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PRio Grande do Sul: a rebelião anti-estado chegou?
A tragédia no Rio Grande do Sul está iniciando um novo marco
na história recente do Brasil, talvez estejamos assistindo, onze anos depois,
uma nova versão do “não é pelos vinte centavos”. A lentidão, burocracia e
ineficiência estatal está cada vez mais visível e o cidadão cada vez mais
percebendo o quanto o Estado inchado é desnecessário.
Uma característica histórica do povo brasileiro é a sua
visão de que o seu governante deve ser um norte moral da nação. Apesar de muito
contestada, esta é uma herança do sistema monárquico brasileiro, sustentada
propositalmente pelos militares, responsáveis pelo golpe de Estado que
implantou a República em nosso país.
A República brasileira foi implantada por membros de um
inexpressivo partido republicano e por um pequeno grupo de positivistas
militares, que utilizaram de seu posto para mover tropas contra o Chefe do
Gabinete de Ministros e contra Dom Pedro II. Nesta ocasião muitos dos soldados
envolvidos não sabiam o real motivo de suas ações, mas estavam obedecendo ordens.
Dom Pedro II e Princesa Isabel, contavam com o apoio popular
na casa de 85%. A família Imperial fora expulsa do país na calada da noite, por
medo dos golpistas de enfrentarem uma revolta popular. Ao proclamarem a
república, não tiveram a coragem de declarar abertamente suas intenções
políticas e de organização do Estado brasileiro. Prometeram ao povo que seriam
consultados para ele decidir qual o regime político seria adotado, deixando
assim a possibilidade de retorno à Monarquia. Infelizmente, a promessa demorou
103 anos para ser cumprida e sabemos o final desta história.
Ao longo destes 103 anos, assistimos um regime falho, que
alterou a organização do Estado no segundo reinado de uma aristocracia, ainda
que falha, para uma oligarquia, caracterizada por um pequeno grupo de interesse
ou lobby que controla as políticas sociais e econômicas em benefício de
interesses próprios. Esses grupos monopolizam o mercado econômico, político e
cultural de um país, mesmo sendo a democracia o sistema político vigente.
Ao longo de 135 anos de República, o Brasil já passou por
diversos ditadores, constituições e Presidentes, mas os mesmos grupos e
famílias oligárquicas permanecem no poder, sempre oferecendo uma migalha
“democrática” do voto que, em um total de 513 deputados, o povo elegeu somente
28 diretamente pelo voto nas últimas eleições de 2022.
Este cenário, porém, vem mudando drasticamente na última
década no Brasil, e isto traduz profundamente o que esta acontecendo no Rio
Grande do Sul atualmente. O sistema republicano brasileiro sempre prezou pela
imagem de governo forte, centralizador e que era a coluna de sustentação do
povo, aquele sem o qual não seria possível a sobrevivência do cidadão comum. O
brasileiro foi doutrinado a enxergar o Estado como um pai que lhe oferece tudo
“de graça” e oferta todos os “direitos adquiridos” para o bem maior e proteção,
afinal, o Estado só quer o bem de seu povo.
Este processo politico-retórico, foi amplamente utilizado
pelos sub-grupos da oligarquia, como os sindicatos e a máquina estatal do
funcionarismo público. Para aumentar o alcance desta propaganda e visão de
nação, quase a totalidade de concessões de rádio e afiliadas de emissoras de
televisão no Brasil foram concedidas para membros da oligarquia, em boa parte
clãs familiares políticos.
Nos últimos dez anos, a tecnologia mudou drasticamente estes
dois pontos de controle estatal. A tecnologia possibilitou a criação de
diversos meios de trabalho antes inimagináveis, literalmente em todas as áreas.
Médicos que antes tinham como aspiração trabalhar com carteira assinada em
grandes hospitais, hoje atendem pacientes em qualquer lugar do mundo, de
qualquer lugar do mundo, sem a necessidade de um consultório fixo e ganham
muito mais por isso. Um operário, tão usado pelos marxistas, não precisa mais
da falsa luta de classes patrão-empregado, na qual os sindicatos eram os juízes
e operadores políticos dos oligarcas. O operário percebeu que mesmo sem os
“direitos adquiridos”, ele definia a sua carga de trabalho e conseguia ganhar muito
mais, que seu esforço ditaria o seu ganho. Em suma, deu-se conta de que não
precisava da tutela do Estado e da “proteção” da CLT.
