Democracia
ou farsa?
"Na
influência sobre o parlamentar, a mídia supera o eleitor e o substitui. Seria
ela a grande mandante?"
Alexandre
Garcia
Lula
bateu o recorde de liberação de emendas: R$ 11 bilhões e 800 milhões
Os
deputados anunciados como ministros já estão votando a favor do governo,
informa o ministro Alexandre Padilha. No governo Lula, os ministros Fufuca e
Sílvio Costa Filho ainda não sabem se que vão ser ministros, mas Lula abre
vagas quando voltar da África. Em consequência, o deputado Fufuca vai dar uma
banana para seus 135 mil mandantes e o deputado Sílvio fará o mesmo gesto para
162 mil eleitores. Para eles, fica mais fácil ter um chefe único - e os
representados deles terão que esperar a próxima eleição para fazer isso. Triste
saber que isso é usual nas relações entre representantes e representados,
quando o mandatário decide servir a outro senhor. Assim não há democracia
representativa que se sustente.
Mês
passado, o presidente bateu o recorde de liberação de emendas: 11 bilhões e 800
milhões de reais - isso é mais que o orçamento de Porto Alegre para o ano
inteiro de 2024. Os contribuintes muito suaram para pagar tudo isso em
impostos. Trabalha-se cinco meses por ano para sustentar o estado a pretexto de
que ele, a serviço do povo, preste bons serviços de polícia, justiça, ensino,
educação e infraestrutura básica. Os 11,8 bilhões de julho se destinam a atrair
votos para o governo, que é de esquerda. Na eleição de 5 de outubro, a Câmara
ficou 73% de centro-direita e o Senado com 67%. Supostamente, essa foi a
vontade do eleitor naquele dia. Mas o eleitor é a parte fácil de ser traída à
distância, sem voto distrital, não apenas na infidelidade ao voto, mas até
abandonando o mandante para servir a outro poder, o Executivo.
Por que
isso acontece? Apenas pela atração que sente um deputado que, sendo um em 513
da Câmara quer se valorizar e ser um em 37 ou 39 no ministério? Será pelas
emendas? Será que é o poder sobre o orçamento de ministério? Será que é por falta
de formação política, que negligencia seus eleitores? Ou por falta de formação
de eleitores, que não se importam, não exigem, não cobram, não sabem que são
mandantes de um mandatário e talvez nem saibam em quem votaram? E mais uma
pergunta: quem influencia mais esse representante do povo, no Congresso
Nacional: o que diz a TV, o jornal, ou seus eleitores? Ninguém perguntou aos
mandantes, na hora de votar os fundos partidário e eleitoral, se concordam em
sustentar todos os partidos, inclusive os adversários. Aí, “todo poder emana do
povo” vira farsa. Na prática, a verdade é que todo sustento do Estado emana do
povo, já que é o pagador final de todos os impostos, como consumidor. Paga tudo
e não exerce o poder.
Na
influência sobre o parlamentar, a mídia supera o eleitor e o substitui. Seria
ela a grande mandante? Se assim for, temos mais um desvio na representação,
neste “poder que emana do povo”, que serve apenas como rótulo de democracia.
Eleitor apático e passivo pagador de impostos é massa inerte ante
autoritarismos que tributam, restringem, censuram, prendem e não se submetem à
Constituição. Mandantes desligados de seus mandatários abandonam o canal de
intermediação do poder. E, como se sabe, o poder não suporta vácuo. Não há
democracia que conviva com isso; resta apenas um rótulo enganoso.
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#brasil #lula
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