POLÍTICA
INTERNACIONAL
Alexandre
Garcia: O "anão diplomático" voltou
A
maioria de nós é produto de cultura originária nas religiões judaico-cristãs. A
história do povo de Israel está nas nossas raízes religiosas
INÍCIO
POLÍTICA
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa durante o lançamento de sua
campanha para as eleições presidenciais de outubro em São Paulo, Brasil, em 7
de maio de 2022. - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou sua
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa durante o lançamento de sua
campanha para as eleições presidenciais de outubro em São Paulo, Brasil, em 7
de maio de 2022. - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou sua
"pré-candidatura" presidencial no sábado, que o colocará contra o
líder de extrema-direita Jair Bolsonaro nas eleições de 2 de outubro no Brasil,
em um duelo em que, pelo menos por enquanto, ele é o favorito. - (crédito:
NELSON ALMEIDA/AFP)
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Alexandre
Garcia
postado
em 21/02/2024 03:55
Brasil
e Israel estão a um passo de rompimento de relações. O presidente Lula chamou
de volta o embaixador do Brasil em Tel-Aviv e isso tem um significado
dramático. Antes, o premiê Benjamin Netanyahu mandou dar uma reprimenda no
embaixador brasileiro Frederico Meyer — e ela foi feita significativamente no
Museu do Holocausto, para que o governo do Brasil saiba o que foi Hitler e o
genocídio que se chamou de Holocausto. O embaixador foi informado pelo ministro
do Exterior, Israel Katz, de que Lula é persona non grata em Israel. Aqui, o
ministro Mauro Vieira convocou o embaixador de Israel, sediado em Brasília,
para uma conversa na antiga sede do Itamaraty, no Rio, onde o chanceler estava
— completando o revide. O ex-chanceler Celso Amorim, que rege com Lula a
política externa, chamou isso de absurdo, disse que Lula não vai se retratar do
que disse, e radicalizou: "Quem é persona non grata é Israel".
Tudo
isso choca os brasileiros. A maioria de nós é produto de cultura originária nas
religiões judaico-cristãs. A história do povo de Israel está nas nossas raízes
religiosas. Judeus e árabes misturaram seus genes e suor na formação da nação
brasileira. Foi um brasileiro, Oswaldo Aranha, que, presidindo a Assembleia da
ONU, pôs em decisiva votação no exato dia em que percebeu quórum favorável à
Resolução 181, promovendo a divisão da Palestina em um estado árabe e outro
judeu, o que ensejou, no ano seguinte, 1948, a criação do Estado de Israel, que
voltou a abrigar judeus que as perseguições dispersaram pelo mundo. O genocídio
praticado pelo nazismo solidificou nos judeus a convicção de Holocausto nunca
mais. Na gigantesca manifestação de 7 de setembro de 2022, bandeiras de Israel
tremulavam na Esplanada, em Brasília. No novo governo, o embaixador de Israel
em Brasília não tem sido benquisto, por sua amizade com o ex-presidente.
O
presidente Lula, chefe da política externa, desde que assumiu, revelou suas
preferências internacionais. No primeiro mês, autorizou dois navios de guerra
do Irã a aportarem no Rio de Janeiro, contrariando os Estados Unidos. No
primeiro ano, tentou impor aos presidentes latino-americanos o ditador Maduro,
provocando repúdio até do esquerdista chileno Gabriel Boric. Sempre silenciou
sobre as agressões às liberdades e à democracia perpetradas em Cuba, Nicarágua
e Venezuela. Quando o Hamas atacou kibbutzim no sul de Israel, assassinando,
torturando e sequestrando idosos, mulheres, crianças e bebês, em 7 de outubro,
Lula repudiou o terrorismo, sem citar o Hamas como autor, e acrescentou que não
pouparia esforços para evitar uma escalada do conflito — isto é, a reação
previsível de Israel. E, quando apareceu morto em prisão russa o opositor
Navalny, e o mundo ocidental responsabilizava Putin, Lula o defendeu: "Por
que essa pressa em acusar alguém?" São as preferências.
Para os
israelenses, foi uma blasfêmia Lula comparar a ação de Israel em Gaza ao
genocídio de Hitler contra os judeus. Lula chegou a dizer que Israel, para
matar mulheres e crianças palestinas, usa o pretexto de combater o Hamas.
Netanyahu afirmou que Lula cruzou a linha vermelha com palavras vergonhosas e
graves; banalizou o Holocausto e o direito de Israel de se defender. No Museu
do Holocausto, o ministro Israel Katz disse ao embaixador brasileiro que as
palavras de Lula foram "severamente antissemitas". Por causa disso,
Lula, finalmente, ganhou projeção internacional. Em 2014, o porta-voz do
Ministério do Exterior de Israel, Ygal Palmor, chamou o Brasil de "anão
diplomático". Os fatos revelam que o anão está de volta.
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