*A Lagosta*
A lagosta é um animal mole, que vive dentro de um exoesqueleto que vai
endurecendo ao longo do tempo e se tornando extremamente rígido.
Essa "casca grossa" não se expande, por isso, para que possa
crescer e se desenvolver ela precisa sair do seu conforto, do seu lar seguro
e se refugiar debaixo das rochas enquanto constrói uma nova "casa".
Ela faz esse processo - ecdise - diversas vezes durante sua vida. Toda vez
que se sente sob pressão e desconforto, em outras palavras, quando sente a
dor do crescimento, ela abandona seu lar, refugia-se debaixo das rochas e
"renasce".
O estímulo para a mudança é a angústia, o desconforto, a dor. Caso ela tivesse
algum remédio para eliminar a dor, muito provavelmente encerraria o seu
processo de crescimento e ficaria estagnada na posição em que se encontra.
Nós seres humanos passamos por um processo similar.
Nascemos não com um exoesqueleto, mas com um poderoso cérebro, capaz de
modificar suas estruturas. E é exatamente essa capacidade de aprendizado,
mudança e adaptação - neuroplasticidade - que faz o homo sapiens tão poderoso
e singular.
Aprendemos - em nossa primeira infância - principalmente devido à imitação
dos nossos cuidadores, entretanto, esses padrões se tornam inadequados em
nossa vida adulta.
Sentimos que ao ganharmos idade nossos comportamentos não se encaixam nas
situações do cotidiano, contudo, insistimos em repetir esses padrões outrora
aprendidos, modelos esses que nos levam a grande sofrimento, depressão,
ansiedade ou angústia interior.
Qual é a solução? Pisar no freio, parar de fugir de nós mesmos, refletir em
nossa conduta, encontrar as raízes desses comportamentos e abandoná-los.
Todavia, desapegar de um comportamento nos leva a enorme medo, ansiedade e
desconforto. "O que farei sem minhas certezas? Eu sempre fiz dessa
forma, como farei agora? E se der errado?" ...
Assim como a lagosta, devemos ouvir a nossa angústia interior, a nossa dor. Nós
também crescemos e o que carregamos do passado em nossa mente, nem sempre
será o que realmente precisamos no momento atual.
Abrir mão dói reconhecer que não somos tão inteligentes e importantes quanto
achamos dói, ter que pedir desculpas e assumir nossas fraquezas dói desapegar
do que recebemos dos nossos pais, professores, religião e família nos leva a
culpa, dor e medo.
Sem o enfrentamento dessa dor e principalmente, sem auto responsabilidade,
seremos eternas crianças, agindo de formas inadequadas diante dos desafios do
presente.
Terá você coragem para enfrentar suas angústias sem fugas, abrir mão das suas
certezas e renascer diversas vezes durante a sua vida?
*- Alessander Raker Stehling*
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