América Latina
Bases Militares Chinesas descobertas em Cuba
Paulo Henrique
Araujo,
Imagens de satélite mostram expansão de supostas bases de
espionagem chinesa em Cuba. Analistas identificaram quatro estações de escuta
eletrônica, incluindo um local não relatado anteriormente perto de uma base
naval dos EUA.
Imagens capturadas do espaço mostram o crescimento das
estações de escuta eletrônica de Cuba que se acredita estarem ligadas à China,
incluindo novas construções em um local não relatado anteriormente a cerca de
70 quilômetros da base naval dos EUA na Baía de Guantánamo, de acordo com um
novo relatório.
O estudo do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais,
um think tank com sede em Washington, revelou que China e Cuba estava
negociando laços mais estreitos de defesa e inteligência, incluindo o estabelecimento
de uma nova instalação de treinamento militar conjunto na ilha e uma instalação
de espionagem.
Na época, o jornal The Wall Street Journal informou que Cuba
e China já operavam conjuntamente estações de espionagem na ilha, de acordo com
autoridades dos EUA, que não divulgaram suas localizações. Não foi possível
determinar quais, se houver, estão incluídos nos sites cobertos pelo relatório
CSIS.
A preocupação com as estações, dizem ex-funcionários e
analistas, é que a China está usando a proximidade geográfica de Cuba com o
sudeste dos EUA para obter comunicações eletrônicas sensíveis de bases
militares americanas, instalações de lançamento espacial e navios militares e
comerciais.
China e Cuba estariam negociando para estabelecer uma nova
instalação de treinamento militar conjunto na ilha, acionando o alarme em
Washington de que isso poderia levar ao estacionamento de tropas chinesas e
outras operações de segurança e inteligência a apenas 100 milhas (aprox. 161
km) da costa da Flórida.
As discussões para a instalação na costa norte de Cuba estão
em estágio avançado, mas não foram concluídas, sugerem relatórios de
inteligência dos EUA. O governo Biden entrou em contato com autoridades cubanas
para tentar evitar o acordo, buscando explorar o que acha que podem ser
preocupações cubanas sobre ceder soberania. O esforço de Pequim para
estabelecer uma instalação de treinamento militar em Cuba não foi relatado
anteriormente.
Mais preocupante para os EUA: a instalação planejada faz
parte do “Projeto 141” da China, uma iniciativa do Exército de Libertação
Popular para expandir sua base militar global e rede de apoio logístico,
disseram um atual e um ex-funcionário dos EUA anonimamente. Importante
ressaltar que o Exército de Libertação Popular pertence diretamente ao Partido
Comunista Chinês, não é o exército regular da China.
Outros locais do Projeto 141 incluem um acordo para um posto
avançado naval chinês no Camboja e uma instalação militar cujo propósito não é
publicamente conhecido em um porto nos Emirados Árabes Unidos, disse um
ex-funcionário dos EUA. Nenhum dos locais do Projeto 141 conhecidos
anteriormente está no Hemisfério Ocidental.
Algumas dessas instalações também incluem capacidades de
coleta de inteligência, incluindo uma base chinesa em Djibuti, no Chifre da
África, a única base militar de Pequim fora da região do Pacífico, onde a China
tem trabalhado para construir uma instalação para coletar sinais de
inteligência.
Autoridades familiarizadas com o assunto disseram que a
China concordou em pagar a Cuba vários bilhões de dólares para permitir a
construção da estação de espionagem e que os dois países chegaram a um acordo
de princípio.
China e Cuba já administram conjuntamente quatro estações de
espionagem na ilha, de acordo com autoridades dos EUA. Essa rede passou por uma
atualização significativa por volta de 2019, quando uma única estação se
expandiu para uma rede de quatro locais operados em conjunto, e o envolvimento
chinês se aprofundou, conforme as autoridades.
As instalações chinesas na ilha “também podem reforçar o uso
de redes de telecomunicações pela China para espionar cidadãos americanos”,
disse Leland Lazarus, especialista em relações China-América Latina da
Universidade Internacional da Flórida.
A Casa Branca e o Escritório do Diretor de Inteligência
Nacional não quiseram comentar.
Os autores do relatório do CSIS, depois de analisar anos de
imagens de satélite, descobriram que Cuba atualizou e expandiu
significativamente suas instalações de espionagem eletrônica nos últimos anos e
identificou quatro locais – em Bejucal, El Salao, Wajay e Calabazar.
