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Como foi o Holocausto cigano, uma história esquecida que não
terminou de ser escrita
"Antes da guerra, três a quatro milhões de ciganos se
estabeleceram nos Bálcãs, e desse número ninguém pode saber quantos
sobreviveram. Porque, como os judeus, nossa raça foi varrida da Europa por uma
nação de senhores com poderes supremos, que queriam escravizar todas as nações
que não conseguiam eliminar."
Em 1946, o escritor cigano francês Matéo Maximoff, que ficou
preso em um campo na França entre 1940 e 1944, publicou um ensaio mordaz sobre
o assassinato em massa de ciganos durante a ocupação nazista da Europa.
"Os alemães alegaram que os ciganos eram bárbaros, mas
não é melhor ser bárbaro do que monstro?"
"Os alemães alegaram que os ciganos eram ladrões, mas
os acusadores roubaram toda a Europa."
"Os alemães alegaram que os ciganos eram assassinos, mas eles são os mesmos homens que ordenaram os horrores de Auschwitz, Buchenwald, Dachau e Ravensbrück."
Em áudio | Os diários de pracinha brasileiro capturado por
nazistas na 2ª Guerra: 'Comíamos neve para enganar o estômago'
O homem que foi voluntariamente para Auschwitz para revelar
atrocidades ao mundo
Entre 1933 e 1945, cerca de 500 mil ciganos morreram como
resultado de políticas raciais promulgadas pela Alemanha nazista e seus
aliados.
O termo cigano não é aceito por todos os membros dessa
minoria. No Brasil, ainda que muitos se definam como ciganos, parte do grupo
considera o termo ofensivo e prefere ser chamados de roma ou romani.
Os povos ciganos são formados por diferentes etnias, entre
as quais, no Brasil, se destacam os rom, calon e sinti.
Cerca de 25 mil dos rotulados como ciganos foram internados
em Auschwitz-Birkenau durante a Segunda Guerra Mundial, e muito poucos
sobreviveram.
Em 2 de agosto de 1944, o chamado "acampamento
cigano" naquele complexo foi, para usar a terminologia nazista,
"liquidado".
Mais de 4 mil crianças, mulheres e idosos foram assassinados
nas câmaras de gás.
Ciganos vestidos com roupas tradicionais participam de uma
cerimônia de comemoração no Monumento das Caravanas Nômades em memória às
vítimas do Holocausto em Kiev, Ucrânia, em 2 de agosto de 2018.
O dia 2 de agosto marca o Dia da Memória dos
Ciganos em Memória do Holocausto.
Hoje, os roma e os sinti são uma das maiores minorias da
Europa.
Mas esse genocídio na Europa de meados do século 20 continua
muito menos conhecido do que o Holocausto judeu. E os ciganos continuam a
sofrer discriminação generalizada.
Assim como o dos judeus, o genocídio dos roma e dos sinti na
Alemanha nazista e em outras partes da Europa ocupada foi baseado em
preconceitos de longa data.
Os preconceitos tinham duas faces, uma romântica e outra
ameaçadora, diz Ari Joskowicz, autor de Rain of Ashes, (Chuva de Cinzas), que
reúne experiências e memórias compartilhadas de judeus e ciganos durante e
depois do Holocausto.
"A romântica é a imagem aparentemente positiva dos
romani livres como vagabundos, livres das pressões da modernidade, da
propriedade da terra, das rotinas de trabalho. Esta é uma imagem que
frequentemente fascina aqueles que estudam os ciganos."
"O outro lado da moeda é que, justamente por não
estarem vinculados às convenções e normas da sociedade, eles são vistos como
criminosos por definição, mesmo que não estejam infringindo a lei",
explica o historiador.
É importante destacar que o estereótipo romântico de
"ciganos errantes" não refletia a realidade da vida dos romani.
"Por toda a Europa, havia uma grande variedade de
estilos de vida e papéis econômicos assumidos pelos ciganos", diz Eve
Rosenhaft, professora de Estudos Históricos Alemães na Universidade de
Liverpool.
"Muitos deles estavam assentados em vilas, boa parte em
comunidades locais, geralmente rurais. Mesmo aqueles que viajavam tinham uma
casa de inverno em alguma cidade onde negociavam cavalos, afiavam facas, faziam
e vendiam cestos."
Legenda da foto,Os ciganos europeus, errantes ou não, tinham
laços com as comunidades onde viviam, como estes mostrados acampados em uma
fazenda em Kent, Inglaterra, durante a temporada de colheita de ameixas de
1942.
