Caruru e Carurus
O caruru
é uma comida consagrada na cultura de matriz africana. Ele é feito com quiabos,
azeite de dendê, camarões defumados; e nos temperos há o destaque para o
gengibre.
O caruru
é também um banquete na tradição ioruba que é dedicado aos Ibejis, gêmeos
protetores das famílias, das localidades, verdadeiros ancestrais que são
responsáveis pela fertilidade de mulheres que desejam ter filhos.
Assim, de
uma maneira ampla, os Ibejis passam a ser os protetores das crianças e, em
especial, das crianças gêmeas, que são interpretadas segundo a tradição ioruba
como uma marca sagrada.
foto de
Jorge Sabino
O caruru
dos Ibejis, popularmente conhecido como caruru de Cosme, caruru das crianças,
caruru de dois-dois, traz o sentido da dupla, que reúne o masculino e o
feminino.
Além de
ser uma comida consagrada, o caruru nomina um conjunto de comidas que formam um
cardápio nas festas, nas casas, nos terreiros de candomblé, nos mercados e nas
feiras.
A festa
do caruru cria uma verdadeira mobilização de milhares de pessoas para
homenagear os Ibejis, que no processo da história religiosa afro-brasileira com
a Igreja são representados pelos santos São Cosme e São Damião, por meio do
oferecimento de comidas que têm como destaque o quiabo e o dendê, e dessa forma
louvam e agradecem aos santos gêmeos.
Esta
festa-obrigação, o caruru, é um amplo banque feito à base de azeite de dendê:
acarajé, abará, vatapá, caruru; efó, farofa de dendê, xinxim de galinha; além
de acaçá branco, rolete de cana, pipoca; cocada branca e preta; e, bebidas
doces e bem populares, como o vinho Moscatel; e o aluá, uma bebida artesanal
feita de rapadura e milho vermelho; e muitas outras comidas que fazem esta
celebração de sabores sagrados.
Na
comensalidade do caruru, que é uma festa, reúnem-se adultos e crianças; e
segundo a tradição, todas as comidas salgadas devem ser servidas em um único
prato, e assim as porções oferecidas são de uma colher de sopa para cada tipo
de preparo, porque este prato é uma verdadeira síntese do banquete ritual.
O caruru
de quiabo e dendê, consagrado enquanto um prato e denominação de uma
festa-banquete, são criações afrodescendentes. Isso mostra que há na
cozinha de matriz africana uma relação através desta nominação com os povos
nativos, pois o termo caruru é possivelmente indígena.
A palavra
caruru é também uma denominação para ampla variedade de tipos de folhas
comestíveis brasileiras. Caruru-rasteiro, caruru-de-porco, caruru-da-Bahia;
espécies também conhecidas como bredo, bredo-rasteiro. Todas estas folhas fazem
parte de preparos que integram um elenco de comidas verdes que estão nos
hábitos alimentares de muitos brasileiros. São espécies nativas que
mostram possibilidades de usos e formas de aproveitamento do que popularmente
se chama de “mato”.
Ainda,
pode-se dizer de algumas receitas tradicionais de caruru de quiabo são
acrescidas de bredo-de-santo-Antônio, ou outra folha, num preparo
essencialmente verde, sempre com azeite de dendê, e temperos como camarões
defumados e gengibre.
São
muitos os temas que trazem à boca este variado entendimento sobre o caruru, que
vai a mesa para revelar os estilos do brasileiro comer verde.
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