domingo, 7 de janeiro de 2018

FEVEREIRO!




A história de fevereiro, o mês que foi roubado
Júlio César foi o imperador que acertou o calendário, mas manteve a injustiça: fevereiro seguiu com menos dias que os outros meses
 
Fevereiro é o mês mais injustiçado do calendário. Mas também o mais, digamos, “excêntrico”. Sua longa história – que tem a ver com febre, purificação, ciúmes, roubo e enxerto de dias – vale algumas mal traçadas linhas. OK, admito: sou suspeito para falar porque assopro velas por esses dias. Mas vá lá... Quem não tem suas preferências que atire a primeira pedra.
Nunca foi tão importante estar bem informado. Sua assinatura financia o bom jornalismo.
Comecemos pela injustiça – que também não deixa de ser uma excentricidade. Só 28 dias? Os demais meses têm pelo menos 30. Alguns ostentam parrudos 31. A pergunta que não quer calar é: quem, afinal, roubou fevereiro? Por incrível que pareça, eles (são mais de um) têm nome e sobrenome. Daqui a pouco chegamos lá. Um pouco de paciência é o que vos peço.
Aos fatos. Roma antiga seguia até o século 7.º a.C. um calendário lunar com dez meses de 30 ou 31 dias (dezembro era o mês dez; tal como novembro o nove, outubro o oito e setembro o sete). Dezembro fechava o ano e março o abria.
A história de fevereiro – perdoem o trocadilho – começou pelo fim
Veja também
O problema é que faltou combinar com os russos. O calendário não batia com os ciclos da natureza. As estações caíam sempre em meses diferentes. Era uma baita confusão. Foi quando o rei Numa Pompílio decidiu acabar com a bagunça e adotou o calendário solar – que, porém, tinha 11 dias a menos do que deveria: 354.
Outra novidade foi a inclusão de mais dois meses no ano. Um deles, janeiro, homenageava Janus – o deus das mudanças e transições (oportunamente retratado com duas cabeças, uma olhando o passado e outra, o futuro).
O personagem de nossa história de hoje foi batizado de februarius, o mês da februa – que por sua vez era a festa dedicada a Februus, deus da purificação. Não por acaso, também vem daí a palavra “febre”: a tentativa do corpo de se “purificar” da doença.
Publicidade
Coube ao novato encerrar o ano. Assim, a história de fevereiro – perdoem o trocadilho – começou pelo fim. Mas não se pode nem dizer que foi uma “honra” ser o último. Os romanos eram supersticiosos e achavam que esse era um período de mau agouro. Melhor terminar logo. E fevereiro entrou como uma espécie de tapa-buraco, com os dias necessários apenas para fechar o calendário. Menos que os demais. Então, temos o primeiro ladrão de dias: Numa Pompílio.
Cerca de seis séculos se passaram e os romanos perceberam que aquele calendário continuava zoado. Então Júlio César resolveu pôr ordem na casa pela segunda vez. Consultou seus especialistas. Instituiu o ano de 365 dias. E, como todo chefe que se preze, deu seu toque final: decidiu que janeiro iria ser o início do ano. Fico imaginando a plebe se questionando: “Hum, por que diabos dezembro (o mês dez) na verdade vai ser o mês 12?” Caprichos de quem manda.
Júlio César acertou o calendário, mas manteve a injustiça: fevereiro seguiu com menos dias que os outros meses. No princípio, eram 29. Mas logo viria a perder mais um. O imperador César Augusto ficou enciumado porque o mês sextius, renomeado para julho em homenagem ao antecessor, tinha 31 dias. Um a mais que aquele mês que ele escolheu para chamar de seu, agosto. A solução: tira mais um dia de fevereiro que ele não vai ligar. E assim foi.
Pelo menos Augusto não sacou da folhinha de fevereiro a charmosa excentricidade de cada quadriênio, o dia extra, o dia bissexto – criado por Júlio César para tentar combinar definitivamente os ponteiros dos homens com os da mãe natureza.
Aliás, tecnicamente o dia é bissexto, não o mês, tampouco o ano. Explicando: os romanos só tinham nomes para três dias do mês: as calendas (o primeiro), as nonas (lá pelo dia 5) e os idos (a metade do mês). Todos os demais eram denominados em relação a esses dias.
O termo “bissexto” literalmente vem da expressão “antediem bis-sextum calendas martii”: sexto dia duplicado antes das calendas de março. Ou seja, eles não decidiram criar o 29 de fevereiro. Mas duplicaram o dia 23 – o sexto dia antes do 1.º de março.
Por sinal, essa era a data de uma espécie de folia momesca, a popularíssima festa das termálidas. Espertinhos esses romanos, hein? Dobraram a duração do feriado.
Pensando bem, as coisas não mudaram muito hoje. Fevereiro continua sendo o mês do carnaval. E, ao menos por essas bandas abaixo do Equador, quem não gosta de enforcar um dia de trabalho que se intromete no meio do feriadão?

 Fernando Martins

Sem comentários:

Enviar um comentário

REFLEXÃO...03

  Eleição e livre-arbítrio: um assunto complexo de maneira fácil   Meu privilégio em apresentar este livro decorre de algumas razões: o ...