Outro aspecto que contribuiu para a longa história de
racialização e criminalização dos ciganos, acrescenta Joskowicz, foi o
nacionalismo.
"Mesmo que você tenha vivido em um lugar por gerações,
se você não estiver associado ao grupo étnico dominante, que supostamente
compõe a nação, a percepção é que você está meio que desenraizado de maneiras
muito mais metafóricas."
Do racismo cotidiano ao letal
Os ciganos são uma das minorias étnicas mais antigas da
Europa.
Estudiosos acreditam que eles migraram da região de Punjab,
na Índia, há 1.500 anos.
Assim como os judeus, os ciganos foram perseguidos e, pelo
menos desde o século 18, os impérios europeus os mantiveram sob vigilância,
tentando expulsá-los ou assimilá-los.
No final do século 19, o pânico se espalhou por toda a
Europa devido à presença deles e a noção de uma "ameaça cigana"
entrou na agenda de muitos estados europeus.
Essa noção foi alimentada pela pseudociência da eugenia, que
buscava "melhorar" a genética dos seres humanos.
Depois que os nazistas chegaram ao poder na Alemanha em
1933, "as medidas tomadas pelo regime em relação a essas populações
altamente vigiadas transformaram o que antes era racismo cotidiano e vigilância
policial excessiva em algo letal e genocida", enfatiza Joskowicz.
Uma mulher com uma criança durante uma pesquisa conduzida pelo Centro de Pesquisa de Higiene Racial do Reich em 1938, que forneceu a base pseudocientífica para o genocídio dos ciganos.
Apesar de serem alemães, os sinti e os roma, assim como os
judeus, foram declarados uma raça estrangeira pelas Leis de Nuremberg de 1935.
"Eles foram excluídos dos direitos de cidadania, e isso
marcou o início de um processo que permitiu sua aniquilação", disse
Rosenhaft.
Os ciganos estavam sujeitos às mesmas leis raciais que os
judeus, incluindo restrições ao casamento e seleção para esterilização
compulsória.
Poucas vozes se levantaram contra essa perseguição cada vez pior.
Depois de estudar medicina e psiquiatria, Ritter começou a
se concentrar nas teorias da eugenia e aplicá-las aos ciganos.
"Ritter ansiava por se destacar em sua carreira e sabia
que com essa higiene racial poderia conquistar um lugar para si na burocracia
nazista", diz a historiadora alemã Karola Fings.
"Ele entendia claramente o que o regime queria que
fizesse e queria fornecer todos os dados necessários à polícia criminal."
"Os nazistas não tinham critérios para identificar essa minoria com 600 anos de história, então eles produziram árvores genealógicas que remontavam ao século 16", explica Romani Rose, presidente do Conselho Central dos Sinti e Roma Alemães.
Quase obsessivamente, a equipe de Ritter começou a rastrear
as raízes das famílias ciganas ao longo dos séculos.
"Eles fingiram ser muito amigáveis, até mesmo falando
algumas palavras de romani. Mas seu objetivo era obter todas as informações
sobre todas as pessoas e registrá-las", explica Fings.
"Esse registro racial foi o primeiro passo para a
deportação e o assassinato."
Em dezembro de 1938, o líder da SS (organização paramilitar
nazista) e chefe da polícia alemã Heinrich Himmler emitiu este decreto sobre os
roma e os sinti:
"O objetivo das medidas tomadas pelo Estado para
defender a homogeneidade da nação alemã deve ser a separação física do cigano
da nação alemã, a prevenção da miscigenação e, finalmente, a regulamentação do
modo de vida dos ciganos puros e parciais."
"A base legal necessária só pode ser criada por meio de
uma lei cigana que impeça novas misturas de sangue e regule todas as questões
mais urgentes que acompanham a existência dos ciganos no espaço vital da nação
alemã."
O decreto ajudou a estabelecer as bases para as políticas
anti-ciganos impostas pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial, que
incluíam segregação, deportação e assassinato em massa.
"Mesmo que alguém fosse um oitavo cigano, se um dos
seus oito bisavós fosse membro da nossa minoria, eles eram classificados como
racialmente inferiores nos certificados emitidos pelo Instituto de Higiene
Racial, e a 'evacuação' era recomendada, o que era o "codinome para o
programa de extermínio", diz Rose.
Licença para matar
Quando a Alemanha desencadeou a guerra em 1º de setembro de
1939, havia planos de deportar alemães considerados "impuros" para a
então Polônia ocupada.
