Dias Toffoli
O cínico ex-advogado do Ladrão dá sobejas mostras de seu mau caráter,
contando com a omissão da Côrte.
Excelente editorial! Forte e corajoso, como deve ser, e sem
aquela terrível mania de elogiar antes, como se fosse necessário pagar tributo
para poder criticar. Leiam! 👇
OPINIÃO DO ESTADÃO
*A realidade alternativa do sr. Dias Toffoli*
23/05/2024
“A fábula sobre a Operação Lava Jato a que o ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli tem se dedicado a escrever nos
últimos meses ganhou mais um capítulo anteontem. Monocraticamente, como se
tornou habitual, o ministro declarou a “nulidade absoluta” de todos os atos
processuais e investigações em desfavor de ninguém menos que o notório
empreiteiro Marcelo Odebrecht, uma das figuras mais identificadas com o esquema
do “petrolão” do PT.
De antemão, é preciso registrar que, fosse Dias Toffoli minimamente
cioso das obrigações que as leis, a ética profissional e o senso de decência
impõem à toga, ele não deveria assinar uma lauda sequer em processos envolvendo
a Novonor (antiga Odebrecht) ou seus altos executivos, por absoluta suspeição.
Como é público, Marcelo Odebrecht já identificou Dias Toffoli, em depoimento
oficial, como sendo “o amigo do amigo de meu pai”, numa referência ao
presidente Lula da Silva, à época investigado no âmbito da Lava Jato, e ao pai
do empresário, Emílio Odebrecht – de fato, um amigo de longa data do petista.
Mas, ignoradas essas barreiras legais e éticas para atuar no
caso, o céu se tornou o limite para a imaginação fértil do sr. Dias Toffoli,
como o ministro demonstrou ao longo das 117 páginas de sua decisão. Nessa peça
de realismo fantástico, o mesmo Marcelo Odebrecht que se notabilizou por seu
envolvimento direto e abrangente no maior esquema de corrupção de que o Brasil
já teve notícia seria, na verdade, uma pobre vítima da truculência do Estado a
merecer o amparo da mais alta instância do Poder Judiciário.
Como a realidade factual é irrelevante para quem está
empenhado em acomodar a História em sua agenda de ocasião, o ministro Dias
Toffoli não pareceu constrangido com o fato de que Marcelo Odebrecht confessou
a prática dos crimes dos quais foi acusado – em particular, o pagamento de
propina para ao menos 415 políticos de 26 partidos. Espancando a lógica, o
ministro manteve hígido o acordo de colaboração premiada assinado pelo
empresário em seus bônus, mas tornou inválidos os seus ônus.
Zombando da inteligência alheia – ou simplesmente dando de
ombros para os fatos –, Dias Toffoli quer que a sociedade acredite que um dos
mais bem-sucedidos empresários do País, assessorado, portanto, por uma equipe
de advogados altamente qualificados, teria sido alvo, ora vejam, de um
“incontestável conluio processual” engendrado pelo então juiz Sérgio Moro e
membros da força-tarefa do Ministério Público Federal em Curitiba (PR). E tudo
isso com o objetivo de cercear “direitos fundamentais do requerente (Marcelo
Odebrecht), como, por exemplo, o due process of law”. Tenha paciência.
Dito isso, por mais relevante que seja a participação
individual do ministro Dias Toffoli nessa cruzada revisionista da Operação Lava
Jato, seu papel é menos importante e nefasto para a institucionalidade
republicana do que a omissão de seus pares no STF. Desde setembro de 2023, Dias
Toffoli tem tomado uma série de decisões monocráticas em favor de empresários
que confessaram graves crimes. E o fizeram não porque foram submetidos a uma
terrível violência patrimonial e psicológica por agentes do Estado, mas porque
foram espertos para identificar um bom negócio – os acordos de leniência e de
colaboração premiada – quando estiveram diante de um.
Nenhuma dessas decisões tem sido escrutinada pelo STF como
instituição colegiada. E é crucial para o País que o sejam o mais rápido
possível. Só o plenário da Corte será capaz de sopesar as ilegalidades
cometidas durante a Lava Jato e suas reais implicações nos casos individuais.
Se depender apenas de Dias Toffoli, a criança será jogada fora com a água do
banho.”
www.estadao.com.br/opiniao/a-realidade-alternativa-do-sr-dias-toffoli
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