Post de Geraldo Leony Machado
Geraldo Leony Machado
16 de fevereiro ·
DRAMA NO MARAJÓ – S.O.S
O pequeno barco deslizava rio abaixo com duas meninas, aparentando 13 e 14 anos e um
rapaz, forte, pele cor de cobre, cabelos lisos e grossos, talvez 16 anos, olhos
oblíquos, denotava sua origem indígena. Vinham de povoado distante pelo rio
Paracauari em direção à uma determinada cidade na Bacia do Marajó, onde
aportavam, vez por outra, navios cargueiros.
***
O Arquipélago do Marajó tem cerca 2.500 a 3.000 ilhas e
ilhotas. A principal ilha do arquipélago
é a Ilha de Marajó, a maior ilha costeira do Brasil.
“O Rio Paracauari é um rio que faz parte da rede fluvial da
foz da Bacia Hidrográfica do Rio Amazonas e drena a porção nordeste da Ilha de
Marajó”.
Região paradisíaca, tem um povo simples e acolhedor,
dançarino, forte e orgulhoso, com etnia advinda de índios, negros e brancos,
miscigenação que os fez de média estatura. Suas mulheres, graciosas e faceiras;
os homens fortes e aguerridos
“Na época da chegada dos portugueses, a tribo indígena Aruã
ocupava o arquipélago, em aldeias distribuídas pela costa norte-oriental do
território, onde estão localizadas as cidades de Chaves e Soure e onde estavam
as aldeias Maruanazes e Mundins”.
O Marajó revela beleza natural que impressiona. Os
ecossistemas, a cultura milenar, a culinária, o povo hospitaleiro, agradável, o
açaí, e a dança do carimbó - patrimônio cultural e imaterial do Brasil. Tudo lá
é beleza. Contudo há carências não satisfeitas e sérias distorções penalizando
suas populações.
***
Ao se aproximarem do cargueiro, o constrangimento dominou os
três adolescentes. Estavam com fome há dias. A caça e a pesca não supriam as
necessidades da família. A mãe enferma, e o pai fizera-se ausente desde quando
eram menores.
Os embarcadiços espreitavam. Iriam atender aos seus
instintos. A impunidade fazia-os não medirem consequências. O possível, a não
identificação, as necessidades que roíam a carne e machucavam o espirito,
convergiam para o palco onde dramas eventuais ou cotidianos faziam descer para
um inferno dantesco.
A pequena embarcação, chamada de rabeta porque movida a
pequeno motor acoplado à sua traseira, encostou no navio fundeado, o rapaz que
a pilotava lançou espécie de retinida para atraca-la a bombordo do cargueiro.
Uma voz – sobe.
As meninas hesitavam. A menor choramingava.
O rapaz – vão.
Pela escada de cordas subiram para o convés da embarcação.
Dois homens corpulentos e de aparências desfeitas as receberam. Suas mãos
fortes apalparam as meninas, que se encolhiam. Tentaram voltar, mas, foram
obrigadas a prosseguir e a entrar em compartimento de cargas.
Não haveria retorno. Deveriam cumprir o destino que o
infortúnio lhes preparara. Nesses
ambientes, estupro de vulnerável, assédio sexual, importunação sexual,
satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente eram
corriqueiros.
Uma hora após o ingresso no navio as meninas saem correndo,
os homens gargalham e pedem que voltem no dia seguinte. Ambas levam consigo R$50,00. A menor chora, não
conhecia aquela prática, sequer sabia o que realmente a esperava.
Àgeis retornam à rabeta. Em casa, entregam à mãe o dinheiro conseguido. Esta, à noite,
deitada, olhos apertados, chora em silêncio. As meninas dormem, depois de horas
de insônia. O rapaz medita num meio de piratear o cargueiro e matar seus
tripulantes.
Nessa convulsão de sentimentos, os dias transcorrem. As
moças ribeirinhas – algumas - vão-se acostumando com a realidade amoral de
sobrevivência, tornando-a libidinosa e dela usufruindo certos prazeres. Outras,
sentem o espírito ferido, desapegam-se dos cuidados da feminilidade. Para quê,
perguntam, se nada muda. o certo seria deixar-se usar o menos possível,
oferecer-se sem aprumo ou consideração. Tirar o mais que pudessem.
Sem emprego, sem saúde, sem educação, a população indígena e
mestiça sofria os reveses da desatenção governamental, aliada as dificuldades
oriundas da dimensão do problema, em área continental.
Os imensos interesses, o tráfico de mulheres e de crianças,
os rapazes inaptos, sem qualquer conhecimento para destiná-los à ocupação. A
bandidagem consequente que se avolumava e que chegada à capital lotava os
cárceres. Não havia futuro ou esperança. As favelas multiplicadas, a
favelização – terrível problema social e econômico.
O crime organizado. A região abandonada. Os aproveitadores
de plantão nacionais e estrangeiros. O capital - reais, dólares, euros, francos
- de algumas ONGs, desvirtuadas de seus objetivos, pervertendo. A mentalidade
que se ia espraiando, enraizando, influenciando para um comportamento
permanente, assumindo várias facetas, vários aspectos em certos grupos sociais.
A sociedade, a exemplo do que ocorre nos vários Brasis, ia-se deformando.
Ana, Berta e Eugênio eram “filhos” dessas circunstâncias
diabólicas, com vidas moldadas a ferro e a fogo para cruéis destinações:
Eugênio consegue chegar à Capital. Envolve-se com antigos
amigos e culmina por se tornar chefe de bando de facção. Torna-se ladrão,
assassino e pirata, sem esquecer o objetivo fixo de eliminar tripulantes
envolvidos em abusos sexuais.
Berta permaneceu na região, tendo-se amoldado à vida de
programas com os tripulantes de navios, de policiais e outros que pagassem por
seus favores.
Ana, a mais nova, agora com 17 anos, vistosa e bonita se
envolveu com um imediato de navio que a levou para a capital com promessas de
vida melhor. Conduziu-a para um dos
antigos prédios do cais do porto, onde era costumeiro. Dormiu com a vitima do
rapto praticado, antes narrando sua armação cretina à sorridente dona do
bordel. Acordou cedo e desapareceu. Ana que estava no andar inferior,”
especial”, vendo-se abandonada, sem esperanças, subiu com timidez as escadas do
velho e histórico prédio. Recebida com ilusório afeto pela cafetina, nele
permaneceu.
Geraldo Leony Machado
SSA, 15.02.2025
SOS BRASIL, MAIS DO QUE UMA ESTÓRIA, É HISTÓRIA. TRISTE REALIDADE AMAZÔNICA, NACIONAL.
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