"Esse foi um passo muito decisivo em direção ao
genocídio. Himmler sempre disse que primeiro os judeus, depois os sinti e os
roma. E assim foi: quando quase todos os judeus alemães foram deportados, eles
começaram a deportar todos os sinti e roma também para
Auschwitz-Birkenau", observa Fings.
Legenda da foto,Sinti e roma sob guarda policial em Asperg,
Alemanha, maio de 1940. Eles seriam mantidos na prisão antes de serem
deportados para campos na Polônia.
Enquanto isso, e com ainda mais entusiasmo e rapidez do que
a Alemanha, outros países aniquilaram suas populações ciganas.
"Quando os sinti alemães foram deportados, na Estônia,
por exemplo, quase todos os romani já haviam sido mortos, assim como milhares
no estado aliado da Croácia e na Sérvia ocupada", diz Fings.
"O que a ocupação nazista ou a presença de aliados
nazistas ou a situação de guerra fizeram foi dar a outros países licença para
imobilizar, deportar e/ou assassinar suas próprias populações ciganas, sempre
com base no fato de que os ciganos não seriam apenas étnica, cultural e
racialmente diferentes, mas também perigosos, criminosos e antissociais",
observa Rosenhaft.
Mesmo antes de 1942, quando Himmler ordenou a deportação de
todos os ciganos para Auschwitz, as autoridades locais sob ocupação nazista já haviam
implementado suas próprias práticas letais.
Em Lety, um campo de concentração para ciganos no
Protetorado Nazista da Boêmia e Morávia (hoje República Tcheca), mais de mil
crianças e adultos foram presos.
Centenas morreram.
O campo era administrado por gendarmes tchecos, e os
prisioneiros eram presos usando registros da polícia tcheca, que coletava dados
sobre os ciganos por muitos anos antes da ocupação nazista.
Božena Pflegerová tinha 21 anos quando foi presa em Lety,
junto com seu filho de um ano. Lá nasceu sua filha, Berta. Anos mais tarde, ela
escreveu suas memórias.
"As crianças morriam frequentemente de tifo e
disenteria. Não passava um dia sem que os cadáveres fossem retirados,
empilhados junto ao poço e cobertos com cobertores, onde esperavam para serem
levados para a floresta, para o cemitério cigano (...) Eu ainda os vejo na
minha frente."
"Minha filha, que nasceu lá em 2 de setembro de 1942 e
morreu de fome em 2 de dezembro de 1942, nem sequer recebeu um número."
"Quantos deles estão enterrados na floresta abaixo do
acampamento como gado! Eles também não eram pessoas de carne e osso?"
Legenda da foto,Durante décadas não houve eventos oficiais
em memória às vítimas do genocídio dos ciganos da Boêmia e da Morávia. Mas
aqueles que não os esqueceram ergueram lembranças como esta em Lety.
Na França, milhares de ciganos foram internados em campos,
com base em listas mantidas pela polícia francesa desde o início do século 20.
Unidades militares e policiais da SS alemã fuzilaram pelo
menos 30 mil ciganos nos estados bálticos e em outras partes da União Soviética
ocupada.
Assim, por toda a Europa, os ciganos foram privados dos seus
direitos, internados em campos e guetos, selecionados para trabalhos forçados
ou sujeitos à deportação ou execuções em massa.
Aqueles que puderam, resistiram, fugiram, se esconderam ou
se defenderam juntando-se aos guerrilheiros locais.
Esquecido mas presente
Após a derrota da Alemanha nazista, milhares de
sobreviventes romani retornaram para suas casas, com o futuro incerto.
"Finalmente voltei para casa", disse Hermine
Horváth, uma mulher romani de Burgenland, na Áustria, que tinha 20 anos quando
a guerra terminou.
"De toda a nossa família, apenas minha irmã e eu ainda
estávamos vivas. Minha casa de infância não estava mais lá. Os vizinhos também
dividiram a floresta e o vinhedo, porque ninguém achava que voltaríamos. Tudo o
que eu tinha era um pote e uma colher e a coragem de começar uma nova
vida."
Outro sobrevivente, o romancista e poeta Matteo Maximoff,
publicou um apelo apaixonado por justiça.
"Há um provérbio em nossa língua que diz que a vingança
é um direito."
"Nós, os ciganos, o povo mais livre do mundo, exigimos
que os mártires romani de Auschwitz sejam vingados não pela fúria da barbárie,
mas pela mão da justiça."
"Nós, os ciganos, teremos um Tribunal de Justiça aliado
que exigirá a punição desses monstros? Já que as Nações Unidas desejam fazer
justiça a todos os povos que lutaram pela liberdade do mundo, por que não
consideram a justiça para nós também?"
