O
eurasianismo de Dugin e o cristianismo
Recentemente,
foi publicado um artigo no site do Nova Resistência (NR), que é uma voz de
Alexander Dugin e de Putin no Brasil e América Latina. O NR é um grupo que
ganhou bastante relevância nesses últimos anos e do qual nós vínhamos
comentando há um bom tempo quando falamos do eurasianismo. Em outras
oportunidades, comentei sobre o NR ter estruturado Think Tanks, sobretudo nas
universidades, inclusive na Universidade de São Paulo (USP), onde o próprio
Dugin teve amplo espaço para palestrar, espalhar as suas ideias, especialmente
a sua tese da Quarta Teoria Política, que é o carro chefe ideológico do ideólogo
Russo. Como não poderia ser diferente, esse pessoal começou também a ganhar
muita relevância, uma certa importância após as discussões sobre revolução
globalista ou da agenda woke, que é naturalmente a retórica, base para
Alexander Dugin, de que o Ocidente atual é o resultado de uma revolução
liberal, de uma revolução progressista, de uma revolução, digamos assim,
“exotérica”, no sentido dado pelo sufi muçulmano René Guénon, um dos
inspiradores de Dugin.
Para
Dugin, o Ocidente contemporâneo não passa de uma mescla de liberalismo,
cientificismo, individualismo e todas essas correntes liberais que fizeram com
que se afastasse da Tradição Primordial ou do arcaísmo tradicionalista, tal
como Dugin defende em seu livro A Quarta Teoria Política. Portanto, este movimento
começou a ganhar muitos adeptos, incluindo ortodoxos, muçulmanos e católicos.
Dirijo-me aqui especialmente aos católicos.
Essa
ideologia propõe uma mescla arcaísta de que o Império Russo teria todas as
respostas para a degradação ocidental. Assim, Dugin caracteriza o Ocidente como
o grande inimigo, o atlantismo, isto é, os povos marítimos contra os povos da
terra. Ele propõe a guerra dos continentes contra o Ocidente em um verdadeiro
“sincretismo” para destruir a civilização ocidental. Para ele, os países
ocidentais são a força que impede a ascensão de um grande império
tradicionalista, de um império gnóstico, termo que ele mesmo acaba utilizando
em diversos de seus textos. Seus seguidores são gnósticos e teriam a resposta
para o problema do mundo que é, naturalmente, o Ocidente. Ou seja: desejam
subjuga-lo, destruí-lo, modificá-lo sob a égide do Grande Império Eurasiano, da
grande multipolaridade que, na verdade, seria comandada pelos iluminados, pelos
baluartes russos.
Dessa
forma, em sua ideologia Dugin se vale de tudo o que é ou aparenta ser
anti-ocidental, em uma mistureba que representa nada mais do que ele próprio
chamará de “via da mão esquerda”, que é a via revolucionária utilizada contra o
Ocidente. Para tudo isso, os duguinistas se utilizam de algumas proposições
católicas fazendo valer a retórica para conseguir mais adeptos à causa. Eles
estão fazendo isso de uma maneira muito sedutora, que tem, sim, conseguido
angariar incautos, angariar militantes para sua causa. Isso porque a Revolução,
como sempre gosto de dizer, é muito sedutora, vem com proposições messiânicas,
embelezadas, envernizadas através da linguagem. São belíssimas e vêm com uma
carga moralizante muito alta. Para eles, o Ocidente representa a imoralidade, a
Revolução Liberal pós-moderna, a degradação da família, a degradação da pessoa
humana, da sociedade, das instituições, enfim, de tudo. Então, dizem eles,
precisaríamos de uma revolução, mas sobretudo de cunho moral. Nós
precisaríamos, concluem, de uma espécie de ditadura global que tivesse esse
apelo moralizante para que os globalistas sejam destruídos de uma vez por todas
e possamos finalmente viver a tradição. Este apelo é muito forte e vem daqueles
que se apresentam como os que estão vendo, de fato, o problema da degradação.
Depois
de tantas revoluções, eles concluem que a Igreja não é mais a Igreja, que a
civilização não é mais a civilização e que nós não somos mais os mesmos.
Portanto, nós não poderíamos, de forma alguma, resgatar nenhum senso de
moralidade, de objetividade, um senso metafísico, já que nós vivemos no puro
materialismo liberal e que, sendo assim, tudo está perdido. A não ser o grande
império Russo, que promete ser um império messiânico. Para isso, os duguinistas
da Quarta Teoria Política precisam angariar indivíduos incautos que estejam,
pelo menos, o mais próximos possível daquilo que eles acreditam ser a tradição
ocidental por excelência, isto é, o catolicismo.
