ANÁLISE
Alexandre
Garcia: Sem freios e contrapesos
"Quando
há freios e contrapesos, como pensou Montesquieu, há equilíbrio. Quando não há,
existe a imposição de vontade, de arbítrio, e não da lei e do interesse médio
comum ou da maioria. Aí, não é democracia", lembra o jornalista
Em 8 de janeiro de 2023, um grupo de
apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiu e depredou as sedes dos
três Poderes, em Brasília. -
(crédito: Ton Molina/AFP)
Em 8 de
janeiro de 2023, um grupo de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiu
e depredou as sedes dos três Poderes, em Brasília. - (crédito: Ton Molina/AFP)
Quando
se fala sobre o funcionamento da democracia, começa-se com o sistema de freios
e contrapesos, em que os Três Poderes do Estado mutuamente se controlam. O
Conselho Nacional do Ministério Público dá exemplos disso: "O Legislativo
julga o Presidente da República e os ministros do Supremo; o Presidente da
República tem poder de veto a projetos aprovados no Congresso; o Judiciário tem
poder de anular atos inconstitucionais ou ilegais dos demais poderes".
É bom
lembrar que, pela Constituição, compete ao Ministério Público "zelar pelo
efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos
direitos assegurados". Ao Poder Legislativo cabe, expressamente,
fiscalizar e controlar os atos do Executivo e zelar pela preservação de sua
própria competência, como manda a Constituição.
Não
custa lembrar que, ao garantir a liberdade de informação sem censura, a
Constituição pressupõe que, entre os freios e contrapesos, há controle da mídia
sobre os órgãos do Estado. "Nenhuma lei conterá dispositivo que possa
constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer
veículo de comunicação social". Isso quer dizer que também a mídia integra
o sistema de freios e contrapesos.
Ainda
mais importante nesse controle são as garantias da cláusula pétrea da
Constituição: a livre manifestação do pensamento, vedado o anonimato; o direito
de resposta; o acesso à informação; a liberdade de reunião pacífica. Esse amplo
conjunto de forças é como uma convergente assembleia nacional em que poderes e
interesses se digladiam, debatem, se somam, se misturam e convivem, resultando
no que chamamos de democracia.
Quando
há freios e contrapesos, como pensou Montesquieu, há equilíbrio. Quando não há,
existe a imposição de vontade, de arbítrio, e não da lei e do interesse médio
comum ou da maioria. Aí, não é democracia. Sobretudo quando a vontade de poucos
se sobrepõe à Constituição e fere direitos básicos — aí é sinal de que o
sistema já se desequilibrou, sem freios e sem contrapesos.
Quando
a voz das ruas se perde na indiferença dos palácios; quando a voz da mídia se
cala e não reflete as opiniões nacionais; quando a voz dos legisladores se
acovarda e o Congresso deixa de ser caixa de ressonância da nação; quando há
vozes monocráticas — então é preciso pensar o que se quer para a atual e
futuras gerações de brasileiros, vitimadas pelo esquecimento da importância
vital da Constituição. Ou que, alienados ou ingênuos, não sabem que o Estado
existe para servir à Nação, e não para tolher-lhe as liberdades e garantias de
direito e justiça.
Todos
somos responsáveis mas, acima de tudo, devem responder perante a Nação aqueles
que, por dever de ofício, juraram manter, cumprir e defender a Constituição.
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