Alexandre Garcia: Governo encrencado
"Não é a oposição que mais enfraquece o governo, é o
próprio chefe do governo. Lula é política pura. A administração pública precisa
de técnicos, especialistas em cada assunto, e não apenas intuição", diz o
jornalista
BRASIL
Alckmin, Lula e Haddad no Planalto: cobrança do presidente
ocorre no momento em que o governo enfrenta desgaste no Congresso - (crédito: Ricardo Stuckert / PR)
Alckmin, Lula e Haddad no Planalto: cobrança do presidente
ocorre no momento em que o governo enfrenta desgaste no Congresso - (crédito:
Ricardo Stuckert / PR)
O desabafo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, há
poucos dias, em São Paulo, deixou a impressão de despedida. Queixou-se de que o
Brasil é encrenca e que é um país difícil de administrar. Depois disso, parece
uma catarse: "Às vezes, quem está em uma posição de poder não está fazendo
a coisa certa pelo país. Isso é a coisa mais triste da vida pública: quem pode
fazer a diferença nem sempre está pensando no interesse público. E devia estar,
né? Porque está em posição de poder, porque é grande empresário ou político com
mandato."
A quem estaria o ministro se referindo? Foi num evento do
Instituto Conhecimento Liberta. Significativo: parece estar se libertando.
Enquanto isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais uma vez, aplicava o
mau exemplo de Pilatos. Referindo-se à "medida provisória do fim do
mundo", que lhe foi devolvida, lavou as mãos: "A bola está nas mãos
do Senado, e na mão (sic) dos empresários. O Haddad tentou, não aceitaram.
Agora, encontrem uma solução".
O presidente não pode esquecer que ele é o chefe do
Executivo, responsável, portanto, pelo equilíbrio fiscal. Aliás, quem deu o
chute inicial nessa bola foi ele mesmo, ao quase dobrar o número de ministérios,
aumentando o custo do governo e, até agora, não praticou cortes no Estado
gordo, pesado e lento. A solução que tem aparecido é tributar.
Críticas
Com isso, recebeu críticas de um importante contribuinte de
campanha, o empresário Rubens Ometto. O presidente da Confederação da
Agricultura, João Martins, convidado, respondeu que não quer mais falar com
Lula. E o presidente da Federasul (Federação das Entidades Empresariais do Rio
Grande do Sul), Rodrigo Souza Costa, anunciou que agora vai elevar o tom porque
"um presidente sindicalista não está preocupado com o emprego no Rio
Grande do Sul atingido". Queixou-se da morosidade, inércia e pouco
efetividade do governo federal, que recebe mais impostos do estado em relação
ao que retribui em serviços e apoio — e ainda tem um ministro lá só para cuidar
dos assuntos do Rio Grande.
O investimento estrangeiro em bolsa também demonstra
desaprovação. Neste ano, foram retirados R$ 45 bilhões em investimento
estrangeiro da B3. Segundo fonte do J.P. Morgan, por estar o governo
demonstrando dificuldades em cumprir as metas fiscais.
Sucessivas medidas provisórias têm fracassado e, ainda
assim, o presidente baixou mais uma que já dá o que falar. A MP beneficia os
irmãos Batista, Joesley e Wesley, e saiu poucos dias depois que eles estiveram
no Palácio.
A da desastrosa importação de um milhão de toneladas de
arroz ainda está vigente — o fiasco não surtiu arrependimento. Não é a oposição
que mais enfraquece o governo, é o próprio chefe do governo. Lula é política pura.
A administração pública precisa de técnicos, especialistas em cada assunto, e
não apenas intuição.
Mas a intuição parece cansada, ou desatualizada, passada no
tempo. As lideranças do governo e seus seguidores notam isso. O líder do
governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), queixou-se da falta de
comando. Tem vindo à tona queixas entre ministros e de parlamentares aliados. O
problema é que isso prejudica o país inteiro.
Não é o país que é encrenca, é o governo que está
encrencado.
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