Embora alguns dos locais descritos pelo CSIS, como o de
Bejucal, tenham sido previamente identificados como postos de escuta, as
imagens de satélite fornecem novos detalhes sobre suas capacidades, crescimento
ao longo dos anos e prováveis ligações com a China.
“Esses são locais ativos com um conjunto de missões em
evolução”, disse Matthew Funaiole, membro sênior do CSIS e principal autor do
relatório.
O relatório vem em meio a crescentes preocupações sobre a
competição entre grandes potências no Caribe e em outros lugares da América
Latina, onde Washington há décadas tenta impedir que rivais obtenham vantagens
militares e econômicas.
A China está construindo um megaporto na costa do Pacífico
do Peru. A Rússia, por sua vez, enviou recentemente um submarino de propulsão
nuclear, capaz de disparar mísseis de cruzeiro Kalibr, e uma fragata para o
porto cubano de Havana.
Em sua avaliação anual de ameaças divulgada em fevereiro, a
comunidade de inteligência dos EUA disse publicamente pela primeira vez que a
China está buscando instalações militares em Cuba, sem fornecer detalhes.
As autoridades chinesas enfatizam que os EUA têm uma vasta
rede global de bases militares e postos de escuta. “Os EUA são, sem dúvida, a
principal potência em termos de espionagem e nem poupam seus aliados”, escreveu
Liu Pengyu, porta-voz da embaixada da China em Washington, em um comunicado. “O
lado dos EUA tem repetidamente promovido o estabelecimento de bases de
espionagem pela China ou a realização de atividades de vigilância em Cuba.”
O relatório diz que dois dos locais perto de Havana –
Bejucal e Calabazar – contêm grandes antenas parabólicas que parecem projetadas
para monitorar e se comunicar com satélites. O relatório observa que, embora
Cuba não tenha satélites, as antenas seriam úteis para a China, que tem um
programa espacial substancial.
A mais nova antena parabólica foi instalada em Bejucal em
janeiro, segundo o relatório, que constatou essa e outras atualizações de
infraestrutura nos locais na última década.
O mais recente dos quatro sítios, ainda em construção e não
conhecido publicamente, fica em El Salao, nos arredores da cidade de Santiago
de Cuba, no leste do país, e não muito longe da base naval americana de
Guantánamo.
A construção lá começou em 2021, e o local parece projetado
para abrigar uma grande formação de antenas conhecidas como um conjunto de
antenas dispostas circularmente, que podem ser usadas para encontrar e
interceptar sinais eletrônicos, disse o relatório.
O local, quando concluído, poderia monitorar comunicações e
outros sinais eletrônicos vindos da base de Guantánamo, disse Funaiole.
Os EUA e a Rússia abandonaram em grande parte esse tipo de
conjunto de antenas em favor de tecnologias mais recentes, mas a China as tem
construído em vários postos avançados militarizados no Mar do Sul da China,
disse ele.
Durante a Guerra Fria, a União Soviética operou seu maior
local no exterior para espionagem eletrônica, conhecido como inteligência de
sinais, em Lourdes, nos arredores de Havana. O local, que supostamente
hospedava centenas de oficiais de inteligência soviéticos, cubanos e outros do
bloco oriental, fechou depois de 2001, e seu status atual não está claro.
A China desempenhou um papel maior na ilha nos anos mais
recentes e, de acordo com um comunicado da Casa Branca no ano passado, realizou
uma atualização de suas instalações de coleta de inteligência em Cuba em 2019.
Autoridades dos EUA disseram que a referência à nova
instalação de treinamento proposta em Cuba está contida na nova inteligência
altamente confidencial dos EUA, que eles descreveram como convincente, mas
fragmentária. Ela está sendo interpretada com diferentes níveis de alarme entre
formuladores de políticas e analistas de inteligência.
Algumas autoridades de inteligência dizem que Pequim vê suas
ações em Cuba como uma resposta geográfica à relação dos EUA com Taiwan: os EUA
investem pesado em armar e treinar a ilha autônoma que fica ao largo da China
continental e que Pequim vê como sua.
Paulo Henrique Araujo
Analista político, palestrante e escritor; é o fundador do
portal PHVox e também apresenta os programas nosso canal do YouTube. É um
estudioso da história brasileira, principalmente referente ao período colonial
e monárquico, e da geopolítica latino-americana.
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