segunda-feira, 12 de maio de 2025

NOTÍCIAS...03

 

Putin propõe paz… mas recusa o cessar-fogo: a nova jogada russa na guerra da Ucrânia

 

Não consegue ver essa mensagem? Veja no navegador

Putin propõe paz… mas recusa o cessar-fogo: a nova jogada russa na guerra da Ucrânia

 

“A arte do cinismo russo está em dizer tudo, escondendo o essencial.”

 

Na calada da madrugada de Moscou, Vladimir Putin reapareceu diante da imprensa internacional em um gesto raro — sua primeira declaração direta desse tipo desde 1999. O que poderia parecer uma guinada em direção à paz com a Ucrânia revelou-se, na verdade, uma manobra cuidadosamente orquestrada. A peça central da encenação? Propor negociações diretas com Kiev, mediadas pela Turquia, sem aceitar o cessar-fogo que é pré-condição para qualquer diálogo real.

O jogo de retórica e o palco global

 

Putin fez sua aparição em um momento de intensa movimentação diplomática. Enquanto celebrava o simbólico “Dia da Vitória” em Moscou com aliados do chamado “eixo do caos” — China, Irã, Coreia do Norte, Venezuela, Cuba e até Brasil —, líderes europeus se reuniam com Zelensky em Kiev para formalizar uma proposta de cessar-fogo incondicional de 30 dias, apoiada inclusive pelos Estados Unidos.

 

A resposta do Kremlin veio com atraso e ambiguidade. Putin propôs conversas diretas em Istambul, a partir do dia 15 de maio, mas “esqueceu” de comentar o cessar-fogo exigido como condição mínima para essas tratativas. O porta-voz Dmitry Peskov esclareceu o silêncio: a Rússia só aceitaria cessar-fogo se as “dinâmicas do campo de batalha” fossem favoráveis. Em outras palavras, se Putin estiver ganhando.

 

Erdogan, o mediador improvável

 

A escolha da Turquia como mediadora também levanta suspeitas. Embora Erdogan mantenha relações ambíguas com Rússia e Ucrânia, seu interesse estratégico no Mar Negro e sua rivalidade com Moscou por reservas de gás tornam sua neutralidade altamente duvidosa. Para Putin, porém, a Turquia serve como instrumento de pressão sobre os Estados Unidos: é membro da OTAN, inimiga histórica de Israel e interlocutora direta com o Irã.

Ao acenar para Erdogan, o Kremlin tenta matar três coelhos com uma cajadada só:

Minar a liderança americana nas negociações

Aproximar-se da ala anti-Israel no Oriente Médio

Criar um fato político que embaralhe a frente europeia

 

Putin sabe que Zelensky já rejeitou tanto a China quanto o Brasil como mediadores, por falta de imparcialidade. Mesmo assim, insiste neles como símbolo de uma nova “ordem multipolar” — termo tão conveniente quanto vazio.

O teatro da boa vontade

Putin, como bom agente da velha escola, inverte o jogo: propõe paz sem aceitar as condições mínimas para ela. Acena para o mundo com “negociações sem pré-condições”, mas na prática, a pré-condição da Ucrânia — o cessar-fogo — é ignorada.

 

Essa encenação é reforçada com a retórica da vitimização. Durante seu discurso, o presidente russo apresentou a invasão da Ucrânia como uma reação a uma suposta agressão contra a Rússia — mencionando inclusive um ataque ucraniano a Kursk que justificaria o conflito. Como se a narrativa pudesse reescrever a geografia da guerra.

 

Enquanto isso, Putin celebra o “heroísmo” da Coreia do Norte, assume sua aliança com a China e cita o apoio do governo Lula — usado estrategicamente como parte de uma narrativa de legitimidade internacional.

 

O desgaste da Casa Branca e o blefe global

 

Por trás da movimentação russa está também a percepção de enfraquecimento da política externa dos Estados Unidos. Donald Trump já acumula pelo menos cinco episódios em que líderes internacionais desafiaram diretamente declarações ou mediações feitas por ele — entre eles Putin, Netanyahu, Hamas, Houthis e, agora, o Paquistão.

 

A administração americana corre atrás dos focos de incêndio com a credibilidade em queda. E o próprio Trump começa a perceber que sua ala “pró-Rússia” na Casa Branca está cada vez mais desmoralizada. Figuras como Steve Bannon, Tucker Carlson e Elon Musk, antes influentes, foram silenciadas pela realidade geopolítica que se impõe.

 

A Realpolitik começa a fazer moça, como diria Sepúlveda.

 

Conclusão

 

Putin não quer paz. Quer espaço. Quer tempo. E quer controlar o jogo — inclusive o jogo das aparências.

 

Ao rejeitar o cessar-fogo enquanto propõe diálogo, ele busca confundir, dividir e manipular o tabuleiro diplomático. A verdadeira pergunta não é se haverá negociação, mas: quem estará disposto a cair na armadilha russa dessa vez?

Sem comentários:

Enviar um comentário

REFLEXÃO...02

    “Ensina-nos a contar os nossos dias”   Quando sabemos dividir as tarefas com os outros, fazemos discípulos e multiplicamos os dons e...