Conheça
5 mulheres que transformaram a educação no Brasil
As
mulheres educadoras são um exemplo de coragem, resiliência e pioneirismo na
história brasileira.
BEATRIZ
ROHDE
Ao
longo da história, as mulheres conquistaram não apenas o direito à educação, como
também o protagonismo no ensino ao redor do mundo.
No
Brasil não é diferente. O trabalho feminino é um pilar essencial, desde o
ensino básico à universidade.
As
mulheres brasileiras só conquistaram o direito de estudar além do ensino
fundamental em 1827, com a promulgação da Lei Geral. O Dia Internacional da
Mulher é uma oportunidade de reconhecer a contribuição de educadoras pioneiras.
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Mural
dedicado a Antonieta de Barros, uma das mulheres mais importantes da educação
brasileira
Mural
dedicado à professora, jornalista e política Antonieta de Barros, no Centro de
Florianópolis – Foto: Flavio Tin/ND
Conheça
cinco mulheres brasileiras que transformaram a educação no país:
1-
Antonieta de Barros
Nascida
em Florianópolis em 1901, Antonieta de Barros foi a primeira mulher negra a ser
eleita deputada estadual no Brasil.
A
professora, poetisa e jornalista defendeu o acesso de todos à educação e a
valorização da cultura negra.
Antonieta
de Barros, primeira mulher negra a ser eleita deputada no Brasil
Desde
Antonieta de Barros, somente uma outra mulher negra ocupou uma cadeira na
Assembleia Legislativa de Santa Catarina – Foto: Memorial Antonieta de
Barros/Reprodução/ND
Filha
de uma escrava liberta, Antonieta fundou aos 21 um curso particular para
combater o analfabetismo de adultos na Capital.
Lecionou
em escolas de elite, como o Colégio Coração de Jesus. Ela também se tornou
diretora da Escola Normal Catarinense, instituição onde concluiu o ensino
médio.
Antonieta
chegou ao cargo de deputada em 1934, dois anos após o sufrágio feminino e 46
anos após a abolição da escravatura. Ela era suplente de Leônidas Coelho de
Souza, que não assumiu a posição porque foi nomeado prefeito de Caçador.
A
educadora está entre as três primeiras mulheres no Brasil a ocuparem uma
cadeira no parlamento.
Como
jornalista, fundou o jornal A Semana e dirigiu a revista Vida Ilhoa. Assinava
suas crônicas e artigos sob o pseudônimo “Maria da Ilha”. Em 1937, publicou o
livro “Farrapos de Ideias”.
Depois
de Antonieta, levou 89 anos para que uma segunda mulher negra integrasse a
Assembleia Legislativa de Santa Catarina. A professora Vanessa da Rosa, de
Joinville, foi eleita como suplente em 2022 e assumiu o mandato por um mês em
2023.
Apesar
da morte precoce, aos 50 anos, o legado de Antonieta de Barros segue vivo. A
professora é símbolo do combate aos preconceitos raciais, de classe social e de
gênero.
Ela foi
responsável pelo projeto de lei que instituiu o Dia do Professor, data
comemorada em 15 de outubro em todo o Brasil.
2-
Nísia Floresta
Dionísia
Gonçalves Pinto nasceu em 1810, no Rio Grande do Norte. Conhecida pelo
pseudônimo de Nísia Floresta Brasileira Augusta, a escritora e poetisa é
considerada a primeira educadora feminista do Brasil.
Nísia
Floresta foi uma das mulheres precursoras do feminismo no Brasil
Nísia
Floresta foi uma das mulheres precursoras do feminismo no Brasil – Foto:
Reprodução/ND
Escreveu
seu primeiro livro aos 22 anos, intitulado “Direitos das mulheres e injustiça
dos homens”.
Até sua
morte, em 1885, publicou outras 14 obras. Nísia defendia em sua literatura os
direitos das mulheres, dos povos indígenas e das pessoas escravizadas.
A
professora participou das campanhas abolicionista e republicana no período
imperial.
Aos 28
anos, abriu uma escola para meninas no Rio de Janeiro. As mulheres da época,
quando tinham acesso à educação, só eram ensinadas a costurar, cuidar do lar,
ter boas maneiras, ser uma boa mãe e esposa.
A
pioneira Nísia Floresta, no entanto, desafiou as regras sociais e passou a
ensinar matemática, ciências naturais e sociais, música, dança, gramática,
escrita e leitura do português, francês e italiano às meninas.
A
afronta lhe rendeu críticas e ataques à sua vida pessoal. A educadora não se
abateu e continuou defendendo o direito das mulheres à educação científica. Sua
cidade natal, antigamente chamada de Papary, hoje leva o nome de Nísia
Floresta.
3-
Dorina Nowill
A
educadora, filantropa e administradora Dorina de Gouvêa Nowill criou a Fundação
para o Livro do Cego no Brasil, em 1946. A fundação foi a primeira grande
imprensa de livros em braille (sistema de escrita e leitura tátil para cegos)
do país.
A
educadora Dorina Nowill lutou pela inclusão de pessoas cegas e com baixa visão
no sistema escolar
A
educadora Dorina Nowill lutou pela inclusão de pessoas cegas e com baixa visão
no sistema escolar – Foto: Fundação Dorina Nowill para Cegos/Reprodução/ND
Dorina
nasceu em 1919 e dedicou sua vida à educação e aos direitos das pessoas com
deficiência visual. Natural de São Paulo, a professora perdeu a visão aos 17
anos devido a uma doença não diagnosticada.
Ela foi
a primeira aluna cega em um curso regular na Escola Normal Caetano de Campos,
onde conseguiu a integração de outra menina cega.