René
Guénon dizia que o catolicismo já não era mais suficiente para salvaguardar o
Ocidente e que a Igreja deveria ser submetida aos sábios orientais, sobretudo
ao sufismo islâmico, os esotéricos islâmicos. Essa era uma das principais teses
de Guénon. Há outras, porém, que Dugin também se vale de Guénon, mas se
distingue do sufi francês quanto aos meios de ação para executar o objetivo
expresso em suas teses
Por
exemplo, Dugin não vai concordar com Guénon no que se refere ao chamado
“caminho ou via da mão direita”, opção de Guénon, considerado um “caminho
soft”, um caminho leve, o caminho da iniciação. Guénon era completamente
crítico ao caminho religioso [exotérico, público]. Ele sugeria o caminho da
iniciação por meio de uma sociedade secreta, um grupo esotérico, como o
principal método para adquirir o “conhecimento superior”. Ou seja, para Guénon
a gnose era necessária para a iluminação que iria retirar o indivíduo da
alienação. Contra isso, Guénon sugere um caminho messiânico de destruição
daquilo que ele chamava, no livro A Crise do Mundo Moderno, de Kali Yuga, uma
era de escuridão em que vivemos, segundo ele, há 6 mil anos. Podemos apenas
imaginar o nível da presunção destes intelectuais.
Estaríamos
há mais de 6 mil anos, isto é, toda a história da civilização, passando
obviamente pela Encarnação do Verbo, a Revelação, a Igreja. Ainda assim, para
Guénon, tudo isso não passou de puro exoterismo, um caminho inferior e
alienante ou até mesmo de anti-tradição pura e simples.
Para
Guénon, tudo o que houve depois das civilizações mais primitivas, mais arcaicas
da humanidade, e que segundo ele tinham contato direto com uma Tradição
Primordial, tradicionais em plena excelência, a “idade de ouro” etc, – fora
disso é anti-tradição exotérica. Isso quer dizer que, se nosso tempo tem mais
de 6 mil anos, tempo de toda a história ocidental, incluindo a Santa Igreja
Católica, deve ser de alguma forma superado para que a humanidade retorne a um
estado adâmico ou pós-adâmico dos primeiros tempos primordiais. Em suma, é isso
o que defende Guénon. Se isso já é preocupante, Dugin vai defender o mesmo, só
que em outra via, a via revolucionária, a via da destruição, da guerra entre
continentes e entre civilizações inteiras.
Mas,
para tudo isso, eles precisam de proposições católicas para angariar militantes
desavisados.
Em seu
artigo, o Nova Resistência procura estabelecer uma relação do cristianismo com
a Quarta Teoria Política, acreditando piamente que é possível, considerando
estes pressupostos que coloco aqui. Como tenho explicado, Dugin vê a sua Quarta
Teoria Política como a descoberta desse conhecimento superior a dogmas,
superior à tensão existente entre sujeito e objeto, e até mesmo superior à
tensão existente entre pessoas. Porque para ele, assim como para todo gnóstico,
existe um núcleo dentro de nós que vai para além do que é historicamente
condicionado, ou seja, da tensão espaço-temporal existente entre sujeito e
objeto. É como se tivéssemos, dentro de nossas propriedades pessoais, uma
substância, uma centelha, que faz com que sejamos superiores a todas essas
tensões e alcancemos, dentro de nós e de nosso espírito, uma identificação com
a própria divindade.
Sobretudo,
Dugin acredita que sua Quarta Teoria Política é precisamente este conhecimento
superior. Tanto é que, como nós veremos, em seu livro ele utiliza o termo
“detentores da quarta teoria política”. Não é que ele diz: “aqueles que estudam
a quarta teoria política” ou aqueles que “entenderam a quarta teoria política”,
mas os “detentores da quarta teoria política”. A quarta teoria política, para
Dugin, é a própria gnose.
Já o
catolicismo, a Sã Doutrina Católica, é um edifício lógico-dedutivo integral e
único, e que tem o seu completo sentido nos dogmas proclamados. Afinal, o que
são os dogmas? Os dogmas são conclusões definitivas à luz daquilo que foi
revelado por Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo. São proposições
lógico-dedutivas integrais que protegem, que dão realmente o sentido racional
aos feitos, às ações de Nosso Senhor e aos Seus ensinamentos. Os dogmas são a
doutrina deixada por Ele. Ou seja, os dogmas não são criações a posteriori,
criações humanas. Mas quando nós temos, por exemplo, o Dogma da
transubstanciação, entendemos porque Cristo, na Última Ceia, deixou-nos a
Eucaristia, na qual Ele transforma o pão em seu corpo e o vinho em seu sangue.
