quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

A DIREITA APRUME-SE...

 

A DIREITA APRUME-SE...

 

A direita venceu uma eleição e perdeu todas as outras batalhas. Não conquistou um canal de televisão. Não fundou uma universidade. Não formou um corpo de juristas capaz de fazer frente ao ativismo judicial. Não ocupou uma única cadeira relevante no sistema que realmente governa o país. E quando o governo acabou, acabou junto qualquer vestígio institucional da sua passagem.

 

O que restou? Um ex-presidente inelegível, presos políticos esquecidos nos calabouços da República e uma direita fragmentada que gasta mais energia criticando Bolsonaro do que combatendo o sistema que o destruiu.

 

Os críticos da cereja

 

Existe hoje um gênero curioso de comentarista político. Apresenta-se como direitista, mas sua principal atividade é criticar a direita. Não a esquerda no poder, não o sistema hegemônico, não os juízes que legislam, não os burocratas que sabotam, não os jornalistas que mentem. Critica Bolsonaro. Critica a “falta de articulação”. A “retórica polarizadora”. A “incapacidade de dialogar”. A “ausência de um projeto”.

 

É uma crítica que soa sofisticada nos salões, mas revela uma incompreensão fundamental do problema. Ou pior: revela a recusa deliberada de compreendê-lo.

 

Criticar Bolsonaro por não ter conseguido reformar o sistema é como criticar um náufrago por não ter construído um transatlântico com os destroços. Ele tinha o quê? Um mandato de quatro anos, um Congresso hostil, um Judiciário francamente inimigo, uma mídia dedicada à sua destruição vinte e quatro horas por dia, uma burocracia que sabotava cada decreto, cada nomeação, cada iniciativa. Tinha generais que acreditavam em “pacificação” enquanto o inimigo acreditava em aniquilação. Tinha aliados que o abandonaram na primeira dificuldade, assessores que vazavam informações para a imprensa, ministros que conspiravam nos bastidores.

 

E tinha, sobretudo, uma direita que nunca se deu ao trabalho de construir as bases institucionais que permitiriam a qualquer governo de direita sobreviver.

 

Onde estavam, durante os quarenta anos de marcha gramsciana, os intelectuais conservadores que deveriam ter disputado as universidades? Onde estavam os empresários que deveriam ter financiado jornais, revistas, think tanks, centros de formação? Onde estavam os juristas que deveriam ter criado uma doutrina capaz de fazer frente ao progressismo togado? Onde estavam os artistas, os cineastas, os romancistas, os dramaturgos? Onde estão os estudantes de universidades públicas de direita conquistando diretórios acadêmicos?

 

Estavam, na melhor das hipóteses, ganhando dinheiro. Na pior, financiando a esquerda em troca de paz social e de isenções fiscais. Quando acordaram, era tarde. E agora querem cobrar de Bolsonaro a conta de décadas de omissão.

 

O paradoxo da civilidade

 

Há algo de profundamente desonesto na exigência de “civilidade” que essa direita faz ao bolsonarismo. É como exigir boas maneiras de quem está sendo espancado.

 

O sistema não opera com civilidade. O sistema opera com inquéritos sigilosos, prisões preventivas por tempo indeterminado, quebras de sigilo bancário e telefônico sem fundamentação, buscas e apreensões que mais parecem invasões militares, censura prévia a jornalistas e parlamentares, cassação de mandatos por “abuso de direito”, inelegibilidade retroativa por “atos antidemocráticos”. O sistema persegue, prende, exila, destrói reputações e carreiras. O sistema usa a lei como arma e o Direito como disfarce.

 

Mas a direita civilizada quer que Bolsonaro seja “moderado”. Que fale baixo. Que respeite as instituições que o perseguem. Que dialogue com quem quer destruí-lo. Que aceite as regras de um jogo em que só um dos lados pode jogar.

 

É a mesma direita que, diante do lawfare sistemático, pondera sobre “excessos de ambos os lados”. Que, diante de presos políticos sem julgamento, preocupa-se com o “discurso de vitimização”. Que, diante da censura explícita, lamenta “a polarização que impede o debate”. Uma direita que quer ser aceita pelo sistema que deveria combater. Que busca respeitabilidade nos mesmos salões onde se decide a sua destruição.

