O
adoçante popular que pode estar danificando defesas do seu cérebro
22
julho 2025
Encontrado
em quase tudo, desde barrinhas de proteína a energéticos, o eritritol é
considerado há muito tempo uma alternativa saudável ao açúcar.
Mas,
uma nova pesquisa sugere que esse adoçante amplamente utilizado pode estar
comprometendo silenciosamente uma das barreiras mais importantes do nosso
corpo, com possíveis consequências sérias para a saúde do coração e risco de
acidente vascular cerebral (AVC).
Um
estudo recente da Universidade de Colorado indica que o eritritol pode
danificar células da barreira hematoencefálica — um "sistema de
defesa" do cérebro responsável por impedir a entrada de substâncias
nocivas enquanto permite a entrada de nutrientes essenciais.
Os
resultados reforçam preocupações apontadas em estudos anteriores, que haviam
observado uma relação entre o consumo de eritritol e o aumento de casos de
infarto e AVC.
Nesse
novo experimento, pesquisadores expuseram células da barreira hematoencefálica
a níveis de eritritol semelhantes aos encontrados no sangue após o consumo de
uma bebida adoçada com esse componente.
Colher
com um adoçante branco
O
adoçante popular que pode estar danificando defesas do seu cérebro
O
resultado foi uma reação em cadeia de danos celulares que pode deixar o cérebro
mais vulnerável à formação de coágulos sanguíneos, levando a um AVC.
Infarto
e AVC
O
eritritol desencadeou o que os cientistas chamam de estresse oxidativo — uma
sobrecarga de moléculas altamente reativas, conhecidas como radicais livre, que
danificam as células enquanto reduzem as defesas antioxidantes naturais do
corpo.
Esse
ataque duplo comprometeu a habilidade das células de funcionar normalmente e,
em alguns casos, levou à morte celular.
Mas
talvez o mais preocupante sejam os efeitos do eritritol sobre a capacidade dos
vasos sanguíneos de regular o fluxo de sangue.
Em
condições normais, os vasos funcionam como controladores de tráfego: se dilatam
quando os órgãos precisam de mais sangue — durante exercícios, por exemplo — e
se contraem quando a demanda de sangue diminui.
Esse
equilíbrio delicado é alcançado por meio de duas moléculas importantes: o óxido
nítrico, que relaxa os vasos sanguíneos, e a endotelina-1, que os contrai.
O
estudo mostrou que o eritritol desregula esse sistema essencial, reduzindo a
produção de óxido nítrico e aumentando os níveis de endotelina-1.
Isso
faz com que os vasos sanguíneos permaneçam perigosamente contraídos, o que pode
levar à falta de oxigênio e de nutrientes no cérebro.
Esse
desequilíbrio é um indicador de risco para AVC isquêmico, causado por coágulos
que bloqueiam o fluxo sanguíneo no cérebro.
Ainda
mais alarmante, o eritritol parece sabotar a defesa natural do corpo contra
coágulos.
Normalmente,
quando um coágulo se forma nos vasos sanguíneos, as células liberam um composto
chamado ativador do plasminogênio tecidual (tPA), que dissolve o bloqueio antes
que ele cause um derrame.
Mas o
adoçante inibiu esse mecanismo de proteção, permitindo que os coágulos
progridam sem controle.
Pesquisas
apontam que pessoas que consomem eritritol com frequência têm mais risco de
sofrer um infarto ou AVC
Os
resultados do laboratório corroboram com evidências de outros estudos
realizados com seres humanos. Várias pesquisas observacionais em larga escala
apontaram que pessoas que consomem eritritol com frequência têm riscos mais
altos de doenças cardiovasculares, incluindo infarto e AVC.Um dos principais
estudos, que monitorou milhares de participantes, descobriu que aqueles com
maiores níveis de eritritol no sangue tinham duas vezes mais chances de sofrer
um evento cardíaco grave.
No
entanto, a pesquisa tem limitações. Os experimentos foram realizados com
células isoladas em placas de laboratório, e não com vasos sanguíneos
completos, o que significa que as células podem não se comportar exatamente
dessa forma no corpo humano.
Cientistas
reconhecem que testes mais avançados — usando sistemas com "vasos
sanguíneos em chip", que imitam melhor a fisiologia real — serão
necessários para confirmar esses efeitos.
Mas os
resultados são particularmente relevantes porque o eritritol ocupa uma posição
única no universo dos adoçantes.
Diferentemente
de adoçantes artificiais como aspartame ou a sucralose, o eritritol é
tecnicamente um álcool de açúcar — um composto natural que o próprio corpo
humano produz em pequenas quantidades.
Essa
classificação ajudou a evitar sua inclusão nas recentes diretrizes da
Organização Mundial de Saúde (OMS), que desaconselham o uso de adoçantes
artificiais para controle de peso.
Além
disso, o eritritol se tornou popular entre fabricantes de alimentos porque se
comporta de forma mais semelhante ao açúcar do que outras alternativas.
Enquanto a sucralose é 320 vezes mais doce que o açúcar, o eritritol fornece
apenas 80% da doçura, o que facilita seu uso em receitas sem criar um sabor
excessivamente marcante ou intenso.
Hoje,
ele está presente em milhares de produtos industrializados, principal naqueles
rotulados como "zero açúcar" ou usados em dietas cetogênicas, com
restrição de carboidratos.
Substituição
do açúcar
Agências
reguladoras como a Agência Europeia para Segurança Alimentar (EFSA) e a
Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA) aprovaram o eritritol
como seguro para consumo. Contudo, essa nova pesquisa reforça evidências
crescentes que indicam que mesmo alternativas naturais ao açúcar podem trazer
riscos inesperados à saúde.
Para os
consumidores, os resultados levantam questões difíceis sobre trocas que podem
ser feitas para substituir o açúcar.
Adoçantes
como o eritritol podem ser ferramentas valiosas no controle de peso e na
prevenção de diabetes, ajudando a reduzir calorias e evitar picos de açúcar no
sangue. Mas, se o consumo regular pode enfraquecer as barreiras de proteção do
cérebro e aumentar o risco de um evento cardiovascular, os benefícios podem
custar caro.
A
pesquisa destaca um desafio na ciência da nutrição: entender os efeitos de
longo prazo de aditivos alimentares relativamente novos, que se tornaram
onipresentes na dieta moderna.
Embora
o eritritol possa ajudar as pessoas a evitar os danos imediatos do consumo
excessivo de açúcar, seu efeito sobre a barreiras hematoencefálica indica que o
uso frequente pode, silenciosamente, comprometer a proteção do cérebro ao longo
do tempo.
À
medida que os cientistas continuam investigando essas ligações preocupantes,
talvez valha a pena os consumidores reavaliarem sua relação com esse adoçante
aparentemente inofensivo — e, quem sabe, questionar se algum substituto do
açúcar é realmente isento de riscos.
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