluente. Possivelmente
aprendera a língua com alguns dos mercadores e missionários portugueses que haviam
frequentado a corte de seu pai. Nzinga exigiu que os portugueses abandonassem
suas instalações no continente, que entregassem os chefes africanos
prisioneiros e ainda um lote de armas de fogo. Em sinal de sua intenção de
celebrar o acordo de paz, Nzinga aceitou o batismo católico sob o nome
português Ana de Souza. A conversão foi um jogo político do qual ela vai se
valer em outros momentos para ganhar confiança e confundir os portugueses. A
rainha Nzinga Vários meses se passaram desde o encontro em Luanda sem que os
portugueses cumprissem sua parte no acordo. Não estavam dispostos a ceder em
nada. Nzinga vai cobrar, pelas armas, o que fora prometido mas, dessa vez, como
ngola, rainha de Ndongo. A ascensão de Nzinga ao trono, em 1623, é rodeada de
mistérios. Alguns estudiosos afirmam que ela envenenou o irmão, outros dizem
que o rei se suicidou por decisão dos grandes chefes. Há ainda a versão de que
Nzinga, com a morte do irmão tornou-se regente do garoto escolhido como novo
ngola, mas a criança pouco depois, morreu afogada no rio Cuanza. Começava a
nascer uma “mitologia Nzinga”. Rainha enigmática, cujo nome causava terror
entre os portugueses, ela deu origem a lendas e relatos contraditórios a seu
respeito. Nzinga Nzinga e seu séquito. Manuscrito de Cavazzi, missionário
capuchinho, 1687. Desconhece-se sua imagem, não existem retratos da rainha
elaborados no seu período de vida. Uma imagem de 1769, para a obra Zingha,
reine d’Angola, de Jean-Louis Castilhon, mostra a rainha de perfil com um olhar
recatado que nada corresponde ao perfil guerreiro dessa líder política
africana. Usa coroa, colar, bracelete, broche e manta típicos da cultura
europeia. O toque exótico e sensual fica por conta do seio à mostra, como era
comum nas representações de africanas pelo traço europeu cristão. A imagem
aproxima-se da descrição de Glasgow: Nzinga Nzinga usando elementos da cultura
europeia e africana em uma gravura do século XVIII. Vaidosa quanto às roupas e
aparência, trazia na cabeça a coroa real, com joias de prata, pérolas e cobre a
lhe adornarem os braços e as pernas. Lindos tecidos e roupas eram sua paixão
especial e não perdia nenhuma oportunidade de adquirir novas roupas em estilo
europeu dos mercadores portugueses. Às vezes ela trocava de traje várias vezes
por dia, variando das modas africanas para as portuguesas e vice-versa, até no
estilo do penteado. (…) Quando Nzinga recebia hóspedes estrangeiros, tanto ela
quanto sua corte se adornavam com dispendiosos trajes e joias europeias e havia
farto uso de baixelas de prata, cadeiras e tapetes. Saudava os hóspedes com o
selo real de prata na mão e a coroa na cabeça, ocasionalmente até três vezes
por semana. (Glasgow, p. 95-96) Costa e Silva apresenta outra descrição de
Nzinga: “Ela recusava o título de rainha e fazia questão de ser chamada rei.
Por isso que decidiu tornar-se socialmente homem e ter um harém, com os
concubinos vestidos de mulher. Por isso que lutava como um soldado, à frente do
exército. Na realidade, Jinga estava a criar a sua tradição, a sua legitimidade,
os precedentes que permitiriam a suas netas e bisnetas ascenderem, sem
contestação do sexo, ao poder.” (Costa e Silva, p.438) Nzinga ilustração Nzinga
com uma fisionomia bantu juvenil, segundo representação feita por Tim O’Brien,
em 2000 Em obra recente, Nzingha: warrior queen of Matamba, de Patricia
McKissack, publicado em 2000, o conceituado ilustrador Tim O’Brien, criou uma
nova imagem da rainha ambundo dando-lhe uma fisionomia bantu juvenil. Ela usa
bracelete e colar típicos da realeza bantu, um cordão de zimbos ou búzios, uma
concha utilizada como moeda nos reinos do Congo, Ndongo e em sociedades
tradicionais de Angola. O vestido colante com grafismos em zig-zag, motivo
recorrente na cultura material da África subsaariana, e o arco e flechas
compõem o retrato guerreiro e africano de Nzinga. O filme Njinga, rainha de
Angola, de 2012 (mostrado no Brasil em 2014) construiu outra imagem da rainha.