Na outra ponta, as redes sociais retiraram o cabresto de boa
parte da população no campo da informação, criando a possibilidade de diversos
jornalistas independentes trabalharem sem a edição política das redações. A
população virou uma massa de repórteres amadores com um simples celular e o
trabalho de estabelecer uma narrativa central ficou bem mais difícil.
Como evolução natural deste processo, nos últimos anos
começou a tornar-se comum, notícias de iniciativas populares, em que um grupo
de cidadãos passaram a resolver os seus próprios problemas locais, sem esperar
pelo poder público. Construindo pontes, pavimentando ruas e tantos outros
exemplos.
Neste ano de 2024, estamos assistindo a uma das maiores
tragédias de nossa história, até o momento classificada como desastre natural,
mas com fortes indícios de negligência ou incapacidade estatal de evitar o
desastre. O mundo está comovido com a situação do Rio Grande do Sul.
Diante do desastre e a emergência, o enorme e burocrático
aparato estatal brasileiro mostrou-se lento no socorro nos primeiros dias de
caos, levando a iniciativa privada e a população a tomar a frente e trabalhar
para resolver o problema, mesmo que descoordenada, salvar milhares de vidas.
Para isso, contou com a tecnologia para receber apoio direto de brasileiros de
todos os lugares e de todas as formas, até mesmo localizando pelas redes
sociais quem estava necessitando de resgate e operando com grupos de resgate
locais.
Boa parte do trabalho foi realizada pela população civil,
pela união do povo e o censo de caridade cristã, tão presente no brasileiro.
Este cenário criou um grande problema para o poder público brasileiro: pois
através das redes sociais, foi possível para as vítimas do desastre mostrarem a
lentidão do gigante e burocrático Estado em resolver os problemas, e, da mesma
forma, o restante da população perceber o quanto ela estaria desamparada pelo
Estado em situação similar.
Não existe nada pior para o Estado do que a população
perceber o quanto ele não é necessário, ao menos na proporção ao qual se vende.
O povo do Rio Grande do Sul e brasileiros que se deslocaram para a região
conseguiram criar meios de ação e diversas áreas: saúde, abrigos, alimentação,
resgate e acredite, segurança pública. Em meio as enchentes, moradores criaram
grupos armados para combater os grupos criminosos.
Para piorar a situação, a burocracia estatal, além de lenta,
passou a atrapalhar o processo, com caminhões com doações sendo multados por
não terem a Nota Fiscal das doações ou por estarem acima do limite do peso.
Este caso que gerou o primeiro grande embate do poder público e das militâncias
de redação contra o povo. Uma extensa campanha de lavagem cerebral foi
iniciada, classificando toda e qualquer denúncia como fake News, que estão
custando vidas. O governo, emite ordens de investigação e criminalização de
cidadãos comuns por suas opiniões e ações de apoio à população.
A rede Globo de Televisão, faz coro à perseguição estatal,
mas a cada falsa acusação, em menos de vinte quatro horas era desmentida. A
situação do Estado tornou-se tão crítica, que passou a apelar por diversos
meios a uma urgência para regular os meios de comunicação. Pois precisa,
segundo a sua retórica, salvar vidas das pessoas contra as milícias digitais.
Indo além do desastre no Rio Grande do Sul, o governo, desde
o primeiro dia de sua administração, está trabalhando para retirar a sua independência
laboral, atuando de todas as formas acabar com o trabalho independente e voltar
ao cabresto dos sindicatos e alimentar o leviatã faminto dos impostos. Para
isso dá o nome de defesa dos direitos do trabalhador.
A verdade é justamente o inverso, o Estado brasileiro e o
discurso populista do PT está sob escrutínio, mais do que isto, a oligarquia
brasileira precisa salvar-se das mãos desacorrentadas do povo brasileiro. Como
ousam sentirem-se livres do controle estatal e dos grupos de interesses que
sempre cuidaram do povo?
O brasileiro, cada vez mais, está sentindo o ar da liberdade
batendo em seu rosto, está gostando disto e assustando o Estado, que
desesperado, tenta de todas as formas convencer a população do quanto é
necessário, nem que para isso seja com uma chibata na mão e repressão. É
preciso silenciar, reprimir e oferecer salvação, pois o povo não sabe o que
quer, porque não ouve o que precisa saber, e meus caros… o povo está ouvindo e
vendo o que precisa saber.
Paulo Henrique Araujo
Analista político, palestrante e escritor; é o fundador do
portal PHVox e também apresenta os programas ao vivo em nosso canal do YouTube.
É um estudioso da história brasileira, principalmente referente ao período
colonial e monárquico, e da geopolítica latino-americana.
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