É, portanto, através do dogma que nós entendemos que naquele momento temos o
corpo, sangue, alma e divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo presente nas
substâncias. Ele é quem transforma as substâncias porque Ele é Deus mesmo. Ele
é o Logos. Ele é o criador da matéria. Isso Ele fez realmente.
É,
portanto, através dos dogmas que nós entendemos isto. Mas quando Dugin diz que
os “detentores da Quarta Teoria Política” têm a permissão de ignorar os
elementos dogmáticos, é como se ele estivesse colocando o indivíduo, a pessoa,
acima até mesmo da transubstanciação divina. Como nós podemos ignorar algo como
a transubstanciação? Sobretudo para um católico. Isso já nos parece muito
esquisito no mínimo.
A
ignorância formal, ou seja, virar as costas formalmente para este Dogma é uma
heresia formal. Nós estamos negando uma verdade de fé. Isso é heresia. Mas
Dugin está dizendo que o indivíduo “detentor da Quarta Teoria Política” é
superior aos “dogmas historicamente condicionados”, da mesma forma que Guénon
defendia sobre o indivíduo iniciado. Observe, portanto, a pretensão desses
indivíduos.
No
entanto, eles querem afirmar que há uma relação íntima com o cristianismo. Por
que eles querem fazer isso?
Importante
aqui recordar da excelência dos teólogos, santos e doutores da Igreja, em
utilizar com maestria os discursos potenciais da lógica. A Igreja foi muito
sábia desde o início dos tempos, pois os primeiros padres da igreja, ou seja,
os pais patrísticos, depois disso os escolásticos, os doutores, nos mosteiros
etc, todas as instituições de educação, foram sábios o suficiente para
aproveitar o que havia de melhor na filosofia pagã. Filosofia oriental,
filosofia grega, filosofia romana, sobretudo o Direito. Eles sintetizaram tudo
isso na doutrina católica, que é o que de fato fez o Ocidente. Foram muito
sábios nisso, apoiados nessas filosofias, que de fato eram pagãs. Entretanto,
essas filosofias representavam o melhor do conhecimento humano até aquele
momento. Os santos e doutores da Escolástica souberam fazer sínteses com a
Revelação, a doutrina deixada por Nosso Senhor Jesus Cristo, que foi passando
através da sucessão Apostólica, e, sobretudo, da Didaqué, por exemplo, que foi
o nosso primeiro catecismo. A Didaqué foi importantíssima para os primeiros
cristãos, pois foi o ensinamento próprio dos Apóstolos. Eles foram se
utilizando desses elementos no início, principalmente para defender a Igreja
dos seus adversários.
Contra
os inimigos internos, os hereges, os teólogos notaram que, se não tivessem
conhecimentos daquelas filosofias, não seriam possíveis os grandes embates e os
grandes concílios dos primeiros séculos, baseados nas Sagradas Escrituras, isto
é, tudo o que forma a Santa Igreja Católica. Eles combatiam os hereges e suas
interpretações apócrifas.
Dugin é
um dos gnósticos que repetem muitos dos escritos apócrifos dos primeiros
séculos, porque, para os gnósticos, os apócrifos são os ensinamentos que a
Igreja de Roma, como eles gostam de chamar, teria escondido da humanidade.
Então eles invertem o processo. Para eles, a Igreja escondeu os apócrifos da
humanidade, um argumento que vemos, por exemplo, no Código Da Vinci. O que é o
Código Da Vinci? É nada mais que isto, ou seja, um resgate de interpretações
apócrifas acusando a Igreja de esconder a verdade da humanidade ou “os grandes
segredos do Vaticano” que eles adoram.
O que
são os grandes Segredos do Vaticano? Ora, são os livros apócrifos que a Igreja
teria negligenciado à humanidade, mas por que? Porque ali havia ensinos
gnósticos. Mas qual ensinamento gnóstico? De que Judas Iscariotes tinha um
evangelho. De que a verdade é que Jesus induziu Judas Iscariotes a traí-Lo para
que Ele pudesse mostrar às pessoas que o mundo é mau (crença gnóstica maniqueísta).
Ou que, na verdade, o verdadeiro profeta não foi Nosso Senhor Jesus Cristo, o
verdadeiro profeta teria sido João Batista, responsável por apresentar as boas
novas, que são o anúncio da gnose.