Uma cigana adoece com tifo no campo de concentração de
Bergen-Belsen, recém-libertado
Legenda da foto,Uma cigana sofrendo de tifo no campo de
concentração de Bergen-Belsen, recém-libertado, espera com outros ciganos por
tratamento médico, em abril de 1945.
Quando o advogado judeu polonês Rafael Lemkin cunhou uma nova
palavra para descrever a escala dos assassinatos motivados por raça do regime
nazista — genocídio — ele definiu três grupos como vítimas típicas: judeus,
poloneses e ciganos.
"E podemos ver como ele se sentiu sobre o genocídio dos
ciganos em sua correspondência, pois ele tentou arduamente descobrir o que
realmente aconteceu. Ele escreveu para várias instituições, mas recebeu
informações mínimas", diz Joskovitz.
"Havia um conceito de que algo tinha acontecido, mas
não havia documentação, e sem ela você acaba com uma página em branco."
"É aí que entra o paradoxo de um genocídio esquecido:
se você usa essa frase, você está ciente de que ele aconteceu, então não foi
esquecido, mas também não está presente."
'Vivemos as feridas dos nossos pais'
No final da década de 1940, sobreviventes judeus estavam
entre os primeiros a testemunhar e reunir evidências e depoimentos sobre a
experiência dos romani.
"Durante o Holocausto, eles sofreram muito um ao lado
do outro, embora não necessariamente um com o outro. Após a guerra, seus
esforços para documentar o que aconteceu com eles e buscar justiça conectaram
seus dois destinos", explica Joskovitz.
"Várias pessoas começaram a gravar entrevistas com os
primeiros dispositivos de gravação ou a pedir que as pessoas escrevessem seus
depoimentos."
"Eles não eram sofisticados, mas o que existe de
documentação inicial do genocídio dos ciganos, particularmente das vozes romani
que mais tarde foram essenciais para documentar o que aconteceu, muitas vezes
vem de instituições, redes e sobreviventes judaicos."
Na Biblioteca do Holocausto de Wiener, o arquivo mais antigo
do mundo sobre a era nazista e o Holocausto, por exemplo, "houve um
esforço consciente para coletar relatos de testemunhas oculares das
experiências dos ciganos ou dos próprios sobreviventes ciganos", diz
Barbara Warnock, diretora de educação da instituição.
Um pesquisador em Viena na época contatou vários
sobreviventes ciganos e suas memórias angustiantes ainda estão preservadas em
papéis frágeis.
Legenda da foto,Este monumento, criado por Laszlo Bogdan, é
chamado de "Porajmos", que significa devorar ou queimar, e é um termo
usado por alguns para o genocídio dos ciganos. Outras comunidades preferem
chamá-lo de "Samudaripen", que significa destruição total.
Entretanto, por toda a Europa, persistiu a discriminação e a
hostilidade generalizadas e institucionalizadas contra as comunidades romani.
Os pedidos daqueles que recorreram aos tribunais em busca de
reparação e compensação foram muitas vezes rejeitados.
Em 1952, na Áustria, 37 sobreviventes roma e sinti de
Lackenbach, o maior campo de detenção cigano do Terceiro Reich, com mais de 4
mil prisioneiros, assinaram uma petição.
As autoridades austríacas decidiram que Lackenbach não era
um campo de concentração, o que significa que os presos ali não tinham direito
a indenização.
Neste e em outros casos, "os perpetradores foram
aqueles que avaliaram suas reivindicações", diz Rose, presidente do
Conselho Alemão de Sinti e Roma.
"Nós vivenciamos as feridas dos nossos pais. (Depois da
guerra) vimos como a polícia realizava ataques indiscriminados com cães, com
metralhadoras, apenas por causa das nossas origens."
"Enquanto qualquer ex-oficial da SS que tivesse estado
em Auschwitz podia passar férias com sua esposa e família em acampamentos, suas
vítimas sinti e roma não tinham permissão para entrar, eram mandadas embora e
expulsas dos restaurantes."
'Fazenda industrial de porcos'
A memória do Holocausto, no entanto, foi a base para a
fundação de movimentos de direitos civis entre os sinti e os roma.
Em 1981, um grupo de sinti alemães, incluindo Romani Rose,
ocupou um prédio na Universidade de Tübingen após descobrir que os arquivos de
Robert Ritter, o cientista racial nazista, não apenas estavam armazenados lá,
mas ainda estavam em uso.
