segunda-feira, 21 de julho de 2025

DRAMA NO MARAJÓ-SOS

 

Post de Geraldo Leony Machado

Geraldo Leony Machado

16 de fevereiro  ·

DRAMA NO MARAJÓ – S.O.S

O pequeno barco deslizava rio abaixo com  duas meninas, aparentando 13 e 14 anos e um rapaz, forte, pele cor de cobre, cabelos lisos e grossos, talvez 16 anos, olhos oblíquos, denotava sua origem indígena. Vinham de povoado distante pelo rio Paracauari em direção à uma determinada cidade na Bacia do Marajó, onde aportavam, vez por outra, navios cargueiros.

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O Arquipélago do Marajó tem cerca 2.500 a 3.000 ilhas e ilhotas.  A principal ilha do arquipélago é a Ilha de Marajó, a maior ilha costeira do Brasil.

“O Rio Paracauari é um rio que faz parte da rede fluvial da foz da Bacia Hidrográfica do Rio Amazonas e drena a porção nordeste da Ilha de Marajó”.

Região paradisíaca, tem um povo simples e acolhedor, dançarino, forte e orgulhoso, com etnia advinda de índios, negros e brancos, miscigenação que os fez de média estatura. Suas mulheres, graciosas e faceiras; os  homens fortes e aguerridos

“Na época da chegada dos portugueses, a tribo indígena Aruã ocupava o arquipélago, em aldeias distribuídas pela costa norte-oriental do território, onde estão localizadas as cidades de Chaves e Soure e onde estavam as aldeias Maruanazes e Mundins”.

O Marajó revela beleza natural que impressiona. Os ecossistemas, a cultura milenar, a culinária, o povo hospitaleiro, agradável, o açaí, e a dança do carimbó - patrimônio cultural e imaterial do Brasil. Tudo lá é beleza. Contudo há carências não satisfeitas e sérias distorções penalizando suas populações.

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Ao se aproximarem do cargueiro, o constrangimento dominou os três adolescentes. Estavam com fome há dias. A caça e a pesca não supriam as necessidades da família. A mãe enferma, e o pai fizera-se ausente desde quando eram menores.

Os embarcadiços espreitavam. Iriam atender aos seus instintos. A impunidade fazia-os não medirem consequências. O possível, a não identificação, as necessidades que roíam a carne e machucavam o espirito, convergiam para o palco onde dramas eventuais ou cotidianos faziam descer para um inferno dantesco.

A pequena embarcação, chamada de rabeta porque movida a pequeno motor acoplado à sua traseira, encostou no navio fundeado, o rapaz que a pilotava lançou espécie de retinida para atraca-la a bombordo do cargueiro.

Uma voz – sobe.

As meninas hesitavam. A menor choramingava.

O rapaz – vão.

Pela escada de cordas subiram para o convés da embarcação. Dois homens corpulentos e de aparências desfeitas as receberam. Suas mãos fortes apalparam as meninas, que se encolhiam. Tentaram voltar, mas, foram obrigadas a prosseguir e a entrar em compartimento de cargas.

Não haveria retorno. Deveriam cumprir o destino que o infortúnio lhes preparara.  Nesses ambientes, estupro de vulnerável, assédio sexual, importunação sexual, satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente eram corriqueiros.

Uma hora após o ingresso no navio as meninas saem correndo, os homens gargalham e pedem que voltem no dia seguinte. Ambas  levam consigo R$50,00. A menor chora, não conhecia aquela prática, sequer sabia o que realmente a esperava.

Àgeis retornam à rabeta. Em casa, entregam  à mãe o dinheiro conseguido. Esta, à noite, deitada, olhos apertados, chora em silêncio. As meninas dormem, depois de horas de insônia. O rapaz medita num meio de piratear o cargueiro e matar seus tripulantes.

Nessa convulsão de sentimentos, os dias transcorrem. As moças ribeirinhas – algumas - vão-se acostumando com a realidade amoral de sobrevivência, tornando-a libidinosa e dela usufruindo certos prazeres. Outras, sentem o espírito ferido, desapegam-se dos cuidados da feminilidade. Para quê, perguntam, se nada muda. o certo seria deixar-se usar o menos possível, oferecer-se sem aprumo ou consideração. Tirar o mais que pudessem. 

Sem emprego, sem saúde, sem educação, a população indígena e mestiça sofria os reveses da desatenção governamental, aliada as dificuldades oriundas da dimensão do problema, em área continental.

Os imensos interesses, o tráfico de mulheres e de crianças, os rapazes inaptos, sem qualquer conhecimento para destiná-los à ocupação. A bandidagem consequente que se avolumava e que chegada à capital lotava os cárceres. Não havia futuro ou esperança. As favelas multiplicadas, a favelização – terrível problema social e econômico.

O crime organizado. A região abandonada. Os aproveitadores de plantão nacionais e estrangeiros. O capital - reais, dólares, euros, francos - de algumas ONGs, desvirtuadas de seus objetivos, pervertendo. A mentalidade que se ia espraiando, enraizando, influenciando para um comportamento permanente, assumindo várias facetas, vários aspectos em certos grupos sociais. A sociedade, a exemplo do que ocorre nos vários Brasis, ia-se deformando.  

Ana, Berta e Eugênio eram “filhos” dessas circunstâncias diabólicas, com vidas moldadas a ferro e a fogo para cruéis destinações:

Eugênio consegue chegar à Capital. Envolve-se com antigos amigos e culmina por se tornar chefe de bando de facção. Torna-se ladrão, assassino e pirata, sem esquecer o objetivo fixo de eliminar tripulantes envolvidos em abusos sexuais.

Berta permaneceu na região, tendo-se amoldado à vida de programas com os tripulantes de navios, de policiais e outros que pagassem por seus favores.

Ana, a mais nova, agora com 17 anos, vistosa e bonita se envolveu com um imediato de navio que a levou para a capital com promessas de vida melhor.  Conduziu-a para um dos antigos prédios do cais do porto, onde era costumeiro. Dormiu com a vitima do rapto praticado, antes narrando sua armação cretina à sorridente dona do bordel. Acordou cedo e desapareceu. Ana que estava no andar inferior,” especial”, vendo-se abandonada, sem esperanças, subiu com timidez as escadas do velho e histórico prédio. Recebida com ilusório afeto pela cafetina, nele permaneceu. 

Geraldo Leony Machado

SSA, 15.02.2025

SOS BRASIL, MAIS DO QUE UMA ESTÓRIA, É HISTÓRIA. TRISTE         REALIDADE AMAZÔNICA, NACIONAL.   

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