A história do Novo Testamento em Ninam
Em 2021, após 49 anos de trabalho minucioso, o Novo
Testamento em Ninam ficou pronto para ser impresso
Por Carole Lee Swain, Jacqueline dos Santos e Maria Rosa
Monte
Atualmente, cerca de 1 mil Ianomâmis de fala Ninam vivem na
porção leste da Terra Yanomami, no estado de Roraima, no norte do Brasil. Essa
língua possui três dialetos: Ninam do Sul, conhecidos como Xirixana (Região do
rio Mucajaí), Ninam do Norte, conhecidos como Xiriana (Região do Ericó) e Ninam
Central. Os falantes do Ninam do Sul estão divididos em seis comunidades, ao
longo do rio Mucajaí, e uma às margens do rio Uraricoera. Todas são derivadas
do grupo que estava em Alto Mucajaí no momento do primeiro contato. Os Ninam vivem
no Brasil e na Venezuela, totalizando quase 2 mil indivíduos.
Até 1958, quando o primeiro “klaiwa” – palavra Yanomami para
não-indígena – chegou para demarcar as terras brasileiras, os Ninam viviam
isolados. Logo depois disso, em 1958 mesmo, os missionários Neil Hawkins e John
Peters, acompanhados de dois indígenas da etnia Wai Wai, Marawenare e Mawasha,
subiram o rio Mucajaí até a primeira aldeia dos Ninam. Os missionários foram
bem recebidos e estabeleceram um ponto de contato permanente, com missionários
residentes desde então. John Peters permaneceu em Mucajaí até 1966. Naquela
época, os Ninam eram seminômades, falantes de uma língua ágrafa e não possuíam
ferramentas de ferro ou aço, como machados e facas. Eles usavam seu próprio
estilo de roupa: as mulheres vestiam makpesi – aventais feitos de sementes – e
os homens usavam mopesi – tangas de algodão. Os Ninam foram e ainda são um povo
muito receptivo. João Peters fez contato com duas comunidades sem contratempos.
Como resultado, nasceu a aldeia no Alto Mucajaí, como a conhecemos hoje.
Durante os primeiros anos, os missionários John e Lorraine Peters, Frank e
Isabel Ebel, e Sue Albright focaram nas pesquisas para a aprendizagem da língua
e no estudo da cultura.
Em julho de 1967, a missionária americana, Carole Lee Swain
(Carolina), começou a trabalhar no Brasil, entre os Yanomami Ninam no Alto
Mucajaí, após a mudança dos Peters para Boa Vista. Ela ouviu o chamado do
Senhor ainda adolescente. Mais tarde, recebeu treinamento teológico no
Philadelphia College of Bible e fez o curso intermediário, no SIL (Summer
Institute of Linguistics), de fonética, fonologia e gramática, em Oklahoma.
Desde o início, Carolina tinha o intuito de fazer trabalhos linguísticos e de
tradução da Bíblia. Inicialmente, ela compilou o material feito pelos
missionários pioneiros e, a partir daí, escreveu um texto inédito da gramática
Ninam. (Atualmente a gramática Ninam está sendo escrita pela missionária
Victória Infante.) Em 1972, logo após concluir o curso básico de aprendizagem da
língua Ninam, Carolina começou a traduzir o livro de Marcos. Em 1973, a MEVA
(Missão Evangélica da Amazônia) realizou o primeiro “workshop de tradução” com
as consultoras do SIL-Brasil, Marge Crofts e Margaret Sheffler; e Kathrine
Rountree, do Suriname, que se juntou aos tradutores da MEVA e da Missão Novas
Tribos. Com a chegada de outros missionários, o trabalho normal no Alto Mucajaí
foi acontecendo e Carolina pôde se dedicar mais ao trabalho de tradução.
Em 2003, as missionárias Jacqueline dos Santos e Maria Rosa
Monte chegaram no Alto Mucajaí. Durante os primeiros anos, elas se dedicaram ao
aprendizado da língua e cultura Ninam, e trabalharam na escola da aldeia,
orientadas pela missionária veterana Carol James. Foi uma boa oportunidade para
ampliarem o material didático existente e treinarem mais professores indígenas.
Já com certo domínio da língua, Jacqueline e Rosa começaram a ensinar a Palavra
de Deus às crianças, mas havia falta de material no idioma. Então, elas
decidiram produzir pequenas histórias bíblicas em Ninam, com a ajuda de Carol
James. Em 2008, elas se engajaram na tradução bíblica. Tanto Jacqueline (Jac)
quanto Rosa fizeram cursos específicos que contribuíram para aumentar o
conhecimento sobre o povo Ninam e prepará-las para se aperfeiçoarem no trabalho
de tradução. Carolina trabalhou sozinha de 1972 a 2008, período em que traduziu
os seguintes livros: Lucas, Atos, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2
Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemom, Tiago e 1 João. Após seu retorno
para os EUA, em 2009, ela concluiu os evangelhos de Mateus e João, totalizando
15 livros. Jac e Rosa traduziram os 12 livros restantes. Em 2021, após 49 anos,
o Novo Testamento Ninam ficou pronto para ser impresso.
Carolina, Jac e Rosa são gratas a Deus pela ajuda que
receberam de tantos Ninam durante o processo de tradução. Jac e Rosa são gratas
também pelo aprendizado adquirido através do trabalho com a Carolina.
Foram muitos anos de trabalho minucioso. Nada disso teria
sido possível sem o olhar desbravador de alguns dos missionários citados acima
e a ajuda preciosa de pessoas como Wayne e Bonnie Follmar, Carol James, Estevão
e Aurora Anderson, Milton e Márcia Camargo, Alex e Daura Junqueira, Davi e Beth
Brown, Cassiano e Luciana Luz, Antônio Marcos e Simone Silva, Maria Isabel de
Oliveira, Maurício e Flavia Souza, Dr. Paulo e Raquel Rodrigues, Josimar e Lena
Coelho, Alfredo e Tatiana Dartibale, André e Juliana da Silva.
Em períodos onde houve a ausência de alguns missionários na
equipe, missionários de outras áreas colaboraram com o trabalho em Mucajaí.
Além disso, as pessoas que trabalham na base da MEVA, em Boa Vista, os gerentes
de compra e os pilotos de Asas de Socorro, desde o primeiro momento, estiveram
presentes e são parte importante nessa história.
A Deus toda a glória!
Carole Lee Swain, Jacqueline dos Santos e Maria Rosa Monte,
8 março de 2024.
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