segunda-feira, 22 de maio de 2023

REFLEXÃO

 

 
O marketing e a antiarte.

  
Anderson C. Sandes 


Há uns meses escrevi sobre as propagandas e o esvaziamento da linguagem, inclusive em propagandas políticas. Desta vez, trato do marketing enquanto mera técnica utilitária, afastando-se da arte.
A industrialização e a pós-industrialização trouxeram um grande problema para o mercado — e também uma solução —: a concorrência. E para sair na frente da concorrência vale a máxima “a propaganda é a alma do negócio”. Mas não só as empresas concorrem entre si para venderem seus produtos, as pessoas também desejam ser “consumidas”, em suas opiniões, conteúdos, conhecimentos, entretenimento, etc., e aí também se apropriam da máxima “a propaganda é a alma do negócio”.
Nesse espírito, o marketing digital é a disciplina do século, não está nos currículos escolas defasados, mas está na boca do povo, em menor ou maior grau. Alguns até diriam que o marketing seria uma “nova” forma de arte. Que a propaganda é coisa velha é indiscutível, dariam volumes para dissertar sobre isso. Mas que seria uma arte, a discussão pode ser interessante e, como artista, arrisco a dar um pitaco por ora. Tentarei não ser pedante.

No sentido bruto, etimológico, sim, seria uma arte. “Arte” em grego é techne: técnica, manual. Mas num sentido mais abstrato e poético não. Por mais que haja técnica no marketing, de modo geral, não há intenção alguma de alcançar o belo, o transcendente, de expressar íntimos sentimentos, individuais ou universais. O “eu lírico” no marketing não existe.
As peças de propaganda, em sua aparente ordem e originalidade, são de uma mera formatação evanescente (pura técnica, manualzinho, fórmulas), vazias, sem transcendência, tendo o belo como mero acessório, não como fim, utilitarista tanto quanto a arquitetura bauhaus. Historicamente muitas artes foram utilitárias, desde a pintura rupestre como ritual ao mais elevado poema para registrar feitos heróicos, mas o marketing, a propaganda, são puro utilitarismo. Em resumo, o tal marketing pessoal utilizado por indivíduos de todo tipo na internet é mera ferramenta de fingimento, para PARECEREM belos, PARECEREM virtuosos, PARECEREM sábios, etc. O marketing é a antiarte da humanidade anti-humana.


Anderson C. Sandes

Poeta, cronista, ensaísta. Articulista no PHVox. Vivo de poesia pra não morrer de razão. Reflexões sobre arte e literatura. Autor de Baseado em Fardos Reais, de Arte & Guerra Cultural: preparação para tempos de crise, e organizador da antologia Quando Tudo Transborda.

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