segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

REFLEXÃO...01

 

Começa a jornada – aprendendo a conversar sobre ciência e fé

 

No Dia Internacional das Mulheres e das Meninas na Ciência, Ultimato coloca nas mãos do leitor um trecho de artigo de Ruth Bancewicz, diretora e pesquisadora no Instituto Faraday de Ciência e Religião e organizadora do livro O Teste da Fé.

 

Por Ruth Bancewicz

 

Como estudante de PhD em um laboratório de genética da Universidade de Edimburgo, eu costumava me sentir mais segura quando olhava para a lista de cientistas seniores que faziam parte das orientações de membresia da associação Christians in Science.1 Não porque me sentisse de alguma forma pressionada como cristã que trabalha com ciência, mas porque às vezes eu me perguntava sobre como minha carreira se encaixaria com a minha fé. Era bom saber que outras pessoas tomaram esse caminho antes de mim e o fizeram de forma tão excelente.

 

Depois de concluir os estudos, eu trabalhei como pesquisadora por vários meses. O plano era gastar seis meses aprendendo novas técnicas antes de trabalhar nos Estados Unidos, mas percebi que a pesquisa não era o meu nicho. Eu encontrei a mim mesma gravitando para fora da bancada do laboratório em direção à minha escrivaninha e ao campo da escrita, reflexão e comunicação científicas. A oportunidade de fazer tudo isso, com exceção dos experimentos, veio com a posição de secretária de desenvolvimento da Christians in Science (CiS) e eu a agarrei com as duas mãos.

 

Por três anos, eu estive na feliz posição de ser paga para interagir com outros cientistas que eram cristãos. Meu trabalho com a CiS envolvia viagens ao redor do Reino Unido, visitando universidades, igrejas, conferências, grupos cristãos e o crescente número de filiais locais da Christians in Science. Falei com uma enorme quantidade de pessoas sobre ciência e fé e ouvi as mais diversas perspectivas, especialmente sobre criação, que parece ser o tema mais quente do momento. Isso me ajudou a compreender melhor meu próprio conhecimento científico e cristão, mais do que eu jamais pude fazer sozinha.

 

Algumas pessoas vinham às discussões sobre ciência e fé com a imagem mental de cristãos afundando em um oceano de fatos científicos, incapazes de escapar da inevitável morte da religião. Essa visão muitas vezes vem de cristãos com medo ou com suspeitas em relação à ciência ou, ainda, de um ateísta que pensa que a ciência matou Deus. Na realidade (e espero que isso não seja uma surpresa), há uma enorme quantidade de cientistas que também são cristãos e centenas de livros têm sido escritos explicando como a fé e a ciência se encaixam.

 

 

 

 

Fui pega de surpresa por diversas coisas quando comecei a trabalhar para a Christians in Science. Uma delas foi o entusiasmo absoluto das pessoas com as quais eu tinha contato diariamente. Elas estavam ansiosas por aproveitar qualquer oportunidade de escrever ou falar sobre o que faziam e explicar que, como cristãos trabalhando na ciência, sentiam-se inteiras e não divididas entre a fé e a ciência. Outra coisa foi a sua serena graciosidade quando outros cristãos discordavam deles sobre algum ponto. As coisas podem ficar quentes quando a sua ideia ou seu trabalho preferido são debatidos. Essas pessoas, no entanto, me mostraram como colocar meu ego de lado e como me aproximar das questões de forma racional e compassiva.

 

Eu participei de uma conferência na qual senti que precisaria reconsiderar um tema sobre o qual já tinha me posicionado, o que foi um processo doloroso. Lendo mais tarde a obra de John Stott Ouça o Espírito, Ouça o Mundo – como ser um cristão contemporâneo, me dei conta de que estava seguindo o seu modo:

Tenho tentado seguir a regra de nunca me engajar em um debate intelectual sem primeiro ouvir a pessoa ou ler o que ela escreve, ou preferivelmente as duas coisas... Não estou afirmando que essa disciplina seja fácil. Longe disso. Ouvir com integridade paciente ambos os lados de um argumento pode provocar uma dor mental aguda. Pois envolve a interiorização do debate até que alguém não apenas capte o sentido, mas sinta a força de ambas as posições (STOTT, 1995, grifo do autor).2

 

As conversas realmente interessantes acontecem quando os cristãos e os outros aprendem a fazer isso. E o mais interessante é que podemos, a partir daí, nos mover para além das diferenças, focando os elementos que temos em comum. A pergunta seria então: o que estamos fazendo aqui e o que podemos fazer em relação a esses temas sobre os quais alcançamos compreensão? Quando isso acontecer, nós faremos progressos reais como cientistas no laboratório, plenamente apoiados pela comunidade cristã, e como pessoas que desejam se engajar em questões e oportunidades levantadas pela ciência e pela fé.

 

Ao longo do meu trabalho, também descobri que pastores, professores e outros necessitavam grandemente de uma explanação clara e acessível sobre a interação entre a ciência e a fé, para as “pessoas no banco” da igreja e também para aquelas que estão fora da comunidade cristã. Normalmente, é mais fácil para acadêmicos escrever publicações eruditas do que se comunicar de forma imaginativa com o público geral. No Instituto Faraday, eu finalmente me encontrei na posição de ter todo o tempo e todos os recursos de que precisava para focalizar a produção de material para as pessoas que necessitassem disso e ainda pude reunir uma equipe de pessoas talentosas e criativas para fazer isso acontecer.

 



Notas1. Christians in Science (“Cristãos na Ciência”) ou CiS é de uma associação britânica de cientistas cristãos dedicados a estudos avançados sobre fé cristã e ciência, sobre o papel da ciência na cultura e sobre a evangelização entre cientistas.

 

2. STOTT, J. The Contemporary Christian: Applying God’s Word to Today’s World. Chicago, IL: InterVarsity Press, 1995. Ênfase minha. Em português (nota do tradutor): STOTT, J. Ouça o Espírito, Ouça o Mundo: Como Ser um Cristão Contemporâneo. São Paulo: ABU Editora, 1997. 478p.

 

Ruth Bancewicz é pesquisadora associada sênior do Instituto Faraday de Ciência e Religião, onde trabalha na interação positiva entre ciência e fé. Após estudar genética na Universidade de Aberdeen, ela completou um PhD na Universidade de Edimburgo. Ela passou dois anos como pesquisadora de pós-doutorado em meio período no Welcome Trust Centre for Cell Biology da Universidade de Edimburgo, enquanto também trabalhava como Diretora de Desenvolvimento para a Christians in Science. Ruth chegou ao Instituto Faraday em 2006 e atualmente é curadora da Christians in Science.

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REFLEXÃO...02

  https://youtu.be/J0iX-ZolN6o?si=93ZYX92T68GyCyxX //Daniel Estudo ************************************************************************...