 QUEM CRITICA BOLSONARO CRITICA A CEREJA, NÃO O BOLO

 

A profecia ignorada de Olavo de Carvalho e a cegueira voluntária de uma direita que prefere mirar no sintoma a enfrentar a doença

 

Há um tipo peculiar de cegueira que acomete certas inteligências. Não é a cegueira do ignorante, que desconhece por falta de acesso à informação. É a cegueira do homem que, diante de um incêndio, critica o bombeiro por ter molhado o tapete. Enxerga o detalhe, ignora a catástrofe. Vê a cereja, mas finge não ver o bolo.

 

Em 29 de novembro de 2016, quando os gritos de “Bolsonaro 2018” já ecoavam pelas ruas de um Brasil exausto do lulopetismo, Olavo de Carvalho publicou um texto que deveria ter sido lido, relido e memorizado por todo aquele que se pretendia de direita. Não foi. O texto dizia:

 

“Tantos, hoje, dizem querer o Brasil de volta, e, em vista disso, gritam: ‘Bolsonaro 2018’. Não quero ser estraga-prazeres, mas os comunistas não começaram a nos tomar o Brasil pela Presidência da República. Tomaram primeiro as universidades, depois a Igreja Católica e várias das protestantes, depois os sindicatos, especialmente de funcionários públicos, depois a grande mídia, depois o sistema nacional de ensino, depois o sistema judiciário, depois os partidos políticos todos, e por fim, depois de quarenta anos de esforços, a cereja do bolo: a Presidência da República.”

 

E concluía com a pergunta que ninguém quis responder: “Vocês acham REALMENTE que, tomando a cereja de volta, o bolo inteiro virá junto?”

 

A resposta veio da história. E foi negativa.

 

O bolo que ninguém quer ver

 

Antes de criticar a cereja, convém examinar o bolo. Ele tem 103 anos de preparo.

 

Começa em março de 1922, quando 73 militantes fundaram o Partido Comunista Brasileiro num congresso clandestino em Niterói. Setenta e três pessoas. Cem anos depois, a esquerda controla as principais universidades do país, a maior parte do Judiciário, a quase totalidade da grande imprensa, o aparelho sindical, as burocracias estatais, as ONGs bilionárias, os organismos internacionais que pautam nossas políticas públicas e, naturalmente, a Presidência da República. De 73 militantes reunidos num porão a um sistema hegemônico que atravessa gerações e sobrevive a qualquer alternância eleitoral. Isso é o bolo.

 

A esquerda não chegou ao poder pela via eleitoral. Chegou às eleições pelo poder. Primeiro conquistou mentes, depois votos. Primeiro ocupou redações, cátedras, púlpitos e tribunais, depois ocupou ministérios. O gramscismo não é teoria conspiratória de manual mimeografado. É o método que está documentado nas atas do Foro de São Paulo, nos currículos das faculdades de humanas, nos julgamentos do Supremo Tribunal Federal, nas pautas editoriais da Folha de S. Paulo. Basta olhar.

 

Quando Jair Bolsonaro assumiu a Presidência em janeiro de 2019, encontrou um Estado aparelhado por quatro décadas de ocupação sistemática. Treze ministros do STF haviam sido indicados pelo PT. Lula nomeou oito, Dilma nomeou cinco. Os concursos públicos selecionaram gerações de burocratas formados por professores marxistas. As agências reguladoras respondiam a interesses que nada tinham a ver com o interesse nacional. A Polícia Federal investigava segundo critérios que pareciam obedecer a uma hierarquia paralela. Os generais que cercavam o presidente tinham sido treinados para manter a ordem, não para fazer revolução. E as revoluções, como Olavo nunca cansou de repetir, não se fazem de cima para baixo.

 

Era um homem só contra um sistema. A cereja contra o bolo.

 

A profecia cumprida

 

Seis meses depois da posse de Bolsonaro, em 26 de junho de 2019, Olavo voltou ao tema. O tom já não era de advertência, mas de constatação melancólica:

 

“Eleger um presidente sem levar isso em conta é o mesmo que puxar a cereja na esperança de, com isso, trazer o bolo junto.”

 

E acrescentou a sentença que resume toda a tragédia: “Se você vence uma eleição, mas não conquista um único lugarzinho na mídia ou no sistema universitário, você garante que essa vitória será provavelmente a última.”

 

Foi exatamente o que aconteceu.

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