Pesquisa
Wikipédia
Dominatrix
Dominatrix
(também conhecida em português apenas como dominadora e também comumente
denominada como domme) é uma mulher que exerce o papel dominante em práticas de
BDSM. As dominadoras podem ter qualquer orientação sexual e os submissos dela
podem ser de qualquer gênero. O papel de uma dominatrix não necessariamente
envolve dor física em relação ao submisso. O seu domínio também pode ser
verbal, envolvendo tarefas consensuais humilhantes ou servidão.
A
palavra dominatrix é geralmente associada à mulheres que realizam serviço pago
de dominação, pois o termo dominatrix é pouco usado fora do contexto de serviço
profissional dentro da comunidade BDSM. O plural de dominatrix pode ser
"dominatrixes" ou "dominatrices".[1] Dominação feminina ou
femdom (abreviação de female domination) refere-se a atividades de BDSM nas
quais a figura dominante é do sexo feminino.
Argumenta-se
que a história da dominatrix originou-se há milhares de anos nos rituais da
Deusa Inanna (ou Ishtar, como era conhecida em acadiano), na antiga
Mesopotâmia. Antigos textos cuneiformes citam exemplos de uma mulher poderosa
exibindo comportamentos sexuais dominantes e forçando deuses e homens a se
submeterem a ela.[2]
Obras
artísticas do século XVI representando o conto de Fílis e Aristóteles. À
esquerda: gravura feita por Bartholomeus Spranger. À direita: xilogravura feita
por Hans Baldung.
O conto
de Fílis e Aristóteles, que popularizou-se e ganhou inúmeras versões do século
XII em diante, conta a história de uma mulher dominadora que seduziu e dominou
o intelecto masculino do maior dos filósofos. Na história, Fílis obriga
Aristóteles a ficar de quatro no chão para que ela cavalgue nas costas dele
enquanto o chicoteia e o humilha verbalmente. [3][4]
A
profissão de dominatrix só foi se originar com a especialização de bordéis. Já
na década de 1590, há o registro de flagelação de um submisso em um ambiente
erótico.[5] A profissão aparece em gravuras eróticas da época, como na gravura
do Museu Britânico "The Cully Flaug'd" (1674-1702), e em relatos de
livros proibidos que registram atividades praticadas por mulheres
dominadoras.[6]
No
século XVIII no Reino Unido, as "Disciplinadoras de Bétula"
anunciaram seus serviços em um livro mascarado como uma coleção de palestras ou
peças teatrais, intituladas Fashionable Lectures (em português: "Palestras
da Moda"). Isso incluiu o nome de 57 mulheres, algumas atrizes e cortesãs,
que mantinham uma sala com varas e chicotes e que cobravam de seus clientes um
guinéu por sua "palestra".[7]
Ilustração
criada pelo artista belga Luc Lafnet em 1931. A dominadora está sentada
segurando um chicote enquanto o submisso está no chão beijando os pés dela.
A era
de ouro
O
século XIX é caracterizado como a era de ouro das dominadoras na Europa. Pelo
menos vintes estabelecimentos foram documentados de ter existido na década de
1840 no Reino Unido, apoiados inteiramente por práticas de flagelação e
conhecidas como "Casas da Disciplina", distintas dos bordéis.