"Sabíamos que, depois da guerra, os perpetradores
continuaram a trabalhar com esse material do Instituto de Pesquisa de Higiene
Racial e do Gabinete de Segurança Principal do Reich, documentos relacionados
ao planejamento do genocídio."
"E então fomos informados de que, na Universidade de
Tübingen, um antigo colega de Ritter havia solicitado financiamento da Fundação
Alemã de Pesquisa para trabalhar neste material antropológico."
"Quando a administração da universidade percebeu que
era um escândalo, telefonou para o Ministério do Interior em Bonn e então abriu
a porta."
"Entramos e encontramos milhares de fotos, e nosso
povo, que sobreviveu a Auschwitz, encontrou suas próprias fotos e as de seus
pais. Eles quase desmoronaram quando as viram", relembra Rose.
Fotografias de identificação de Antonina Donga, uma
prisioneira romani (sinti ou roma), número 32557, no campo de concentração
nazista alemão de Auschwitz-Birkenau, Polônia, durante a Segunda Guerra
Mundial. Donga foi levada para o campo em 24 de abril de 1942.
,Fotografias de identificação de Antonina
Donga, uma prisioneira romani, número 32557, no campo de concentração de
Auschwitz-Birkenau, Polônia. Donga foi levada para o campo em 24 de abril de
1942.
Na Europa Oriental comunista, onde algumas das maiores
comunidades romani viveram depois da guerra, os sobreviventes estavam entre os
fundadores dos movimentos políticos do grupo.
Isso deu origem ao Museu Tcheco da Cultura Romani, que foi
criado após o colapso do comunismo em 1989 e desempenhou um papel fundamental
na campanha pelo respeito às vítimas do campo de concentração de Letty.
Na década de 1970, o governo comunista da Tchecoslováquia
permitiu que uma fazenda de porcos fosse construída no local, e sobreviventes e
ativistas romani começaram a fazer lobby para que ela fosse removida.
Os protestos ocorreram em um momento de crescente violência
contra as comunidades romani na Europa pós-comunista.
Finalmente, mais de 30 anos após o colapso do comunismo, o
governo cedeu e, em 2024, o presidente tcheco Peter Pavel discursou no novo
monumento, administrado pelo Museu da Cultura Romani.
Ele reconheceu que "a existência de romani vítimas do
regime nazista foi ignorada pela sociedade tcheca por muito tempo",
inclusive pelo governo comunista que "em vez de construir um memorial
digno, construiu uma fazenda industrial de porcos".
"Ao fazer isso, ele deixou clara sua posição sobre as
tragédias humanas que ocorreram aqui."
O monumento, disse ele, "nos lembrará que é necessário
proteger os valores humanos básicos sempre e para todos, sem exceção".
Um lamento romani
Uma rosa repousa no memorial ao meio milhão de roma e sinti
assassinados pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial
Legenda da foto,Uma rosa repousa sobre um memorial em Berlim
em memória ao meio milhão de roma e sinti assassinados pelos nazistas.
Os movimentos pelos direitos civis desta minoria também
estão reescrevendo a história do Holocausto dos romani para dar destaque às vozes
das vítimas, bem como às ações dos perpetradores.
No entanto, os romani europeus continuam na mira de alguns
setores da sociedade.
"Democracia e o império da lei são cultura. Eles têm
que ser conquistados. Acredito que a República Federal [alemã] é hoje uma
democracia governada pelo império da lei."
"Mas quando a extrema direita se reúne, como na mansão
Adlon [Potsdam, Alemanha, 2023], e sonha com um renascimento do Terceiro Reich
com ideias de remigração, na realidade isso significa a deportação de um milhão
de pessoas, mesmo que tenham um passaporte alemão, porque, para eles, ser
alemão é uma questão de sangue", enfatiza Rose.
"Isso deixou muito claro que a democracia não é
esculpida em granito, mas deve ser defendida."
No Dia da Memória do Holocausto da ONU, em janeiro de 2024,
Petra Gelbart cantou "Ausvicate hi kher baro", um lamento romani que
se tornou um dos testemunhos cantados que definem o Holocausto cigano.
Foi composto por prisioneiros do chamado campo cigano de
Auschwitz-Birkenau.
"Significou muito para mim, porque estou envolvido
nessas comemorações anuais da ONU desde 2009 e nunca houve uma única menção às
vítimas roma ou santi. Nenhuma palavra, nada."
"O que foi especial naquele ano foi que havia um
palestrante e um músico romani que ganharam o espaço para representar nossas
perdas e nosso povo."
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