Fábio Blanco
Liberdade,
glória e perdição
Deus é
absolutamente livre, não está sujeito a nada, não responde a ninguém, faz o que
quer, quando quer. Seus atos são plenamente conscientes e sua vontade efetiva.
Nele, não há impulsos ou reações, apenas determinações que não conhecem
obstáculos.
Já os
homens são movidos, em grande parte, por seus instintos. A força animalesca da
sua natureza é quem determina muitos dos seus atos. Invariavelmente, suas
reações são automáticas, frutos do impulso.
Diante
da inconsciência de considerável parcela do comportamento humano, alguns
pensadores chegam, inclusive, a negar o livre-arbítrio. Eles pensam assim:
alguém com tão pouco controle sobre o que faz não pode ser considerado livre.
Por isso, colocam-no como refém do Destino, da Providência, da Fortuna, de
Deus.
No
entanto, o homem é um ser híbrido, consciente e inconsciente, reativo e
deliberativo, ator e espectador da própria existência. Se em parte está sujeito
a forças exteriores que o conduzem, em parte é o dirigente de sua própria
sorte.
Foi o
conceito de pecado da perspectiva judaico-cristã que diminuiu a força do
destino ao fazer do homem responsável por suas escolhas. Tornou-o imputável e
com isso pressupôs sua capacidade de deliberação. Se delibera, julga; se julga,
pensa; se pensa, tem consciência.
Essa
parcela de consciência é exatamente a sua porção de liberdade. Sendo livre,
ainda que em parte, é semelhante a Deus. faz-se assim um tipo de deus menor,
limitado, mas, ainda assim, divino.
No entanto, essa mesma liberdade que diviniza o homem, numa contradição perpétua, o faz pecar. Faz dele santo e demônio. Por isso, ela acaba sendo sua bênção e maldição; glória e perdição. Torna-o amigo de Deus, mas também o seu mais renitente adversário.
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