domingo, 24 de março de 2024

REFLEXÃO...01

 

O livro de Daniel não é sobre Daniel. O livro de Daniel é sobre o Deus de Daniel. Se o que você ensinou ou aprendeu com este livro altaneiro é que você deve “ousar ser um Daniel”, então temo que você tenha perdido totalmente o objetivo do livro.

Este livro é mais do que um conto de um herói que nos inspira a viver uma vida corajosa para Deus em meio a circunstâncias difíceis. Se pregarmos o livro assim, o Deus soberano e determinante do destino de Daniel é ironicamente afastado.

No entanto, este livro merece um lugar em sua programação de pregação. E não me refiro apenas aos primeiros seis capítulos – você sabe, aqueles com as histórias narradas com maestria. Pregar Daniel também significa aprofundar-se nas visões aparentemente estranhas dos seis capítulos finais. Ao longo de todo o livro, encontramos o Deus Altíssimo que governa soberanamente sobre os reis e reinos da história humana até que o Filho do Homem messiânico cumpra a consumação da história e leve seu povo para o eterno Reino de Deus.

Considere comigo vários motivos pelos quais sua igreja deveria ouvir esse fiel profeta da antiguidade.

1. Daniel ensina os cristãos a serem fiéis onde estão plantados

O livro começa tragicamente com o rei Nabucodonosor da Babilônia conquistando Judá e levando Daniel e seus três amigos (e os vasos do templo) para o exílio (1.1-7). Desde o início, Daniel deixa claro que este não é um conflito entre dois povos, mas entre falsos deuses e o Deus verdadeiro. Babilônia procura remodelar Daniel e seus amigos à sua imagem, imergindo-os em sua língua e literatura, ditando sua dieta e dando-lhes novos nomes babilônios que refletem os deuses de sua nova terra (1.4-7). Na Babilônia, o povo de Deus enfrenta uma dominação cultural e teológica completa.

No entanto, Daniel não trava uma guerra cultural porque ele entende que, embora ele possa estar no exílio, seu Deus não está. Daniel vive pela fé, onde Deus o colocou, permanecendo conforme ao seu Deus, não aos da Babilônia. Na verdade, no final do capítulo 1, aprendemos que Daniel permaneceu na Babilônia por mais de setenta anos, até o primeiro ano do rei Ciro. São sete décadas de fidelidade silenciosa, de resistência disciplinada em não amar este mundo e seus desejos passageiros, de uma longa obediência nesta mesma direção e em uma terra completamente hostil a Yahweh. Nosso povo não precisa ter uma visão desse tipo de discipulado?

Daniel tem uma palavra para os cristãos exilados: devemos ter uma visão de longo prazo no lugar onde Deus nos plantou. Quer sejamos cidadãos do país em que vivemos atualmente ou não, nossa verdadeira cidadania está no céu (Fp 3.20), e devemos viver nossa cidadania terrena à luz da celestial. Daniel nos ensina que os propósitos de Deus são longos, e devemos confiar nele, confiantes de que ele usará nossa fidelidade comum de formas mais extraordinárias do que podemos ver ou imaginar.

Muitas vezes, quando pensamos em Daniel, pensamos nos momentos heroicos e, no processo, ignoramos milhares de momentos comuns e invisíveis em que ele escolheu a fidelidade em vez da loucura. Assim deve ser para o povo de Deus hoje, pois vivemos no exílio, precisamente onde Deus nos colocou.

2. Daniel expõe a loucura da idolatria

Desde a grande estátua de ouro que Nabucodonosor ergueu (3.1-3,5,7) até a proclamação do rei Dario de que só ele seria o único mediador entre o povo de seu reino e os deuses (6.6-9), Daniel nos ensina que idolatria é loucura. Seja para glória ou destruição, nos tornamos no que adoramos (12.2-3). Neste livro repleto de visões de bestas que governarão impérios ao longo da história, Daniel deixa claro que aqueles que adoram a besta se tornarão eles próprios como bestas (4.28-33).[i] Não são os fugitivos reis deste mundo cuja palavra permanece, mas o Deus Altíssimo que governa o reino dos homens e o dá a quem ele quer (4:32; 7: 23-27; 9: 18-26; 11: 2 –45; 12: 2–3).

Em um mundo cheio de falsos deuses feitos por mãos humanas, Daniel revela que só o Deus que não foi feito por mãos humanas é digno de adoração (2.45; 8.25). Até que a Babilônia caia, o povo de Deus será seduzido por ídolos e precisará ver a idolatria em toda a sua tolice. Daniel nos mostra que não importa os quão atraentes os ídolos sejam, eles estão vazios. E essa é uma mensagem que nossas igrejas precisam ouvir continuamente.

3. Daniel defende o Deus soberano que reina sobre tudo

Em Daniel, encontramos o Deus que governa tudo para que todos saibam que o Altíssimo governa o reino dos homens e o dá a quem ele quer (4.25). Quer sejam os sonhos de Nabucodonosor nos capítulos 2 e 4, ou a confiança que sustenta as orações de Daniel nos capítulos 2 e 9, Daniel nos revela que Deus é soberano sobre tudo e todos. Ele muda os tempos e as estações; ele remove reis e estabelece reis (2.21).

Esse Deus evoca tal confiança em seu povo que Sadraque, Mesaque e Abednego poderiam exaltar seu poder soberano para libertá-los da fornalha ardente (3.17) e, ao mesmo tempo, dizer com segurança: “Se não, … não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste.” (3.18). O Deus de Daniel não foi feito por mãos humanas e não pode ser frustrado pelos ídolos.

Apesar de todas as interpretações variadas e mesmo estranhas que as visões dos últimos seis capítulos nos renderam, o que não se pode ter dúvidas é que elas estão gritando: “O Deus verdadeiro reina!” No final, não será a Babilônia ou a Pérsia, os Estados Unidos ou qualquer outro reino que subsistirá. Não, não – domínio, glória e reino serão dados a alguém como o filho do homem, e todos os povos, nações e línguas devem servi-lo (7.13-14).

Nosso povo precisa ouvir isso. Embora todos vivamos e amemos vários reinos terrenos, fazemos isso melhor quando os amamos à luz de nosso Rei Eterno e de seu reino eterno. A história humana será caracterizada pela ascensão e queda de reis e reinos, mas há um rei que governa sobre todos eles, e seu reino é para sempre (caps. 7-12). Não são boas novas para o povo de Deus em um mundo que oferece continuamente reis e reinos menores?

Conclusão

Longe de ser um livro irrelevante que se desviou da visão escatológica do Novo Testamento, Daniel o sustenta e o aprimora. Daniel fala ao povo exilado de Deus hoje (1Pe 1.1) que ainda espera por um rei melhor e um reino melhor.

Até o fim de nossos anos de exílio, seremos pessoas que vivem e esperam na fé. Felizmente, Daniel nos dá uma confiança sólida de que nosso Deus está cumprindo cada um de seus propósitos. Portanto, pastores, preguem este livro! Preguem-no completamente. E estejam confiantes de que seu povo precisa contemplar o Deus de Daniel e viver fielmente à luz de seu poder soberano, tanto em nossos dias quanto o fez nos dias de Daniel.

Comentários sugeridos

Gostei muito do Andrew Steinmann’s commentary. Escrito de um ponto de vista amilenista, Steinmann esclarece proveitosamente as principais questões do livro. Steinnman é luterano, então ele vê distinções entre lei e Evangelho em toda parte. Mas este é um comentário completo que é muito útil para pregadores.

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