sábado, 25 de março de 2023

ACREDITAR...

 

 Acreditando em qualquer coisa, até na ciência  
Anderson C. Sandes

 
 
Chesterton dizia: “Quando se deixa de acreditar em Deus, passa-se a acreditar em qualquer coisa.” Parece exagero, como é comum nas máximas chestertonianas, mas há grande sabedoria na frase, basta olharmos em volta, para nossos irmãos “descrentes”: acreditam fidedignamente no Estado, na política, no cosmos, na natureza, em ufologia, em ideologias, vãs filosofias . . . neles mesmos. E como não é novidade para ninguém, há um grande grupo que acredita devotamente até na ciência.
Tal categoria não ganha adjetivos como “extremistas científicos”, como recebem os religiosos, pois a palavra ciência é quase que sinônimo de verdadeiro, factual, inerrante ou infalível. A “ciência” foi colocada ao longo do tempo como antagônica à fantasias, superstições, misticismos. A verdade é que a ciência é a grande religião secular — não declarada no IBGE —, ao lado do Estado — a que religam seus fiéis eu não sei.
Não sou incrédulo na ciência, talvez um herege da mesma. Não tenho em suas “escrituras sagradas” as minhas doutrinas e fervor. Não creio numa Terra com milhões de anos, em macroevolução, desconfio da indústria farmacêutica, e nutro nenhum afã pelos tais “consensos”. Não acredito em qualquer coisa e tenho meus motivos.
Lembram-se do mapa dos sabores da língua que estudávamos na escola nas aulas de CIÊNCIA? Cada parte da língua era sensível a um sabor distinto, segundo nossos livros didáticos científicos. Sabiam que isso tudo é hoje tido como mero MITO?
Recentemente li na Galileu: “Um dia, comer ovo ajuda o coração; no dia seguinte, aumenta risco de enfarte. Aspirina um dia ajuda a mitigar o avanço do mal de Alzheimer; no outro, não tem efeito contra a doença.” (Desconfie da ciência, de Salvador Nogueira) E mais: “Recentemente, por exemplo, descobriu-se que o ômega 3, substância há muito tempo vendida para prevenir problemas do coração, pode, na verdade, agravar uma situação cardíaca. Um estudo recém-publicado no JAMA, famoso periódico da Associação Médica Americana, avaliou 663 pacientes e viu que, ao contrário do indicado por pesquisas anteriores, consumir ômega 3 piora as chances de ter fibrilação atrial, uma arritmia muito comum.”
Em 1910 o cientista Camille Flammarion previu que, com a passagem do Cometa Halley, muitas pessoas morreriam pelo gás de sua cauda. Resultado: muitos enriqueceram vendendo máscaras de gás, pílulas e outros apetrechos. Muitos se trancaram em suas casas, morrendo de medo (muito semelhante aos nossos dias, não?)
Na década de 1990 eu ouvia que nos próximos 20 anos os carros voariam, teríamos gente morando na lua, cura para a AIDS e câncer. Falava-se também em terceira guerra mundial por causa da falta de água no mundo, prevista para mais ou menos 2030. Sem falar em tantas asneiras sobre aquecimento global, falta de comida, excesso de lixo espacial, etc. Decepções para enfraquecer a “fé” não faltam. Em pensar que meu sonho de infância era ser cientista… que tolinho.
Uma coisa é certa, os sacerdotes da ciência são péssimos em fazer proselitismo, doutrina e profecia. É só qualquer coisa, não é de se colocar todas as fichas da existência.
16 de novembro de 2021


Anderson C. Sandes

Poeta, cronista, ensaísta. Articulista no PHVox. Vivo de poesia pra não morrer de razão. Reflexões sobre arte e literatura. Autor de Baseado em Fardos Reais, de Arte & Guerra Cultural: preparação para tempos de crise, e organizador da antologia Quando Tudo Transborda.

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