Para representa-la, foi escolhida Lesliana Pereira, miss Angola 2008. A beleza
da atriz reforçada por trajes sensuais em cenas de combate aproxima a rainha à
imagem de uma super-heroína africana. Nzinga reinou absoluta durante quarenta
anos sobre Ndongo (1623 a 1663) e, a partir de 1630, também sobre Matamba. Para
enfrentar os portugueses, aliou-se aos ferozes jagas e desposou um chefe deles.
Veja o trailer do filme Njinga, rainha de Angola, direção de Sérgio Graciano,
2012 Continua na parte 2: Nzinga abre guerra contra os portugueses. Vocabulário
Ambundo ou Mbundu: maior grupo étnico de Angola, falante do quimbundo, língua
que muito contribuiu na formação do léxico do português falado no Brasil.
Ndongo ou Dongo: reino ambundo da Angola pré-colonial, limitado ao norte pelo
Reino do Congo, a leste por Matamba, a oeste pelo Oceano Atlântico e ao sul
pelos Estados ovimbundos. Ngola ou angola: importante título nobiliárquico e
guerreiro dos ambundos na Angola pré-colonial, equivalente a rei. O termo
acabou batizando o nome atual do país. Fonte COSTA E SILVA, Alberto. A manilha
e o libambo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. GLASGOW, Roy. Nzinga. São
Paulo: Perspectiva, 1982. PACAVIRA, Manuel Pedro. Nzinga Mbandi. Cuba: União
dos Escritores Angolanos, 1985. Print Friendly Classifique Você pode se
interessar por estes também Quem eram os antigos egípcios? DNA de múmias antigas
revela novas pistas 31 de maio de 2017 Máscaras africanas: beleza, magia e
importância. (Para recortar e colorir) 18 de abril de 2017 Francisco Félix de
Souza: brasileiro, mestiço e traficante de escravos na África 29 de janeiro de
2017 Joelza Ester Domingues Mestre em História Social pela PUC-SP. Lecionou nos
colégios Marista Arquidiocesano e Santa Cruz, ambos em São Paulo, capital, e
também nos cursinhos pré-vestibulares Objetivo e Intergraus. Autora das
coleções didáticas “História em Documento” e “Projeto Athos-História”, ambas
pela editora FTD. Este blog é um meio para compartilhar sua experiência
profissional oferecendo dicas para aulas, roteiros de estudo, reflexões e
informações atualizadas de História e seu ensino. O que é ser professor? Veja aqui
Frase da semana Frase Cora Coralina Compartilhe Conquistas devem ser sempre
comemoradas! Conquistas devem ser sempre comemoradas! Compartilhe Acompanhe-nos
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atualizações do blog por email. Nunca enviaremos spam. Insira seu e-mail abaixo
e confirme sua inscrição no email enviado em que se cadastrou: Depoimentos
Muito bom esse material (artigos) que tenho recebido, tem me ajudado muito e
tem desenvolvido meu interesse em fazer uma licenciatura em História. Só tenho
a agradecer. Obrigada. Eliete B., Itabuna, BA. Mais depoimentos Jogos
educativos de história para jogar online grátis Ler uma gravura Jogo de encontrar
erros Jogo da memória mascaras antigas Montar um quebra-cabeça jogo da memória
fotos antigas Puzzle arte indígena
Obrigado por compartilhar. Lembre-se de citar a fonte:
http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/nzinga-a-rainha-negra-contra-os-traficantes-portugueses/
- Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues
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grafado de diferentes maneiras: Nzinga, Ginga,
Jinga, Singa, Zhinga e outros nomes da família linguística Banto (ou Bantu). É
também conhecida pelos nomes portugueses de Ana de Souza, rainha Dona Ana e
pelas formas híbridas como rainha Ana Nzinga. Nzinga Mbandi Ngola Kiluanji,
nasceu em 1582, no Ndongo, filha do ngola com uma escrava ambundo. Ainda
criança, começou a ser treinada para o combate e o uso de armas. Com oito anos
de idade, acompanhou o séquito do pai, em uma batalha, como parte dos
exercícios de guerra. Com a morte do pai, em 1617, seu irmão Mbandi tornou-se
ngola ascendendo ao trono de Ndongo. Por essa época, os portugueses já estavam
estabelecidos na ilha de Luanda onde fundaram a vila de São Paulo de Luanda,
construíram igreja, casas e fortificações. Enfrentaram a resistência dos chefes
angolanos e as doenças tropicais que impuseram pesadas perdas aos portugueses.
