terça-feira, 16 de maio de 2023

CRENDICES DOS INDÍGENAS 9a.Parte

 

 9ª.Parte CRENDICES DOS INDÍGENAS...


A Jurema sagrada – Resiliente religião de matriz indígena do Nordeste do Brasil
Alexandre L’Omi L’Odò

Classificar a Jurema não é tarefa fácil. Para explica-la de forma detalhada, seria necessário um texto de muitas laudas. Aqui, de forma muito resumida, introduzirei este tema. A Jurema Sagrada é uma religião de matriz indígena do Nordeste do Brasil. Sua prática já existia em nossas terras antes da chegada dos colonizadores portugueses e dos escravizados africanos no século XVI, pois os indígenas aqui já estavam.
A pouca documentação histórica que relate as práticas religiosas destes índios nos séculos XVI a XX nos deixaram uma lacuna difícil de ser preenchida por completo no campo comum da história.
Por outro lado, a permanência da forma de ser indígena na nossa língua, comida, imaginário e religiosidade, comprova o que os documentos não registraram — afinal eram escritos pelos colonizadores opressores brancos. Os terreiros de Jurema, maior livro oral acerca da cultura indígena e, de certo modo, africana, demonstram a tradição em seus traços culturais e filosóficos, nos limites da antropologia, sociologia e da história.
Os cânticos sagrados dos terreiros são um dos elementos mais fortes de preservação do “ser da matriz indígena”, na Religião da Jurema. Neles podemos ver a história desse povo cantada sistematicamente, em linhas melódicas que revelam a sua filosofia e imaginário.
Conhecida nas décadas de 1930 a 1970 pelos antropólogos também como Catimbó, esta prática religiosa se manteve viva, mesmo após todo o holocausto indígena que dizimou quase por completo as diversas etnias/civilizações deste país. Contudo, sua presença e força no mundo urbano das cidades do Nordeste, sobretudo, em Recife e Região Metropolitana, é muito forte.
Essa potência nos revela a sua presença resiliente e que resiste aos séculos, se ressignificando e se imbricando em outras religiões. Tudo isso, para desenvolver a complexa dinâmica de sobrevivência de suas práticas neste ocidental, capitalista, judaico-cristão, racista e embranquecido.
A religiosidade da Jurema tem como tronco central juremológico uma árvore sagrada: a Jurema Preta (mimosa hostiles ou mimosa tenuiflora). Esta árvore, que ao mesmo tempo é elemento essencial para o preparo da bebida sagrada de feitos transcendentais psicoativos de mesmo nome, também é elemento mitológico que compõe o centro do mundo encantado das Cidades da Jurema (que seriam sete, quatorze ou vinte e um reinos e cidades encantadas/espirituais).
Composta de um largo cabedal de saber medicinal, a Jurema tem em seus sacerdotes (juremeiros e juremeiras) o hospital dos pobres, afinal, onde o Estado não chega com políticas públicas de saúde, lá esta a Jurema para curar nas comunidades marginalizadas onde ela resiste até hoje. O cachimbo e o maracá são os elementos identitários mais visíveis materialmente da presença indígena nesta religião.
Com forma e metodologia própria, os juremeiros e juremeiras se utilizam destes elementos de poder e “ciência” para manipular magicamente o seu mundo. A fumaça é teologicamente uma das forças mais importantes desta tradição. Ela é a responsável pelo contato com o mundo espiritual e por ser a forma de poder mais eficaz da tradição, utilizada para todos os fins e desejos.
A Jurema não é Umbanda. Muitas pessoas as confundem, mas elas não podem ser confundidas. A Umbanda tem 109 anos de existência no Brasil, a Jurema já estava aqui séculos antes. Esta é a primeira diferença. As demais são que a Jurema se utiliza de elementos próprios que não são ligados às práticas umbandistas, como o cachimbo, o tronco da jurema, os mestres e encantados etc. Portanto, não devemos confundi-las. Creio que o que os pesquisadores queiram dizer sobre a Umbanda no Nordeste, careça de maior observação. Cabendo, talvez, a possibilidade de que não haja uma umbanda nesta região, mas sim uma Jurema umbandizada, a partir provavelmente da década de 1950.
A Jurema tem forte presença hoje em PE, PB, e RN. Sendo encontrada também em AL, SE e CE. Em Pernambuco, segundo os dados do último mapeamento dos terreiros (2010), a Jurema é mais de 70% dos 1.261 terreiros entrevistados. A partir daí podemos perceber que ela embora “desconhecida”, é pujante e predominantemente forte em Recife e RM, ocupando seu espaço e dialogando com o mundo contemporâneo como qualquer outra religião, de forma dinâmica e não estática. Muito temos para falar sobre a Jurema, em minha dissertação de mestrado intitulada Juremologia: uma busca etnográfica para sistematização de princípios da cosmovisão da Jurema Sagrada, pude escrever mais sobre o tema em 300 páginas de estudos no campo da história e ciências da religião.
“Jurema Preta senhora rainha, és dona da Cidade, mas a chave é minha. É tupereneguê, é tuperenaguá, salve o povo da Jurema, deixa os mestres trabalhar”.

 
*********************************************


TIPOS DE ESCRAVIDÃO:
Escravidão Branca...
Escravidão dos Judeus... Bíblica, Nazista...
Escravidão Espiritual, Psicológica...
Escravidão Sexual...
Escravidão Moral, Política, Social...
Escravidão Cultural...
Escravidão dos Sentidos...
Somos escravos dos sentidos, do prazer, da ignorância...

Sem comentários:

Enviar um comentário

REFLEXÃO...03

  Eleição e livre-arbítrio: um assunto complexo de maneira fácil   Meu privilégio em apresentar este livro decorre de algumas razões: o ...