Nosso futuro
Por Marcos Almeida
Neste
tempo de fadiga informacional, polarização violenta e guerra cultural,
enterrado sobre toneladas de entulhos narrativos, dorme o sentido; já
esquecemos quem nós somos, qual a nossa identidade. Para redescobrir é
preciso se ajoelhar, descer ao subsolo.
É como
cavar um poço, até chegar em algum aquífero. É investigar a vida secreta
das árvores, observar as conversas que acontecem entre as raízes, bem
abaixo da superfície. Debaixo do chão.
O Brasil não começa em 2013, sabemos. Nossas angústias são centenárias, as esperanças também.
Um
dos marcos espirituais, entre outros, entre as muitas tradições que
compõe a nossa cultura, surge lá em Portugal. Se trata de uma festa onde
comemora-se o futuro! A Festa do Divino, de agenda móvel, mais
comumente celebrada no Pentecostes, perto ao solstício de inverno.
A
Festa do Divino em Pirenópolis/GO talvez seja a mais famosa
manifestação popular desta “heresia” portuguesa, já desde muito
assimilada e atualizada com sotaque local. Três ritos marcavam a
celebração.
1. Um menino era coroado imperador do mundo. “Uma criança guiará o mundo”.
2. Era oferecido um banquete gratuito. “Ninguém passará fome nessa terra”.
3. Dirigiam-se até a cadeia da cidade e libertavam os presos. “Todos serão livres entre nós”.
A Festa tem um símbolo: uma coroa e sobre ela a pomba. Este é o reinado do Divino Espírito Santo.
Esta
Festa anual foi capaz de moldar a imaginação dos nossos ancestrais. A
celebração do futuro, que começou como rito em 1321, se transformaria em
aventura transoceânica em 1500.
O resultado desse esforço é uma história desigual e injusta, entre breves passagens admiráveis.
Podemos
afirmar, entretanto, que não tem como ver finalmente chegar a época do
Espírito Santo, se não formos cheios do Espírito Santo. Aqui entra uma
contribuição pentecostal.
A experiência pentecostal do século XXI pode apontar uma boa resposta a este desígnio ancestral.
Brasil, quem é você? Somos um povo que ama como pode amar um brasileiro marcado pelo Divino Espírito Santo?
Um povo vocacionado para a invenção, por isso o gosto de vanguarda naquilo que fazemos? Uma criança guiará o mundo!
Brasil,
quem é você? Somos o celeiro dos povos e, entre nós, ninguém
experimenta insegurança alimentar, ninguém passa fome neste país? Existe
uma mesa para todos, um lugar para cada um de nós?
Somos livres porque aprisionamos a desigualdade? Todos temos oportunidades para empreender o bem comum?
Para redescobrir quem nós somos precisamos descer ao subsolo. Lá está o sim e o norte.
Sem comentários:
Enviar um comentário