Calcula-se que, entre 1575 e 1590, dos 1700 europeus falecidos em Angola, só
400 perderam a vida na guerra; os demais, quase 80%, morreram de maleita e
outras febres. No lugar de prata, escravos O interesse inicial dos portugueses,
em Angola, não era o tráfico de escravos mas as riquezas do país, suas jazidas
de prata, cobre e sal. Além disso, o domínio de Angola abriria caminho para
chegar, por terra, até as fabulosas minas de Monomotapa (atual Zimbábue).
Acreditando que Angola seria um novo Peru, o rei de Portugal e Espanha (era o
início da União Ibérica) enviou soldados, armas e canhões para derrotar os
angolanos. Foram 24 anos de combates até os portugueses finalmente atingirem,
em 1603, às supostas minas de prata de Cambambe, ao sul de Luanda. Mas o
contentamento durou pouco: as amostras colhidas revelaram-se de chumbo. Não
havia prata em Cambambe. Decepcionado, o rei Felipe III mandou suspender a
conquista e limitar-se ao tráfico de escravos. O porto de Luanda tornou-se o
local de embarque de milhares de escravos. Por volta de 1600, a média anual era
de 5.600 escravos provindos de diversas partes da África e embarcados para a
América. Em Luanda chegavam vinhos portugueses, artigos de ferro e latão,
mantas do Alentejo, lãs e linhos de Flandres, contas de vidro de Veneza,
algodão e musselina da Índia a ainda produtos brasileiros como a farinha de
mandioca. Como moeda usam-se os panos fabricados no Congo que recebiam um
carimbo com o emblema real e eram usados para a aquisição de escravos. Conforme
relata Costa e Silva, esses tecidos, em geral, não eram usados como roupas;
passavam de mão em mão até se desgastarem e puírem, perdendo progressivamente
parte de seu valor. O comércio de escravos Os portugueses tinham pouco controle
sobre a captura de escravos. A apreensão e o comércio em território de Angola
eram fortemente centralizados pelo ngola Mbandi, o rei ambundo, irmão de
Nzinga. Ele cobrava dos portugueses tributos e taxas e proibia-lhes o acesso ao
interior do reino e a compra direta de escravos. As vendas de escravos eram
fiscalizadas e só podiam ser feitas por lote, não permitindo ao traficante
escolher as “peças” que lhe interessavam. O ngola mandava incluir, no lote,
negros idosos, doentes ou com defeitos físicos de difícil colocação no mercado
escravo de Luanda. Os que desrespeitavam as regras e os costumes locais eram
punidos com o confisco da mercadoria, prisão, expulsão, açoites e até morte. As
restrições ao livre trânsito dos mercadores e as sanções aplicadas pelo ngola
aos infratores causaram indignação entre os portugueses de Luanda. Afinal, para
eles, aquelas terras eram de Portugal. As tensões levaram a uma nova guerra
contra o ngola Mbandi que, como ocorrera outras vezes, ficou inconclusa. Entra
em cena a princesa Nzinga Em 1621, chegou a Luanda o novo governador português
que se apressou a buscar a paz com o ngola Mbandi. Para negociá-la, o rei ambundo
enviou a Luanda uma embaixadora – sua irmã Nzinga, então com 39 anos de idade.