Após se
formar no magistério, a educadora ganhou uma bolsa de estudos para frequentar a
Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.
Dorina
Nowill se especializou em educação na área de deficiência visual. Entre 1961 e
1973, dirigiu a Campanha Nacional de Educação de Cegos do MEC (Ministério da
Educação). Lutou também pela inserção de pessoas cegas e com baixa visão no
mercado de trabalho.
Preocupada
com a prevenção à cegueira, Dorina foi eleita presidente do Conselho Mundial
dos Cegos (atualmente União Mundial de Cegos) em 1979.
Ela
morreu aos 91 anos em 2010. A Fundação Dorina Nowill promove há 75 anos a
autonomia e inclusão de pessoas com deficiência visual.
4-
Sonia Guimarães:
Sonia
Guimarães foi a primeira mulher negra a se tornar doutora em física no Brasil.
A pesquisadora também foi a primeira entre mulheres negras a lecionar no ITA
(Instituto Tecnológico de Aeronáutica).
Sonia
Guimarães se tornou professora no ITA quando as mulheres sequer eram aceitas
como estudantes
Sonia
Guimarães se tornou professora no ITA quando as mulheres sequer eram aceitas
como estudantes – Foto: UM BRASIL/Reprodução/ND
Quando
ingressou como docente na prestigiada instituição, em 1993, as mulheres ainda
não eram aceitas como estudantes.
As
professoras eram poucas na área dominada pela presença masculina. Sonia se
tornou expoente no combate às desigualdades raciais e de gênero nas ciências,
em especial nas exatas.
Filha
de pai tapeceiro e mãe comerciante, foi a primeira da família a entrar na
faculdade. Ela se graduou na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), onde
também fez seu mestrado em física.
Após um
período de pesquisa em Bolonha, na Itália, Sonia ingressou no doutorado em
materiais eletrônicos na Universidade de Manchester, Inglaterra.
Nascida
na capital paulista em 1957, Sonia tem 66 anos e segue lecionando no ITA.
A
professora também é conselheira e fundadora da Afrobras, organização criada em
1997 para promover a inserção socioeconômica, cultural e educacional dos jovens
negros.
A
Afrobras é mantenedora da Faculdade Zumbi dos Palmares em São Paulo, voltada
para a população negra e de baixa renda. A instituição visa reduzir a
desigualdade sociais e raciais no ensino superior.
A
história e o trabalho de Sonia Guimarães são fonte de inspiração para a
juventude brasileira. Em 2023, foi eleita uma das 100 pessoas mais inovadoras
da América Latina pela plataforma Bloomberg Línea.
Foi a
primeira mulher negra a receber o Prêmio Professor Emérito – Troféu Guerreiro
da Educação Ruy Mesquita em 2021.
5-
Anália Franco
A
professora Anália Emília Franco Bastos nasceu no Rio de Janeiro em 1853. Em uma
época em que a educação era privilégio de poucos, ela defendeu a inclusão dos
marginalizados e discriminados.
Anália
Franco defendia a inclusão de mulheres e filhos de escravos na educação
Anália
chegou a ser expulsa da própria escola que fundou por não aceitar segregar
crianças brancas e negras – Foto: Divulgação/ND
O
Brasil passava pela transição entre a monarquia e a república, quando
predominava a população rural. Anália se dedicou a fundar escolas fora da
capital para que o interior também tivesse acesso ao ensino.
Educadora,
jornalista, poetisa, escritora e filantropa, foi responsável por criar mais de
cem instituições espalhadas por São Paulo.
O
trabalho de Anália inclui escolas públicas, asilos, creches, liceus femininos,
bibliotecas, grupos de teatro, orquestras e oficinas de manufatura para
mulheres.
Ela
acreditava no poder da educação como ferramenta de inclusão social. Anália
começou sua carreira de professora aos 15 anos e abraçou a causa das áreas
rurais. Trabalhou como auxiliar de sua mãe, que desempenhava a mesma profissão.
Na
época, com a Lei do Ventre Livre, os filhos de escravas eram muitas vezes
expulsos das fazendas e ficavam desamparados. Anália chegou a ser banida da própria
instituição que fundou, a Casa Maternal, que acolhia crianças abandonadas.
Primeira
escola pública criada por Anália, a casa foi cedida por uma das fazendeiras de
São Paulo, a quem pedia ajuda pelos filhos de escravos. A educadora, no
entanto, não aceitou a condição da fazendeira de segregar crianças brancas e
negras e teve que se retirar.
Anália
Franco se destacou pela luta abolicionista e de libertação das mulheres. Como
jornalista, contribuiu com revistas femininas e fundou suas próprias publicações:
“Álbum das Meninas” e “A Voz Maternal”. Sua produção literária extensa ressalta
a importância da educação para o progresso do Brasil.
A
ativista fundou em 1901 a Associação Feminina Beneficente e Instrutiva, que
apoiava mulheres e crianças. Anália dirigiu a organização até sua morte em
1919, vítima da gripe espanhola.
As
mulheres só conquistaram o direito de estudar além do ensino fundamental em
1827 com a Lei Geral
As
mulheres só conquistaram o direito de estudar além do ensino fundamental em
1827 com a Lei Geral – Foto: Javier Trueba/Unsplash/Reprodução/ND
Essas
mulheres à frente de seus tempos abriram as portas da educação para as futuras
gerações. Se hoje em dia as meninas têm acesso à escola e à universidade, é
graças à coragem de Antonieta de Barros, Nísia Floresta, Dorina Nowill, Sonia
Guimarães, Anália Franco e muitas outras.
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