Para
esses hereges, João Batista teria sido um iluminado gnóstico. São essas
interpretações que eles acusam a Igreja de esconder da humanidade. Inclusive a
iluminação joanina, esta tese gnóstica de que o verdadeiro profeta foi São João
Batista, tem muito a ver com esse messianismo e esse historicismo das ideologias
modernas. Porque, para eles, a consumação humana não se dá na Jerusalém
Celeste. Eles acreditam naquele historicismo, de que tudo irá culminar nas
teses cabalistas de Joaquim de Fiore, de que o fim devido da história é
imanente, a partir da “era do amor”, o último império, o último baluarte humano
que trará novamente ao homem o estado adâmico no aqui e agora.
No
entanto, após nosso Senhor Jesus Cristo, e através das Sagradas Escrituras,
principalmente do Livro do Apocalipse de São João, sabemos que o fim devido do
homem é transcendente e que não há um fim imanente. Após a Encarnação do Verbo,
tudo isto acabou. Estas interpretações não têm mais sentido de ser, ainda mais
para um católico. Isto tudo quer dizer que a participação de um católico numa
luta ideológica secular é, na verdade, o caminho perfeito para a perdição de
sua alma. Mas eles pegam proposições católicas, fazem analogias absurdas. Por
quê?
Eles
recortam partes da doutrina e isto é exatamente o trabalho de todo ideólogo. O
que é o ideólogo? É quem dá hipertrofia ao discurso retórico. Ele é um sofista.
Ele recorta uma parte da doutrina católica que interessa a ele, sistematiza com
as suas proposições absurdas e defende que as suas proposições, a sua
ideologia, não estão contra, formalmente, à doutrina católica. E que,
sobretudo, ele tem a pretensão até mesmo de reformular a doutrina católica e de
corrigi-la. Ora, se a doutrina católica é incompleta, se ela está errada, então
quer dizer que Nosso Senhor Jesus Cristo mentiu para nós. Se Nosso Senhor Jesus
Cristo mentiu para nós, o próprio Deus mente. Se o próprio Deus mente, há uma
confusão no ser de Deus. Se, porém, há uma confusão no ser de Deus, o que nos
resta é deduzir que Deus Criador é mau. Ele nos engana. Esta é a própria
proposição demiúrgica. É o que fazem todas as heresias.
A
teologia da libertação faz a mesma coisa. A teologia liberal faz isso, a
teologia Modernista faz isso, a teologia dos maniqueus fez isso. E a metafísica
duguista faz isso. Tenta corrigir a doutrina católica.
Mas eles
agem sempre, como não poderia deixar de ser, dialeticamente. Ou seja, ao mesmo
tempo em que ambicionam corrigir a doutrina, essa pretensão de corrigir a
doutrina, eles negam a doutrina. Porque o principal inimigo deles é a Santa
Igreja. Então, eles atuam nesses fronts. O front da infiltração e o front da
destruição. Uma infiltração que busca modificar a doutrina católica de dentro
para fora e, ao mesmo tempo, destruí-la. Então eles atuam dialeticamente nesses
dois sentidos.
Dados
estes pressupostos, podemos comentar mais diretamente o artigo do sr. Marden
Samuel disponível no portal Nova Resistência, voz ativa – como dito – de
Alexandr Dugin e sua ideologia nefasta na América Latina.
O autor
divide o artigo em três tópicos: anti-nacionalismo, anti-capitalismo e
“comunismo cristão” e anti-individualismo. No primeiro, Marden argumenta que o
cristianismo rompe a barreira da lógica racial do judaísmo, adquirindo uma
perspectiva universalizante nas próprias palavras de Cristo: “Portanto, ide e
fazei com que todos os povos da terra se tornem discípulos, batizando-os em
nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. No segundo, argumenta que o
cristianismo é uma oposição muito forte a uma ideia às riquezas e adere
fortemente a uma ideia anti-elitista, mostrando que o Evangelho vai na contra
mão da visão capitalista moderna e da direita liberal-conservadora. E, no
terceiro, o cristianismo rompe com a ideia da noção de “indivíduo” e/ou
“individualismo”, pois, na Igreja, havia tão somente a ideia de comunidade eclesiástica,
irmandade, comunidade, corporação, fundamentada na noção da Presença Real na
Eucaristia.
Portanto,
Dugin, ao estruturar a QTP, apoia-se em sua fé Ortodoxa e está completamente
condizente com o cristianismo, segundo o autor. Mas, será?!