Neste encontro, ocorreu um episódio curioso que revela a altivez da princesa
ambundu. Como o governador a recebeu sentado e não lhe ofereceu cadeira, Nzinga
fez um sinal para uma de suas acompanhantes que se colocou de quatro no chão
para a princesa sentar-se sobre ela. Ao sair, deixou a moça na sala, na mesma
posição, como se fosse um banco. O governador avisou-a para levar a moça e
Nzinga respondeu-lhe que não sentaria novamente naquele banco pois tinha muitos
outros e não o queria mais. Rainha Nzinga Nzinga sentou-se sobre sua
acompanhante colocando-se em posição de igualdade com o governador português.
Manuscrito de Cavazzi, missionário capuchinho, 1687 A princesa, inteligente e
decidida, deixou claro que o rei ambundo não era e nem seria vassalo do rei
ibérico. Estava ali como representante de um estado soberano e exigia
tratamento de igual para igual. Para surpresa de todos, Nzinga falou em
português fluente. Possivelmente aprendera a língua com alguns dos mercadores e
missionários portugueses que haviam frequentado a corte de seu pai. Nzinga
exigiu que os portugueses abandonassem suas instalações no continente, que
entregassem os chefes africanos prisioneiros e ainda um lote de armas de fogo.
Em sinal de sua intenção de celebrar o acordo de paz, Nzinga aceitou o batismo
católico sob o nome português Ana de Souza. A conversão foi um jogo político do
qual ela vai se valer em outros momentos para ganhar confiança e confundir os portugueses.
A rainha Nzinga Vários meses se passaram desde o encontro em Luanda sem que os
portugueses cumprissem sua parte no acordo. Não estavam dispostos a ceder em
nada. Nzinga vai cobrar, pelas armas, o que fora prometido mas, dessa vez, como
ngola, rainha de Ndongo. A ascensão de Nzinga ao trono, em 1623, é rodeada de
mistérios. Alguns estudiosos afirmam que ela envenenou o irmão, outros dizem
que o rei se suicidou por decisão dos grandes chefes. Há ainda a versão de que
Nzinga, com a morte do irmão tornou-se regente do garoto escolhido como novo
ngola, mas a criança pouco depois, morreu afogada no rio Cuanza. Começava a
nascer uma “mitologia Nzinga”. Rainha enigmática, cujo nome causava terror
entre os portugueses, ela deu origem a lendas e relatos contraditórios a seu
respeito. Nzinga Nzinga e seu séquito. Manuscrito de Cavazzi, missionário
capuchinho, 1687. Desconhece-se sua imagem, não existem retratos da rainha
elaborados no seu período de vida. Uma imagem de 1769, para a obra Zingha,
reine d’Angola, de Jean-Louis Castilhon, mostra a rainha de perfil com um olhar
recatado que nada corresponde ao perfil guerreiro dessa líder política
africana. Usa coroa, colar, bracelete, broche e manta típicos da cultura
europeia. O toque exótico e sensual fica por conta do seio à mostra, como era
comum nas representações de africanas pelo traço europeu cristão. A imagem
aproxima-se da descrição de Glasgow: Nzinga Nzinga usando elementos da cultura
europeia e africana em uma gravura do século XVIII. Vaidosa quanto às roupas e
aparência, trazia na cabeça a coroa real, com joias de prata, pérolas e cobre a
lhe adornarem os braços e as pernas. Lindos tecidos e roupas eram sua paixão
especial e não perdia nenhuma oportunidade de adquirir novas roupas em estilo
europeu dos mercadores portugueses. Às vezes ela trocava de traje várias vezes
por dia, variando das modas africanas para as portuguesas e vice-versa, até no
estilo do penteado. (…) Quando Nzinga recebia hóspedes estrangeiros, tanto ela
quanto sua corte se adornavam com dispendiosos trajes e joias europeias e havia
farto uso de baixelas de prata, cadeiras e tapetes. Saudava os hóspedes com o
selo real de prata na mão e a coroa na cabeça, ocasionalmente até três vezes
por semana. (Glasgow, p. 95-96) Costa e Silva apresenta outra descrição de
Nzinga: “Ela recusava o título de rainha e fazia questão de ser chamada rei.
