https://youtu.be/87fH3Nk4iiA?si=XT22oYNcmmvbZ1Du
//A.Nicodemus //Pai Nosso//
A
armadilha democrata para Donald Trump
Paulo Henrique Araujo, 3 de julho de 2024 0 39
O
debate presidencial na CNN levantou a poeira do marasmo eleitoral nos Estados
Unidos. Ficou claro e evidente que Donald Trump saiu-se melhor do que Joe Biden
no certame. Porém, este cenário esconde problemas muito maiores. Vamos
compreender?
O
debate presidencial tão adiantado foi um tempero novo neste cenário eleitoral,
primeiro por nenhum dos dois políticos serem oficialmente os candidatos por
seus partidos, afinal, as convenções acontecerão em julho e agosto.
O
segundo ponto é justamente por ser Joe Biden, o atual presidente, a ter
desafiado Trump para um debate tão cedo.
Na
abertura do programa na CNN, a âncora Dana Bash deixou claro: “Este debate será
entre os prováveis candidatos por seus partidos”.
OK, mas
qual a importância? Como esperado, o desempenho de Joe Biden foi abaixo da
média, com seus congelamentos típicos, dificuldades na fala, confusão mental
entre outros pontos. Biden chegou a afirmar que seu filho, Beau, faleceu
servindo o exército no Iraque, o que não é fato.
No
clima de torcida e tensão eleitoral, foi feita uma festa nas redes sociais com
o prato cheio oferecido por Biden para os apoiadores e eleitores de Donald
Trump. Porém, precisamos de um olha bem mais profundo sobre a situação.
Separarei em tópicos:
1. O
desempenho de Donald Trump no debate
Obviamente,
comparado a Biden, Donald Trump foi bem no debate, mas analisando friamente sua
apresentação, foi um desempenho no máximo nota 6.
Trump
administrou mal o tempo de resposta para suas perguntas, perguntas importantes
com um peso narrativo contra ele foram simplesmente ignoradas, fazendo com que
os apresentadores o pressionassem por duas ou três vezes para responde-las.
Em
temas importantes, como a epidemia de fentanil, ele simplesmente ignorou a
pergunta, preferindo focar no tema anterior do debate. Com o tema do fentanil
Trump poderia em uma tacada só mostrar a falência do Partido Democrata em
tratar da questão ao nível federal e estadual, pois os estados controlados por
democratas são os que mais sofrem com a droga.
Ele
poderia inclusive ter apontado os canhões para a China, sendo esta a maior
exportadora de fentanil para os Estados Unidos, e com isso teria um ganho
futuro ao qual explicarei mais a frente.
2. Trump pode ter caído em uma armadilha
Democrata
O
Partido Democrata, já há bastante tempo, está trabalhando em uma possibilidade
de substituir Joe Biden na corrida presidencial, mas qual o grande problema?
Isso só aconteceria se o próprio Joe desistir da campanha. O Partido tomar esta
decisão unilateralmente, seria desastroso para o futuro da corrida eleitoral.
Desta
forma, Biden foi convencido a desafiar Trump para este debate, em que ele
poderia provar para o próprio partido que tem condições de concorrer ou afundar
sua campanha. Já o partido só tinha a ganhar com a situação, afinal se Biden
fosse bem, passaria confiança para o eleitorado, se fosse mal, teria a chancela
pública para trocar de candidato.
3. O
problema hoje é muito maior para Trump do que para os Democratas
O tema
central do debate político americano é: não há condições de Biden concorrer.
Com isto, inicia-se uma verdadeira arrancada pelo futuro da nomeação Democrata.
Existem duas possibilidades na mesa:
a)
Encontrar um novo Vice que inspire confiança para assumir o cargo de
presidente, tão rápido quanto necessário.
b)
Substituir Biden por um novo candidato.
No
primeiro cenário, o nome favorito internamente no Partido Democrata é o de
Hillary Clinton, que ainda não deu indicativos de que aceitaria.
No
segundo cenário, a probabilidade é de que a disputa fique entre Michelle Obama
(ex-primeira-dama) e Gavin Newsom (governador da Califórnia).
O caro
leitor deve estar se perguntando agora: “certo, mas o que significa isso?”.
Vamos lá, focarei somente na hipótese de um novo candidato:
Michelle
Obama, psicologicamente, causaria um efeito “Lula” em boa parte do eleitorado
americano: as pessoas esqueceriam os problemas da administração de seu marido,
focariam simplesmente nas boas lembranças que o seu sobrenome aspira na mídia.
Michelle
ainda contaria com o apoio das pautas identitárias por ser mulher, negra,
enfrentando um “bilionário branco, supremacista e racista”. A narrativa está
pronta.
Haveria
uma verdadeira frente ampla entre os democratas em torno de seu nome, Obama
estaria o tempo todo ao seu lado. Diversas mensagens de um futuro pujante
estariam prontas. Os eleitores democratas estariam animados e prontos para sair
de casa para votar.
Gavin
Newsom, por sua vez, conta com uma boa popularidade entre o eleitorado jovem,
progressista e feminino. Além disto, segue o padrão da fotografia do político
americano com a família de classe média.
Newsom
é articulado e possui uma boa aceitação nos setores clássicos do partido
democrata. Além de tudo, possui um endosso internacional importante e perigoso
para os EUA: Xi Jinping, ao qual ele visitou recentemente em Pequim em viagem
oficial — e aqui voltamos à questão do fentanil, governo democrata e China que
comentei acima. Eis a chave da oportunidade perdida por Trump.