Mrs Chalmers, Mrs Noyeau, Mrs Jones, Mrs Theresa
Berkley, Bessy Burgess e Mrs Pyree foram as dominatrixes mais notáveis da
época. Theresa
Berkley, que operava seu estabelecimento na Charlotte Street, no distrito
central de Londres em Marylebone, foi a mais famosa dessas dominatrixes.[8] Há
registros de que ela utilizou diversos instrumentos como chicotes e bastões,
para castigar e punir seus clientes do sexo masculino, bem como o Berkley
Horse, uma máquina de flagelação especialmente projetada por ela e um sistema
de suspensão de polias para levantar os submissos do chão.[9]
Em
1869, uma aspirante a escritora chamada Fanny Pistor se apresentou sob o
pseudônimo de Baronesa Bogdanoff para o escritor Leopold von Sacher-Masoch para
ajudá-la com dicas de escrita. Os dois acabaram tendo um relacionamento
centrado em obediência e servidão onde Fanny Pistor era a dominatrix e ele seu
escravo. Esse relacionamento rendeu a obra A Vênus das Peles, escrito e
publicado por Sacher-Masoch em 1870, que foi um trabalho precursor sobre
relacionamento de dominação e submissão que influenciou diversas outras obras
BDSM nos séculos seguintes.[10][11] O termo "masoquismo" foi
posteriormente derivado do nome do autor Sacher-Masoch pelo psiquiatra Richard
von Krafft-Ebing no estudo forense Psychopathia Sexualis de 1886.[12]
A era
moderna
O
estilo com roupas de couro e borracha de látex só surgiu no século XX,
inicialmente na fotografia comercial fetichista e que posteriormente foi
adotado pelas dominadoras.[13] Em meados do século XX, as dominadoras operavam
de maneira muito discreta e clandestina, o que dificulta seu rastreamento em
registros históricos. Existem algumas fotografias de mulheres que dirigiam seus
negócios de dominação em Londres, Nova Iorque, Haia e Hamburgo,
predominantemente em sépia e em preto e branco, além de artigos digitalizados
de revistas. Entre elas, está a Miss Doreen, de Londres, cujos clientes
incluíam os principais políticos e empresários britânicos.[14] Em Nova York, a
dominatrix Anne Laurence foi o principal nome da década de 1950, com Monique
Von Cleef chegando no início dos anos 1960 e alcançando as manchetes nacionais
quando sua casa foi invadida pela polícia em 22 de dezembro de 1965.[15] Von
Cleef transferiu seus negócios para Haia na década de 1970, local que acabou se
tornando uma das capitais mundiais das dominadoras na época.[16] Domenica
Niehoff trabalhou como dominatrix em Hamburgo e apareceu em talk shows na televisão
alemã a partir da década de 1970, em campanhas pelos direitos das profissionais
da indústria do sexo.[17]
Uma das
dominatrixes mais notáveis do século XX foi Catherine Robbe-Grillet, que também
foi escritora e atriz. Ela é autora de notáveis obras do universo BDSM como
L'Image e Cérémonies de femmes. Apesar de ser uma dominatrix famosa, ela nunca
aceitou pagamento por suas dominações. Catherine afirmou numa entrevista que
"se alguém está pagando, então está no comando. Eu preciso permanecer livre.
É importante que todos os envolvidos saibam que eu faço isso apenas por
prazer".[18] Ela identifica-se como uma "feminista pró-sexo", e
afirma que "apoia o direito de qualquer homem ou mulher de trabalhar com a
indústria do sexo, se essa for a sua livre escolha".[19]
Em
1996, foi fundada na República Tcheca uma micronação chamada Other World
Kingdom, num território de 3 hectares que adota uma monarquia absoluta
matriarcal e é comandado por dominatrixes. Nessa sociedade, todos os homens são
tratados como servos e seres inferiores, tendo que enfrentar regras rígidas e
normas de conduta, além de sofrerem punições e passarem por câmaras de tortura
e prisões subterrâneas comandadas por mulheres dominantes.[20] Devido à
problemas financeiros, o local deixou de existir fisicamente como uma
micronação em 2008 e atualmente as instalações da Other World Kingdom são
abertas apenas para atividades restritas como filmagens, aprisionamento de
submissos do sexo masculino, realização de eventos e visitação de dominadoras
que possuem a cidadania do local.[21][22]
Dominatrix
profissional Ezada Sinn chutando um homem nos testículos, prática conhecida
como ballbusting.
A
dominatrix profissional, também chamada de dominadora profissional ou pro domme,
é a mulher que exerce um trabalho profissional de dominação, onde clientes
submissos pagam para terem algum fetiche realizado. Um compromisso com uma
dominatrix é chamado de "sessão" e a atividade muitas vezes é
realizada em um espaço profissional com equipamento especializado, conhecido
como "masmorra" ou dungeon.