Por isso que decidiu tornar-se socialmente homem e ter um harém, com os
concubinos vestidos de mulher. Por isso que lutava como um soldado, à frente do
exército. Na realidade, Jinga estava a criar a sua tradição, a sua
legitimidade, os precedentes que permitiriam a suas netas e bisnetas
ascenderem, sem contestação do sexo, ao poder.” (Costa e Silva, p.438) Nzinga
ilustração Nzinga com uma fisionomia bantu juvenil, segundo representação feita
por Tim O’Brien, em 2000 Em obra recente, Nzingha: warrior queen of Matamba, de
Patricia McKissack, publicado em 2000, o conceituado ilustrador Tim O’Brien,
criou uma nova imagem da rainha ambundo dando-lhe uma fisionomia bantu juvenil.
Ela usa bracelete e colar típicos da realeza bantu, um cordão de zimbos ou
búzios, uma concha utilizada como moeda nos reinos do Congo, Ndongo e em
sociedades tradicionais de Angola. O vestido colante com grafismos em zig-zag,
motivo recorrente na cultura material da África subsaariana, e o arco e flechas
compõem o retrato guerreiro e africano de Nzinga. O filme Njinga, rainha de
Angola, de 2012 (mostrado no Brasil em 2014) construiu outra imagem da rainha.
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da atriz reforçada por trajes sensuais em cenas de combate aproxima a rainha à
imagem de uma super-heroína africana. Nzinga reinou absoluta durante quarenta
anos sobre Ndongo (1623 a 1663) e, a partir de 1630, também sobre Matamba. Para
enfrentar os portugueses, aliou-se aos ferozes jagas e desposou um chefe deles.
Veja o trailer do filme Njinga, rainha de Angola, direção de Sérgio Graciano,
2012 Continua na parte 2: Nzinga abre guerra contra os portugueses. Vocabulário
Ambundo ou Mbundu: maior grupo étnico de Angola, falante do quimbundo, língua
que muito contribuiu na formação do léxico do português falado no Brasil.
Ndongo ou Dongo: reino ambundo da Angola pré-colonial, limitado ao norte pelo
Reino do Congo, a leste por Matamba, a oeste pelo Oceano Atlântico e ao sul
pelos Estados ovimbundos. Ngola ou angola: importante título nobiliárquico e
guerreiro dos ambundos na Angola pré-colonial, equivalente a rei. O termo
acabou batizando o nome atual do país. Fonte COSTA E SILVA, Alberto. A manilha
e o libambo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. GLASGOW, Roy. Nzinga. São
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magia e importância. (Para recortar e colorir) 18 de abril de 2017 Francisco
Félix de Souza: brasileiro, mestiço e traficante de escravos na África 29 de
janeiro de 2017 Joelza Ester Domingues Mestre em História Social pela PUC-SP.
Lecionou nos colégios Marista Arquidiocesano e Santa Cruz, ambos em São Paulo,
capital, e também nos cursinhos pré-vestibulares Objetivo e Intergraus. Autora
das coleções didáticas “História em Documento” e “Projeto Athos-História”,
ambas pela editora FTD. Este blog é um meio para compartilhar sua experiência
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semana Frase Cora Coralina Compartilhe Conquistas devem ser sempre comemoradas!
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