A Bíblia, a polarização e a reconciliação
Por Erní Walter Seibert
O título dessa breve reflexão é, na verdade, uma pequena
provocação. Num mundo em que tudo só pode ser uma coisa ou outra, a pergunta a
respeito da Bíblia ser ou científica, ou negacionista, pode até ser feita por
alguém. A lógica da pergunta está na polarização que, a partir da filosofia
dialética, parece ter tomado conta de grande parte do pensamento humano. Se não
é uma coisa, é outra. Alguém que tem dúvidas sobre algo que é dito científico,
pode ser considerado negacionista, por exemplo. A própria ciência não tem esse
tipo de radicalismo. A ciência questiona, levanta hipóteses, testa as hipóteses
e forma, dessa maneira, suas convicções.
Quando olhamos alguns textos bíblicos, à primeira vista,
parece que, aqui e ali, temos o mesmo tipo de pensamento. Em Lucas 11.23, está
registrada a palavra de Jesus que disse: “Quem não é por mim é contra mim; e
quem comigo não ajunta espalha.” (NAA). A afirmação de Jesus é exclusivista.
Exclusivo é quando alguém exclui todos os demais. No entanto, em outro momento,
o mesmo Senhor Jesus diz: “Pois quem não é contra nós é a favor de nós.” (Mc
9.40, NAA). Aqui, a palavra de Jesus é inclusiva. Ou seja, o posicionamento de
Jesus é mais profundo do que uma simples polarização.
Indo agora ao tema que o título de nossa reflexão propõe,
podemos dizer que a Bíblia não é um livro de ciência, no sentido restrito do
tema. A Bíblia tem diversos gêneros literários e nem todo o seu conteúdo pode
ser conceituado como um escrito científico. A poesia, por exemplo, que é um dos
gêneros mais importantes no texto bíblico, não pode ser considerada a melhor
maneira de expor verdades científicas. Isso não significa que o que a Bíblia
expõe seja contrário à ciência.
Um Deus de reconciliação
Quando se contrapõe Bíblia e ciência se comete um erro de
raciocínio. Bíblia e ciência não estão em contraposição. Em nenhum momento a
Bíblia condena a ciência. Ao contrário, a Bíblia talvez seja o texto que mais
provocou o ser humano a desenvolver a ciência de maneira positiva. Não é por
fruto do acaso que grande parte do desenvolvimento da ciência humana se
desenvolveu a partir de instituições de ensino e pesquisa que tinham por base
uma visão bíblica. Mas a intenção do texto bíblico não é a de ser um texto
científico.
Certamente uma volta ao estudo da Bíblia ajudará a
humanidade a ir além da polarização que tanto afeta a vida da sociedade no
mundo inteiro. O que o texto bíblico propõe ao ser humano não é a polarização.
O apóstolo Paulo afirma na sua segunda carta aos Coríntios, capítulo 5.18-20,
diz: “Ora, tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio
de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em
Cristo reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos seres
humanos e nos confiando a palavra da reconciliação. Portanto, somos
embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por meio de nós. Em nome
de Cristo, pois, pedimos que vocês se reconciliem com Deus.” (NAA). A intenção
de Deus não é polarizar, mas reconciliar. A intenção de Deus é reconciliar o
ser humano com Deus e reconciliar os seres humanos uns com os outros.
Trocar a polarização pela reconciliação, é uma proposta de
paz. Essa mudança na maneira de ver as coisas poderá ajudar em muito o momento
atual pelo qual a humanidade está passando. A proposta que a leitura bíblica
nos faz é que não fiquemos reduzidos à mera polarização. Temos um ministério da
reconciliação que a Bíblia nos propõe. E isso é realmente uma boa notícia.
Erní Walter Seibert, diretor executivo da Sociedade Bíblica
do Brasil e Vice-Presidente das Sociedades Bíblicas Unidas.
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