Não é
preciso uma pesquisa tão profunda para refutar esses paralelismos absurdos
entre Dugin e o catolicismo. Em seu texto intitulado “O Gnóstico”, Dugin propõe
a Via da Mão Esquerda, puramente esotérica e revolucionária, para destruir a
Idade histórica atual – da qual considera a Idade da Escuridão, seguindo a
análise dos ciclos históricos de René Guenon, completamente estranha ao
Cristianismo –, assim também declara que “os gnósticos se manterão firmes em
seu trabalho de vida…”. Somente nisto – e tão somente NISTO – já poderia
finalizar meu comentário a este artigo um tanto quanto “duvidoso”. Contudo,
posso ir mais além!
Em seu
próprio livro, A Quarta Teoria Política, Dugin afirma categoricamente que os
adeptos de sua teoria (portadores, para ser mais exato) estão “livres para
ignorar aqueles elementos teológicos e dogmáticos, que foram afetados pelo
racionalismo nas sociedades MONOTEÍSTAS…”. Assim também defende uma
fundamentação sociológica baseada em Martin Heidegger – em seu Dasein – que
afirma que cada sociedade é uma sociedade em si. Ou seja, ela é tradicional e
legítima apenas por existir e não deve ser alterada por elementos universais,
separando-se essencialmente dos ensinamentos da Igreja Católica da qual o autor
do artigo diz haver relações íntimas com a QTP. Além disso, Dugin, afirmando-se
sem sombra de dúvidas um gnóstico (influenciado por René Guénon, Julius Evola,
Titus Burckhardt, entre outros), segue o ensinamento mister da gnose ao
distinguir Cristo da Divindade. Para Dugin, o relacionamento mais íntimo com
Cristo é historicamente condicionado, enquanto com o Absoluto não requer nenhum
intermediário, pois em cada sujeito há uma centelha divina que se é possível
alcançar a identificação. Ora, isto foge claramente do ensinamento da Igreja quanto
à substancialidade da Eucaristia. Fora que o “católico” Dugin, foge formalmente
da doutrina dos dois gládios, sujeitando a autoridade espiritual da Igreja ao
leviatã temporal numa mescla modernizante na forma de um Império apocalíptico.
Meus
caros, creio que somente por esses elementos que consigo resumir rapidamente,
vemos como as ideologias gnósticas pervertem a verdade e sujeitam seus adeptos
às mentiras mais sistematizadas e ridículas! Quem de fato quer viver uma vida
católica deve perceber essas mentiras que são contadas com ares de esperança e
alento diante de um mundo “pós-moderno” e “decaído”. As ilusões da serpente
nunca estiveram tão ardilosas…
Para
vocês terem noção do quanto Dugin é ANTI-CATÓLICO, em sua teoria chamada
Noomachia, Dugin AFIRMA:
“Cheguei
à conclusão de que há algo além desses dois Logos, que existe um terceiro. Além
do Logos Dionisíaco, algo mais está oculto. Na sombra de Apolo há Dionísio, mas
na sombra de Dionísio há outro. Eu o chamei de Logos de Cibele.[…] Cibele é o
nome de um deus anatólio muito antigo, a Grande Mãe dos Hatti, um povo
pré-indo-europeu muito especial que vive na antiga Anatólia antes dos hititas,
que mais tarde adotaram essa divindade, integrando-a em seu panteão religioso.
Depois deles, o culto a Cibele também foi desenvolvido pela população
indo-européia dos frígios, cuja deusa principal era precisamente a “Grande
Mãe”. O culto da Grande Mãe foi baseado na castração ritual do homem. Os
sacerdotes de Cibele foram castrados tornando-se eunucos e isso fazia parte da
grande visão do matriarcado, do reinado da Grande Mãe, onde o papel do homem é
completamente diferente do que sabemos. Uma posição completamente diferente da
posição dionisíaca, já que o culto a Dionísio era o centro atraente dos
bacantes, das mulheres, mas também dos homens, e, nesse caso, é o homem no
centro da existência humana.”
Algum
católico dirá que na teoria gnóstica do Eterno Feminino há algo de verdadeiro?
É
EVIDENTE que o eurasianismo duguinista é a velha ação da serpente de parodiar o
catolicismo utilizando-o como ponta de lança para enganar incautos e
emocionados que apostam suas vidas e suas almas numa salvação secular e
imanentista.
Daniel
Ferraz
Católico.
Autor do livro "Línguas de Fogo".
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