Mesmo
ele dizendo que não concorrerá, como dito na mídia esta semana, basta Biden
anunciar que está desistindo que ele pulará na frente como candidato viável.
Com Newsom, os eleitores democratas também estariam animados e prontos para
sair de casa para votar.
O
grande desafio de Trump, porém, com ambos os candidatos é: ele perde a sua
argumentação retórica de campanha.
O mote
de campanha de Trump é: “comparem o meu governo com o de Biden”, “no meu tempo
era melhor do que o dele”, “eu jogo golfe, ele cai da escada”, “eu tenho condições
de discutir e defender o país, Biden não consegue falar”.
Com a
troca do candidato, Trump deixa de ser pedra e vira vidraça, ele estará frente
a frente com um candidato que não tem um passado comparativo com o dele como
presidente. Acima de tudo, aqueles que votariam em Trump, por não querer um
senhor senil no comando do país, passam a possuir opção.
Agora,
acredito que o cenário é o seguinte nos comitês partidários:
Democratas:
animação. A possibilidade de virarem o jogo, trazer um fato novo para a
campanha e continuarem na casa Branca.
Republicanos:
Preocupação. A possibilidade de perderem toda a estrutura da campanha e
passarem de um jogo ofensivo para um perigoso jogo defensivo.
O saldo
final deste debate é que apesar de ter vencido com um magro 1 a 0, Trump
arrisca perder o campeonato por conta disso.
4.
Biden pode afundar o navio Democrata?
Um dos
grandes empecilhos, porém, é convencer o próprio Joe Biden a desistir da
candidatura. Uma troca unilateral por parte do Partido Democrata, pode arranhar
completamente a percepção pública ao partido, o que colocaria tudo por água
abaixo, como mencionado anteriormente.
A
principal força de manipulação da sociedade e considerado o quarto poder, a
mídia, que durante os últimos quatro anos tentou de todas as formas convencer o
público que o presidente estava bem de saúde, agora procede com uma pressão
absurda contra não somente Biden, mas também à sua família. A primeira-dama,
Jill Biden, tem sido posta como a força motriz pela manutenção de seu marido como
candidato e alvo de diversas matérias a colocando como uma pessoa vaidosa
apegada ao poder.
O
apresentador da HBO, Bill Maher, pediu ao presidente Joe Biden que desista da
eleição após o fracasso de seu debate — e apoiou o governador da Califórnia, Gavin
Newsom, para concorrer contra Donald Trump: “Se nossa política presidencial
fosse um programa de TV, seria uma série que ultrapassaria seu auge, precisando
desesperadamente de novos personagens”, escreveu Maher em um ensaio do New York
Times publicado na segunda-feira. Maher inclusive, citou diretamente o dinheiro
do Partido das Sombras de George Soros em sua declaração: “Os democratas não
poderiam comprar, com todo o dinheiro de George Soros, o entusiasmo, o
engajamento e o interesse que obteriam de ter uma convenção aberta”.
O
desempenho desastroso no debate levou à pressão de muitos democratas
importantes e levou o Times, de tendência esquerdista, a publicar um editorial
pedindo que Biden desistisse da disputa: “Não há razão para o partido arriscar
a estabilidade e a segurança do país forçando os eleitores a escolher entre as
deficiências do Sr. Trump e as do Sr. Biden”, disse o conselho editorial. “É
uma aposta muito grande para simplesmente esperar que os americanos ignorem ou
desconsiderem a idade e a enfermidade de Biden que veem com seus próprios
olhos”.
Existe
uma curiosidade pouco comentada neste cenário, que pode levar Biden a uma
teimosia para, segundo sua provável visão, reparar um erro histórico, pois não
seria a primeira vez que Biden largaria a candidatura por pressão do próprio
partido. Ele chegou a se candidatar nas primárias do partido democrata para as
eleições de 1988, contava com boas chances de vencê-las, mas, em setembro de
1987, surgiram relatos de que o então pré-candidato havia plagiado um discurso
do líder britânico da oposição e líder do Partido Trabalhista, Neil Kinnock.
Outras alegações de plágio anterior, no tempo da faculdade de direito e
exageros em seu histórico acadêmico logo se seguiram, diante da repercussão, e
pressão da mídia, Biden foi obrigado a desistir de sua candidatura à
presidência pelo partido Democrata nas eleições de 1988.
Do lado
Republicano, o próprio filho de Trump, Donald Trump Jr. Postou em sua conta no
twitter: “O Senador Vance está absolutamente correto. Os democratas forçaram
Joe Biden para seus eleitores, manipulando suas primárias para bloquear
adversários reais, mas agora eles querem remover unilateralmente Joe como seu
candidato? Isso soa como um verdadeiro ataque à democracia americana!”
A convenção
Democrata que definirá o candidato do partido está marcada para o mês de
agosto, até lá, teremos muitas reviravoltas e articulações internas no Partido.
Continuaremos observando e trazendo as perspectivas de cenários para vocês.
Paulo
Henrique Araujo
Analista
político, palestrante e escritor; é o fundador do portal PHVox e também
apresenta os programas nosso canal do YouTube. É um estudioso da história
brasileira, principalmente referente ao período colonial e monárquico, e da
geopolítica latino-americana.
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