Luz do
mundo, não holofotes
Por
William Lane
Jesus
diz aos seus seguidores no Sermão do Monte que eles são sal da terra e luz do
mundo, e conclui, “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que
vejam as suas boas obras e glorifiquem o Pai que está nos céus” (Mt 5.16).
Porém, no mesmo Sermão, Jesus adverte, “Tenham o cuidado de não praticar as
suas obras de justiça diante dos outros para serem vistos por eles” (Mt 6.1).
Na primeira instrução, as “boas obras” visam glorificar o Pai. Na segunda, as
“obras de justiça” ou, simplesmente, “justiça” buscam o reconhecimento humano.
É
evidente que a primeira instrução encoraja uma fé que se manifeste publicamente
e que seja um sinal da própria glória de Deus, enquanto que a segunda instrução
visa combater uma religiosidade de aparência e visibilidade com o propósito de
receber elogios e recompensas das pessoas. É a diferença entre uma fé,
espiritualidade e devoção que engrandecem o Pai de uma que engrandece a pessoa.
Sempre
me lembro dessas passagens quando vejo postagens nas redes sociais de boas
ações das pessoas. Percebo que há uma linha muito tênue entre as “boas obras”
que glorificam o Pai e as “obras de justiça” que enaltecem mais as pessoas
“para serem vistas (curtidas)” e obterem recompensa (seguidores).
As
redes sociais são meios incríveis de comunicação e propagação de boas práticas.
Mas são, também, ferramentas poderosas para os que gostam de ficar nas “ruas” e
“esquinas” (Mt 6.2, 5) exibindo a sua espiritualidade e devoção. Tenho minhas
dúvidas se quando alguém compartilha uma foto de uma visita a uma ovelha
acamada no hospital ele está realmente demonstrando o cuidado pastoral e
incentivando a empatia com os que sofrem, ao exemplo de Jesus, ou se está
demonstrando suas obras a fim de ser aplaudido.
Não
penso que por causa disso não possamos usar as redes sociais. Acredito que a
luz também precisa brilhar nesse ambiente, mas não com os holofotes sobre nós,
e, sim, sobre Cristo e o Pai. É importante que as pessoas enxerguem Jesus em
nossas postagens e glorifiquem ao Pai. Mas é muito difícil cumprir isso se quem
está no primeiro plano somos nós mesmos, e quando nossas obras ofuscam o Pai.
Podemos expor menos a nossa imagem e dar mais testemunho do que Cristo faz nas
pessoas; menos engrandecimento de pessoas e mais o engrandecimento de Cristo
nas pessoas.
É
interessante que entre a primeira instrução (Mt 5.16) e a segunda (6.1), Jesus
também disse aos discípulos que a “justiça” deles deve ser “muito superior à
dos fariseus e mestres da lei” (Mt 5.20). Embora aqui Jesus se refira ao modo
de aplicar a Lei mosaica, a instrução se aplica também às “obras de justiça”.
Jesus aprofunda a dimensão da justiça mostrando que transgredir um mandamento
não ocorre no ato em si, mas no pensamento, no desejo que está dentro do
coração. Com isso Jesus não estava instruindo os discípulos a serem mais
rígidos e legalista que os fariseus, mas que a transgressão está nas intenções
interiores e não unicamente nas ações exteriores. De modo semelhante, quando
fala sobre dar esmolas, a oração e o jejum (Mt 6.1-18), Jesus ensina que a
essência da devoção e espiritualidade é interior, “em secreto” (Mt 6.4, 6, 18).
Como
equilibrar o exercício de uma prática espiritual às portas fechadas (6.6) com a
instrução da candeia colocada em lugar visível (5.15)? Quando colocamos os
holofotes em nossas ações, isso não passa de marketing e exibição de uma
espiritualidade de vitrine. Quando focamos no que está no interior, a luz
resplandece para que Cristo brilhe em nós.
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