Reversos da vida
A espontaneidade faz a vida mais leve e bonita. Mas tenho
aprendido que ela também pode ser destruidora
Por Rita Santos
Há algumas semanas, escrevi um texto para esta coluna, já
havia até mesmo enviado para consideração e ele tinha sido aprovado.
Mas ontem aconteceu algo que vale a pena contar e acho que é
melhor mudar a reflexão...
Tudo aconteceu quando eu estava lavando a louça.
No dia anterior, tinha ficado de cama, com sintomas de uma
gripe forte.
Ainda estava me sentindo meio fraca quando o telefone tocou.
"Posso falar com você?"
"Sim", eu disse.
A pessoa do outro lado da linha me falou coisas que eu não
gostei de ouvir. Naquela conversa, alguns de meus sonhos de trabalhos foram
despedaçados.
Ou, na verdade, alguns de meus sonhos antigos, ou os que eu
achava que eram bons, foram desvalorizados.
Minha vontade era questionar, reclamar, esbravejar. Mas
fiquei calada.
Foi pura graça.
Consegui ficar calada, e foi a melhor coisa que fiz.
Quando a conversa terminou, conversa na qual eu apenas ouvi,
desliguei o telefone e senti paz.
Ficar calada naquele momento foi uma bênção, ainda que
talvez tenha sido a coisa mais difícil que tenha feito.
Sou acostumada a falar, questionar, expressar-me com
palavras, lágrimas, sorrisos ou abraços.
Mas tenho descoberto que o silêncio é uma dádiva.
Não preciso brigar ou me defender. O Senhor Deus, criador
dos céus e da terra, cuida de mim e luta por mim.
Ele reverte o mal em bem.
Sinceramente, confessando aqui, acho que consegui ficar calada
só porque estava meio doente. Mas agradeço a Deus pela experiência.
Meu pai me disse uma vez: "Você é muito topetuda".
Ele tinha razão.
Por muitos anos, não achava necessário calar ou sequer
pensar bem antes de falar.
No fundo, é porque acredito que a espontaneidade faz a vida
mais leve e bonita. A formalidade e a frieza nos relacionamentos me trazem
tristeza.
Mas tenho aprendido que a espontaneidade pode ser também
destruidora.
A palavra diz que: "(...) a língua é um fogo; é um
mundo de iniquidade. Colocada entre os membros do nosso corpo, contamina a
pessoa por inteiro, incendeia todo o curso da sua vida, sendo ela mesma
incendiada pelo inferno" (Tg 3.6).
Também diz que: "Com a língua bendizemos ao Senhor e
Pai e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. Da mesma
boca procedem bênção e maldição" (Tg 3.9-10).
Percebo que o desafio é imenso.
Falar ou não falar?
Como falar?
Quando falar?