quarta-feira, 22 de março de 2023

EXPURGO COMUNISTA...


Expurgo comunista na Venezuela?     
Paulo Henrique Araujo



Ao longo da história revolucionária os expurgos são uma prática comum. Expurgos de dissidente que após a tomada do poder, precisam ser eliminados para que apenas uma agenda totalitária seja a dominante.

Temos diversos exemplos ao longo da história: em 1934, Adolf Hitler comandou através das SS o violento expurgo com dezenas de assassinatos dos membros da facção Strasserista, liderados por Gregor Strasser e Otto Strasser. Além dos membros do próprio partido, aproveitou para eliminar lideranças políticas conservadoras que eram contrárias a ideologia do Nacional Socialismo alemão. Este movimento ficou conhecido como “A noite das facas longas”.

Mais tarde, entre os anos de 1936 e 1938, Josef Stalin também promoveu o seu “Grande Expurgo”, onde eliminou quase todas as altas patentes do exército vermelho, líderes e aliados importantes do Politburo Soviético. Quando Stalin morreu em 1953, o mesmo movimento aconteceu dentro do partido, em uma corrida insana para definir quem seria seu sucessor, terminando a questão com Nikita Khrushchov assumindo o posto e demonizando a imagem do próprio Stalin para inaugurar uma “nova era”.

Recentemente tivemos notícias de dois grandes expurgos na China Comunista. O primeiro ocorreu em 2016, o que elevou o poder de Xi Jinping dentro do partido a níveis equivalentes ao do “camarada” Mao TseTung. Em meados do segundo semestre de 2022, espalhou-se na internet o boato de que Xi Jinping estaria sofrendo um golpe de Estado. Comentei no então Programa Conexão Ásia que, o mais provável, era um novo Expurgo de Xi Jinping. O fato confirmou-se verdadeiro, com a sua recondução a um terceiro mandato como Secretário Geral do Partido e também na presidência do País.

Agora, em 2023, tudo indica que o mesmo processo esteja acontecendo na Venezuela. Ontem, o Ministro do Petróleo, ex-Vice Presidente da Venezuela e uma das principais figuras do Chavismo, Tareck El Aissami, renunciou ao seu cargo por suspeitas de corrupção. O movimento ocorre dias depois que a Procuradoria-Geral da República e o Governo anunciaram que haveria processos judiciais para prender e investigar um número indeterminado de funcionários. El Aissami declarou o seguinte nas suas redes sociais:


“Em virtude das investigações que foram iniciadas sobre graves atos de corrupção na PDVSA, tomei a decisão de apresentar minha renúncia como ministro do Petróleo, com o objetivo de apoiar, acompanhar e apoiar plenamente este processo” e, em uma segunda mensagem,  prosseguiu: “Da mesma forma, na minha qualidade de militante revolucionário, coloco-me à disposição da direção do PSUV para apoiar esta cruzada que o Presidente @NicolasMaduro empreendeu contra os antivalores que somos obrigados a combater, mesmo com as nossas vidas.”


Como nos exemplos que citei no início do texto, quanto no atual caso da Venezuela, o que nos chama a atenção é o motivo utilizado para todos os expurgos: A corrupção. Seja o motivo principal ou correlacionado, a corrupção e o combate a ela são sempre postos como a justificativa moral para prisões arbitrárias, sequestros e até mesmo assassinatos por justiçamentos.

A Venezuela está enfrentando diversos levantes internos dentro das estruturas que sustentam o chavismo: sindicatos cobrando aumento de salários não efetuados (principalmente o de professores), o restante do funcionalismo público sofre do mesmo problema. Todavia, um ponto central da estrutura de poder de Nicolás Maduro começa a estremecer: as Forças Armadas.

Chávez e Maduro precisaram corromper as forças armadas venezuelanas através do carreirismo, altos salários e benefícios polpudos. Isso fez da Venezuela um dos países com o maior número de generais em seu exército no mundo todo. O regime está enfrentando grandes dificuldades de atender e adocicar todas as mãos estendidas. As notícias das últimas semanas dão conta que Maduro estaria incentivando os militares a abrirem empresas de prestação de serviço para pagar “por fora” algo análogo a um aumento, mas sem todos os ônus previdenciários e encargos que se abateriam sobre os cofres esvaziados do país.

Ainda é cedo para dizermos se o motivo do expurgo seria este, em sua totalidade ou parcialmente, mas o que chama a atenção é que um dos regimes mais corruptos do mundo esteja utilizando o artifício clássico da corrupção para validar “moralmente” a perseguição política, prisões e mais o que poderia se abater contra os dissidentes do chavismo. Maduro suga até a última gota da Venezuela para favorecer seus esquemas de extração de ouro ilegal (com apoio de Xi Jinping, Vladimir Putin e Yevgeny Prigozhin), tráfico de petróleo com apoio do regime Iraniano e sem contar todo o esquema que transformou a Venezuela no maior Narco-Estado do mundo: O cartel dos Sóis, operado de dentro das forças armadas venezuelanas e que hoje é responsável pelo escoamento de 25% da cocaína do mundo todo.

Em relação a renúncia de Tareck El Aissami, deixo aqui as possibilidades:

– Estaria ele liderando alguma dissidência dentro do Chavismo contra Maduro e Diosdado Cabello?

– Estaria ele sendo utilizado como distração para acalmar e baixar a guarda dos verdadeiros alvos políticos?

– Seria El Aissami rifado pelo regime, sendo acusado de operador dos negócios ilegais na PDVSA (estatal petrolífera), justificando os crimes dos últimos anos e dando ao regime chavista a possibilidade de mostrar que está “resolvendo” seus problemas internos e, assim, continuar vendendo petróleo para a União Europeia e EUA com a anuência do Partido das Sombras de Soros e Biden? (ação esta que está levando parte da indústria petrolífera e o congresso americano a protestarem oficialmente contra a administração Biden)

O tempo irá nos mostrar, deixemos aqui estes pontinhos soltos para liga-los no futuro.

Como diria Maquiavel: “Aos amigos os favores, aos inimigos a lei.”
Paulo Henrique Araujo
Analista político, palestrante e escritor; é o fundador, editor e diretor do portal PHVox e também apresenta os programas ao vivo em nosso canal do YouTube. Paulo Henrique Araujo também é lembrado por ser uma voz ativa no movimento histórico monarquista brasileiro. É um estudioso da história brasileira, principalmente referente ao período colonial e monárquico, e a geopolítica latino-americana. É também autor dos livros Os EUA e o Partido das Sombras, As Bases Revolucionárias da Política Moderna e O mínimo sobre o Foro de São Paulo

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