Dominadoras
profissionais não são prostitutas, apesar de haver interações eróticas no
trabalho delas. [23] Na maioria dos casos, dominadoras profissionais não
estabelecem relações sexuais com seus clientes, não ficam nuas durante a sessão
e não permitem que os clientes encostem nelas. Bondage, spanking, ballbusting e
humilhação erótica são alguns dos fetiches mais oferecidos, porém, cada
dominatrix profissional tem seus próprios fetiches e suas próprias preferências
sexuais dentro do BDSM, portanto, cada uma possui sua própria variedade de
serviços a oferecer. [24][25]
Quando
Mistress Raven, dona do Pandora's Box, um dos estabelecimentos BDSM mais
luxuosos de Nova York, foi questionada pela revista NY Rock sobre o que faz
tantos homens poderosos (como banqueiros, políticos e empresários)[26] pagarem
por suas sessões, Mistress Raven afirmou que "é porque os homens não podem
mostrar emoções. É dito que eles sempre devem ser os fortes. Eles devem estar
no comando, dirigir seus negócios, dirigir suas famílias, pagar as contas. E
essa pressão, essa responsabilidade é um presságio. Eles precisam perder essa
pressão, esse controle. E é isso que a dominatrix faz por eles".[27]
Algumas
dominadoras profissionais também praticam a dominação financeira, mais
conhecida como findom. Esse é um fetiche onde o submisso deve enviar dinheiro
ou presentes à dominadora de acordo com as ordens dadas por ela. Estar rendido
financeiramente a uma dominadora é visto como prazeroso para os praticantes
desse fetiche. Na maioria dos casos de findom, a dominatrix e o submisso não se
conhecem pessoalmente e todas as interações são feitas na internet.[28]
O termo
dominatrix é pouco usado fora do contexto de serviço profissional dentro da
comunidade BDSM, portanto, a palavra dominatrix é geralmente associada
exclusivamente à mulheres que realizam serviço pago de dominação. Para
diferenciar as dominadoras profissionais das mulheres que se identificam como
dominatrix, mas que não oferecem serviços pagos de BDSM, as dominadoras
não-profissionais são ocasionalmente chamadas de lifestyle dominatrix.[29]
Porém, muitas dominadoras profissionais também são lifestyle dominatrix, ou
seja, além de sessões pagas com clientes submissos, elas se envolvem em sessões
recreativas não remuneradas ou podem incorporar o BDSM em suas próprias vidas e
relacionamentos particulares.[30]
Intitulação
da dominatrix
As
dominatrixes costumam adotar um pseudônimo no meio profissional. A estrutura de
nome mais comum para dominatrix é de um título seguido de um nome próprio
(exemplo: Mistress Theresa), porém, também é comum dominatrixes adotarem um
pseudônimo utilizando um título seguido de nome e sobrenome (exemplo: Mistress
Theresa Berkley) ou apenas um nome fictício sem o título antes do nome
(exemplo: Theresa Berkley).[31]
No
Brasil, Rainha é um título comum utilizado por dominatrixes, entretanto, a
maior parte dos títulos adotados são de língua inglesa, sendo que Mistress é o
mais comum. Entre outros títulos que são utilizados por dominadoras
profissionais em todo o mundo, os mais comuns são Lady, Goddess e Queen de
origem da língua inglesa e Madame, que é um título que existe na língua
portuguesa, mas que se origina na língua francesa.[31]
Dominatrix
segurando uma palmatória e vestindo um vestido de látex, meia-calça arrastão e
salto-alto.
A
dominatrix é um arquétipo feminino geralmente associado a trajes e adereços
específicos desenhados pela cultura popular para significar o seu papel de
mulher poderosa, forte e dominante, e que pode ou não estar ligada a imagens
fetichistas sexuais.
Dominatrix
segurando um bastão e vestindo um espartilho de couro, luvas de cetim e
meia-calça.
Uma das
roupas associadas à dominatrix é o catsuit. Historicamente, o catsuit de couro
preto entrou para a cultura fetichista na década de 1950 com a revista AtomAge
e suas conexões com o designer de moda fetichista John Sutcliffe. A transição
para a cultura mainstream ocorreu com catsuits sendo utilizados por
protagonistas femininas fortes em programas populares de TV da década de 1960,
como Os Vingadores, e por super-heroínas ou vilãs de histórias em quadrinhos,
como a Mulher-Gato.
As
dominatrixes geralmente utilizam roupas feitas de materiais fetichistas, como o
PVC, o látex e o couro, sendo que este último foi trazido para o mundo
fetichista pela subcultura leather. Um calçado fortemente ligado à imagem da
dominatrix é a bota de cano longo, historicamente popular na moda fetichista,
além do salto-alto. Meia-calça do tipo arrastão também é popular entre as
dominatrixes. Espartilhos apertados de couro, luvas de cetim e espartilho de
pescoço também são acessórios ocasionalmente utilizados.
A
linguagem corporal da dominatrix é frequentemente representada pelo uso de uma
linguagem corporal forte e dominante. Os adereços que ela pode carregar também
pode significar fortemente seu papel como dominatrix, como carregar um chicote,
bastão ou palmatória.
Dominadoras
profissionais podem extrair o estilo de suas roupas de imagens convencionais do
papel de dominatrix e adaptá-las para criar seu próprio estilo individual.
Algumas dominadoras contemporâneas recorrem a uma gama eclética de arquétipos
femininos fortes, incluindo a deusa, a super-heroína, a femme fatale, a rainha,
entre outras figuras. [31]
Sem comentários:
Enviar um comentário